Clair Obscur Expedition 33 é a surpresa de 2025 para mim. Trata-se de um jogo em um gênero que não me apetece muito (RPG em turnos), com um título sinceramente horrível e confuso. Porém, a qualidade do que temos aqui é absurdamente alta, a ponto de ser realmente impressionante constatarmos que este é o primeiro jogo da Sandfall Interactive. A sensação causada por ele foi mais ou menos a mesma que tive quando joguei A Plague Tale original.

Ambos são jogos com valores de produção e beleza audiovisual que rivaliza com qualquer produção AAA, e a principal diferença entre ambos é que o A Plague Tale é de um gênero que eu particularmente gosto mais. Mesmo assim, eu gostei MUITO de Clair Obscur Expedition 33, e no review abaixo vou contar o porquê.

REVIEW CLAIR OBSCUR EXPEDITION 33

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Assassin’s Creed Unity feelings, né?

Clair Obscur Expedition 33 acontece em um mundo fictício inspirada pela Belle Époque. Os personagens moram na cidade chamada Lumiére, e todo ano uma pintora aparece e pinta um número em um monolito. Todas as pessoas com idade acima daquela desaparecem. A questão é que o número está ficando cada vez mais baixo, então expedições são frequentemente organizadas onde os voluntários vão tentar impedir a pintora de diminuir ainda mais a vida dos cidadãos.

É uma história bem complicada e, tal como Lost, é cheia de segredinhos. Isso gera um risco enorme, pois se as respostas não forem satisfatórias, o público pode ficar com a mesma sensação de coito interrompido que rolou na série de TV. Boa parte dos segredos ficam meio óbvios conforme sementinhas são plantadas, mas dificilmente alguém vai adivinhar tudo antes de ser revelado.

ABERTO, NÃO MUNDO ABERTO

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Já deve ter ficado claro para quem me lê por aqui que eu estou empapuçado de mundo aberto. Clair Obscur é aberto, mas não mundo aberto. Ele tem um esquema que puxa mais para God of War 2018 do que para God of War Ragnarok. A história é dividida em fases autocontidas, normalmente com um chefe no final. Entre as fases, você é jogado num hub que pode explorar livremente e que vai se abrindo conforme você avança na história.

Neste mapa, que coloca a câmera mais afastada e dá um sabor Cat Quest à exploração, há um monte de portais que levam a cenários “internos”. Estes podem ser minigames, sidemissions ou simplesmente áreas com inimigos de nível mais alto. A quantidade de área explorável aumenta conforme você vai destravando novas habilidades do personagem Esquie, que funciona como seu veículo. Como normalmente acontece em jogos assim, no começo eu tentava explorar tudo, mas depois acabei ficando infeliz com o excesso de opções e seguindo em frente com a história.

Este hub faz o jogo parecer muito maior do que realmente é, e boa parte do conteúdo opcional é bem fraco. Você sabe, eu sou da opinião que conteúdo opcional não deveria existir, e em Expedition 33, o excesso de portais é o principal defeito do jogo.

UM RPG EM TURNOS

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O hub afasta a câmera, e deixa o jogo bem bonitinho.

Por ser um RPG em turnos primordialmente dividido em fases, eu gostei muito do jogo. Tudo é bastante customizável. Há cinco personagens jogáveis e você usa três por vez. Mas todos precisam ter suas estatísticas upadas, e todos adquirem uma infinidade de golpes, que você não pode levar para a batalha. Sim, você pode equipar apenas seis skills por vez em cada personagem, então sua experiência vai fatalmente ser muito diferente da minha.

Particularmente, sinto que o jogo tem customização até demais, mas estamos falando de um RPG, então entendo perfeitamente que sou eu que estou me enfiando em um gênero diferente do que normalmente me agrada. Dito isso, eu gostaria que houvesse possibilidade de upar os personagens automaticamente, como outros RPGs fizeram antes. Além disso, a UI talvez seja o principal ponto fraco objetivo do jogo, então vou até criar um intertítulo novo para falar sobre isso.

O PONTO FRACO OBJETIVO

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Como um RPG profundo e repleto de customização, você vai passar um bom tempo nos menus deixando seus personagens nos trinques. E este é um problema. O menu exige mais cliques do que o necessário, e falha em passar informações vitais. Eu demorei muito para perceber, por exemplo, quais pictos já tinham sido aprendidos (dica: os aprendidos ficam rodeados em dourado). Os pictos são tipo runas, que você pode equipar três em cada personagem e, depois de vencer quatro batalhas com eles equipados, são aprendidos e podem ser equipados em todo mundo ocupando um outro tipo de espaço. Uma das minhas maiores frustrações era quando queria trocar um picto aprendido para um equipado, ou vice-versa, e precisava navegar entre vários menus. Isso deveria ser um clique.

A usabilidade dos menus é o principal problema do jogo, uma vez que tenho plena consciência que o excesso de conteúdo opcional ou a customização profunda podem ser bem-vindos para muita gente. Mas acredito que todo mundo vai reclamar dos menus.

CLAIR OBSCUR: A BELEZA E O CAPRICHO DE UM JOGO AMBICIOSO

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O que deixa Clair Obscur Expedition 33 tão especial, no entanto, é o cuidado que ele tem com a qualidade da experiência. Todo o audiovisual é simplesmente perfeito. Todas as fases, todos os cenários, são cheios de cores, detalhes e coisas para ver. Explorar o jogo é simplesmente uma delícia, e fica ainda mais gostoso pela beleza absurda da sua trilha sonora.

O jogo também traz atores famosos, como o Demolidor Charlie Cox e o mestre da CG Andy Serkis e mesmo aqueles interpretados por pessoas menos celebradas estão muito bem. Gostei muito mesmo do Esquie, interpretado por Maxence Cazorla tanto em inglês quanto em francês. O personagem é altamente carismático já no roteiro, mas a interpretação e o seu design fofinho o tornam um personagem extremamente abraçável. Quase um Totoro.

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Eu tenho minhas críticas em relação à história, como normalmente tenho com histórias focadas em revelações, mas o cuidado que a Sandfall Interactive teve com a narrativa, a apresentação e a experiência em geral é louvável. Clair Obscur Expedition 33 é um daqueles jogos com valores de produção e qualidade dignas de first party, e consegue isso sendo third party e com um preço mais baixo. É um verdadeiro raio de luz na indústria atual dos games. Se você gosta de RPGs em turno, pode comprar sem medo. E ele ganha minha recomendação mesmo para quem, como eu, não for tão fã do gênero.

REVER GERAL
Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
review-clair-obscur-expedition-33-rpg-em-turnos-lindissimoDisponível: PS5, Xbox Series, Windows<br> Analisada: Xbox Series X<br> Desenvolvedora: Sandfall Interactive<br> Editora: Kepler Interactive<br> Lançamento: 24 de abril de 2025<br> Gênero: RPG em turnos<br>