Unknown 9 Awakening é uma relíquia do passado com a ambição da modernidade. Temos aqui um jogo de furtividade e ação linear, que lembra em muita coisa Uncharted. Porém, este é também um típico passo maior que a perna. A Bandai Namco tinha uma enorme ambição narrativa multimídia para este universo, que agora simplesmente parece impossível de vingar.
Talvez antes de investir uma grana em contar uma história transmídia, valesse mais a pena ter investido mais no jogo em si, o que certamente o faria ter sido melhor recebido. Depois, talvez, seria a hora de expandir. Assim, começo esta humilde missiva dizendo que, sim, eu recomendo Unknown 9 Awakening. É o tipo de aventura linear roteirizada que quase não existe mais nos jogos em 2024, e eu valorizo isso. Porém, a verdade é que não é um jogo muito bom. Ele tem problemas, alguns graves, e embora lembre Uncharted em filosofia e visual, certamente não o faz na qualidade de suas mecânicas.
REVIEW UNKNOWN 9 AWAKENING
A primeira coisa que me chamou a atenção em Unknown 9 é sua temática. Parte de sua história acontece na Índia, e é inspirada pelo folclore daquela região. Isso é fantástico. Com tantos jogos que acontecem em Nova Iorque e em Londres, tem um monte de lugares, culturas e mitologias sub-representadas nos videogames. E a indiana sem dúvida é uma delas. Espero que um dia consigamos expandir isso para povos que não são tão comuns nos EUA quanto os indianos e os mexicanos. Sim, Brasil está na minha mente, mas também tem muita história a ser contada em países como Argentina ou Chile que quase não apareceram nos videogames.
Apesar de bacana e perfeita para um videogame, a temática de Unknown 9 não foi criada para o jogo, mas para um livro chamado The Nine Unknown, escrito por Talbot Mundy e publicado em 1923. Eu sinceramente preferia que fosse uma história criada para os games, até porque em matéria de história, o jogo é bem básico. O bacana mesmo é a mitologia e a ambientação.
E O GAMEPLAY?
Unknown 9 Awakening é um jogo de ação linear, com forte foco na furtividade. E digo isso porque o combate aberto simplesmente não é muito bom. Você ataca com socos e superpoderes, mas na dificuldade padrão sempre se sente em desvantagem. Em compensação, quando escondido você realmente se sente um super-herói.
Seus poderes são muito mais focados em enganação e furtividade do que em combate aberto. Dá para possuir inimigos, arrancar a alma dos desafetos e jogar pedrinhas espirituais para movimentá-los até onde você deseja. Não chega a ser o caso de um Hitman, em que ser visto é morte certa. Porém, o combate simplesmente não é tão gostoso.
OS NOVE POSSUÍDOS
O que mais gostei além de arrancar almas foi possuir os desafetos. Fazer isso congela o tempo e te permite movimentar um dos inimigos e fazer um único ataque com eles. Normalmente estes ataques são em área, então é muito gostoso atacar um inimigo, pular para outro que está longe, trazê-lo para a área, acrescentar mais um ataque e assim sucessivamente até terminar sua energia de possessão. Daí você volta para o seu corpo e observa a destruição. Se isso for feito antes de você ser visto, é muito engraçado ver os sobreviventes discutindo. “Por que você fez isso?”, “Não sei”.
Isso pode e deve ser utilizado também durante o combate aberto. Deve, porque seus ataques normais são bem mais fraquinhos. Em compensação, uma sequência de possessões pode exterminar vários inimigos em segundos, enquanto sair na porrada com eles levaria vários minutos e você teria grande chance de sair da luta morto.
UNKNOWN 9 E O AA
Unknown 9 lembra muito os jogos AA de outrora. Apesar de ser em 3D, ter cutscenes animadas e faladas e tudo que se espera de um jogo de alto orçamento, ele carece de polimento. Tem muita coisa aqui que vai do quebrado ao irritante. Por exemplo, em determinado ponto da campanha, minha companheira parou num caminho estreito e não me deixava passar. Quando tentava atravessar, ela falava “com licença” e “olha onde anda”, mas simplesmente não saía da frente. Precisei reiniciar o checkpoint.
Este é um problema que eu resolvi desde minha resenha de Uncharted 2 em 2009, mas que em 2024 finalmente temos jogos reais seguindo minha sugestão de quase 20 anos atrás (tirar o collider dos companheiros). Mesmo jogos AAA que se recusam a tirar o collider tentaram resolver isso programando os NPCs a saírem da frente, mas Unknown 9 nem isso fez.
Também há outros problemas que já foram perfeitamente solucionados em jogos modernos. Mudar a dificuldade a qualquer momento, por exemplo, é algo comum nos poucos games que têm opções de dificuldade hoje em dia. Mas aqui você precisa escolher antes de começar a campanha e fica preso na que escolheu a não ser que inicie outra.
UNKNOWN 9 E O VISUAL DESCONHECIDO
Isso se reflete no visual. Unknown 9 tem um monte de paisagens e cenários impressionantes. E também tem um monte de momentos em que os gráficos simplesmente não são bons o suficiente. Na verdade, pela quantidade de detalhes e resolução, seria esperado que rodasse a 60 fps, mas não é o caso.
Unknown 9 tem muitos predicados. Mas a verdade é que tem uma quantidade semelhante de defeitos, problemas e estranhezas. Faz sentido que ele tenha tido uma recepção tão fraca, uma vez que o jogo realmente carecia de maior polimento e melhorias esperadas para algo com tamanha ambição transmídia.
A RECEPÇÃO FRACA DE UNKNOWN 9
Politicamente, eu gosto muito do que Unknown 9 faz. Estou tão acostumado com jogos abertos e metroidvanias, que realmente estranhei quando me toquei que um colecionável que não conseguisse pegar na oportunidade certa ficaria perdido para sempre. Isso pode ser um inconveniente, mas a verdade é que a campanha com timing dirigido, que sempre te leva para frente, é extremamente valiosa, e sinto muita falta de mais jogos assim em 2024.
Assim, temos uma campanha com problemas, alguns bem graves. Temos um combate que simplesmente não é tão gostoso quanto o de outros jogos de ação. Mas a stealth é realmente boa, a exploração é bacana e os cenários muitas vezes são impressionantes. Unknown 9 é um jogo que respeita seu tempo, e que está sempre apresentando coisas novas para fazer, conhecer e explorar. E isso é valioso quando você é um pai de família que não tem tempo para limpar mapas maiores que a França. Então eu recomendo esta aventura para quem sente falta de jogos narrativos mais no estilo de um Uncharted, mas entre nessa sabendo que a qualidade simplesmente não é tão alta por aqui.