Enotria The Last Song ficou famoso por dois motivos. O principal é que ele prometia ser um soulslike ensolarado, uma diferença bem grande das civilizações destruídas e primordialmente noturnas que habitam o gênero. A segunda é que foi mais um exclusivo de Playstation que a Sony não precisou fazer nada para ganhar. O jogo saiu para PS5 e Windows e teve seu lançamento no Xbox adiado por causa de problemas de otimização no Series S.
Pois veja só, eu estou com uma cópia de Windows desde antes do lançamento original. Mas a combinação “preguiça de jogar no PC + braço quebrado” foi demais para mim. Quando ele saiu para Xbox, vi uma boa possibilidade de tirá-lo da minha pilha da vergonha jornalística. E cá estamos.
Enotria é um soulslike acessível
Foi ótimo ter esperado tanto. Originalmente peguei Enotria no Windows porque não quero mais lidar com a falta de acessibilidade do gênero. Mas depois do lançamento, a desenvolvedora colocou uma dificuldade mais baixa, que deixa o game bem mais agradável. Talvez ele seja menos acessível do que um game mainstream, mas certamente é muito mais gentil e menos repetitivo do que outros soulslikes, pelo menos na dificuldade “modo história”.
De resto, Enotria é bastante tradicional. Por exemplo, apesar de não ter nenhuma funcionalidade online, o jogo não tem pausa só pra ser babaca. Mas tem também o lado positivo. Você sabe que, embora eu tenha minha diferenças políticas com soulslikes, adoro o gênero. E Enotria certamente coçou minha coceira.
Um soulslike diferente
Enotria começa com um dos piores tutoriais que eu já vi. Uma infinidade de mensagens, explicando um milhão de mecânicas fazem o jogo parecer tão complicado que eu quase desisti aí mesmo. Felizmente, ele é muito mais familiar do que parece a principio.
Seu principal gimmick são as máscaras. Cada máscara afeta a roupa que o personagem usa e algumas habilidades passivas, além de o jogo possibilitar três loadouts diferentes. Você pode, por exemplo, montar um loadout equilibrado, um para magia e um tanque, e alternar entre eles com o toque de um botão. É interessante e imagino que isso possibilite alguns vídeos impressionantes com jogadores mais habilidosos do que eu. Eu, particularmente, não sou muito fã de customização extensa, então montava um loadout mais pau pra toda obra e usava apenas ele. Mas a mecânica está lá para quem quiser usar.
Um soulslike lite, mas não um soulslite
O uso da palavra lite aqui se refere especificamente à duração. Soulslikes costumam ser aventuras enormes, com dúzias de horas. Enotria, no modo história, pode ser terminado em apenas uma dúzia. Isso jogando com calma e explorando bem, mas sem tanta repetição causada por mortes.
As fases são interessantes, mas talvez um pouco abertas demais. Ha apenas três enormes telas, com um chefe principal no final, mas vários chefes no meio do caminho. Enotria é quase um boss rush. É comum ter dois ou três chefes em salas seguidas. Graças ao bode barbeado de Poseidon, os chefes vencidos não retornam caso você morra no segundo ou no terceiro. O jogo usa esta tática apenas em um caso extremamente pentelho, em que uma batalha contra dois chefes ao mesmo tempo tem uma segunda fase depois que você vence os dois, sem checkpoint para te proteger.
Enotria é um jogo de contrastes
E esta comparação se torna especialmente bem-vinda quando pensamos que uma das coisas que fez o Enotria chamar a atenção é a claridade de seus cenários. Na verdade a campanha não é totalmente ensolarada. A iluminação é bem estranha, e o jogo vai bem rápido de uma tela tão iluminada que fica difícil de olhar diretamente para ela a outra em que fica inviável enxergar o caminho de tão escuro.
Outro contraste bem constante é como o jogo vai das fases abertas, com tantos caminhos que você nem sabe para qual ir primeiro; para momentos em que você sente que explorou tudo, e não tem para onde ir. Inclusive, eu achei que tinha terminado a segunda fase f,ui para a terceira e só depois de termina-lá, vi que não tinha vencido a segunda. Fiquei umas boas horas até achar o caminho certo, e quando achei, a fase tinha mais algumas horas pela frente. Soulslikes são conhecidos por seu conteúdo opcional, que só aparece para quem explorar bem, mas Enotria coloca sua história principal atrás de segredos muito bem escondidos.
Enotria é um bom soulslike
Apesar de tantos meses terem se passado do lançamento original, Enotria ainda está um tanto cru, pelo menos no Xbox Series X. A performance é instável, mesmo no modo 60 fps, com quedas frequentes em combate e uma pequena pausa que acontece sempre que você pega um item. O jogo também fechou sozinho várias vezes, o que só não foi mais frustrante porque ele salva o tempo todo.
Enotria está bem longe de ser o melhor soulslike disponível. Falta clareza no level design e o combate é bem comum para o gênero. Mas graças ao seu modo história/fácil, é possível curtir a campanha sem se sentir num relacionamento abusivo. Eu prefiro soulslikes menos bons e mais fáceis, e não estou brincando. E você?