Arzette The Jewel of Faramore é um jogo curioso em vários sentidos. Temos aqui uma continuação espiritual dos universalmente odiados Zelda de CD-i. É um game com envolvimento de John Linneman e Audi Sorlie, que talvez você conheça por seus trabalhos no canal Digital Foundry (do qual eu gosto bastante). E em matéria de gênero, é um proto-metroidvania. Um jogo em fases, mas que exige que você volte a fases já completadas com outras habilidades para desbloquear novos caminhos. Tipo, sei lá, Quackshot. Vamos elaborar?
ANÁLISE ARZETTE THE JEWEL OF FARAMORE
Eu não joguei os Zelda de CD-i. Para ser sincero, eu nunca nem vi um CD-i na minha frente. Porém, reconheço facilmente a estética que Arzette copia, especialmente dos desenhos animados amadores, que eram algo relativamente comum na época em que os games começaram a migrar para CDs.
Na época do Sega-CD, estes desenhos impressionavam simplesmente por estar em jogos e serem falados. Mas quando não eram bem feitos, eram bem amadores, com erros crassos de proporção e de animação. Acho que ninguém vai ver os desenhos de Arzette e dizer que são bonitos. Mas em 2024, tem algo especial neles. Especialmente se você pensar que é relativamente fácil imitar um trabalho bom, mas imitar um ruim, e fazê-lo ficar bom, exige um talento muito especial. E este talento existe de sobra na Seedy Eye Software.
PULANDO, ATACANDO E GANHANDO UPGRADES
Arzette The Jewel of Faramore é um plataforma 2D bem básico. Porém, a estética deliciosamente tosca e a jogabilidade simples são muito gostosos. Ele também traz uma das trilhas sonoras que mais me agradaram em muito tempo, e com aquela qualidade de CD-rom, manja? Até as vozes usam um bitrate meio baixo, remetendo àquele som peculiar dos primeiros jogos em CD. Para alguém como eu, que viveu a época, e sentiu que colocar um Sega-CD no Mega Drive foi o maior salto de gerações da minha vida, é muito legal reviver a sensação de jogar algo daquela época.
Claro, de nada adiantaria se o jogo não fosse bom. Felizmente, ele é. A combinação audiovisual e os controles simples e gostosos é simplesmente mágica. Mas o level design também é bacana, e até as cutscenes são bem sucedidas no que se propõem.
ARZETTE: PROTO-METROIDVANIA
As fases são mais ou menos lineares. São mais abertas do que um Super Mario Bros., mas estão longe de um Metroid. Em alguns pontos, você tem mais de um caminho. O caminho opcional pode levar para tesouros ou para áreas que só podem ser acessadas com habilidades específicas.
A quantidade de fases selecionáveis aumenta aos poucos. Mas mais importante do que isso são as habilidades. Há uma pá de upgrades, a maioria vem de objetivos secundários, tipo uma menina que pede para você arranjar óleo para ela beber. Além das magias que destroem blocos, tem pulo duplo, carteiras maiores e itens especiais.
Seu objetivo principal é encontrar os chefes. Vencer cada um deles dá um pedaço de uma joia e ter a joia completa permite enfrentar o chefão final. Obviamente, alcançar cada chefe exige um conjunto de habilidades e upgrades específicos. Mas encontrar cada um deles é bem recompensador.
ARZETTE E O GPS QUE FAZ FALTA
Arzette é um tanto mais aberto do que Quackshot. Isso porque em geral ele não salva seu progresso. Em nenhum lugar do jogo fica marcado o que cada personagem te pediu. A única colher de chá que ele dá é mostrar um ponto de exclamação quando você já tem um item e precisa entregar.
Tirando isso, você fica basicamente escolhendo as fases a esmo e explorando onde dá. Ao contrário de Quackshot, as fases sempre começam do mesmo ponto, mas têm várias opções de saída. Esta exploração a esmo é algo que me incomodou um pouquinho, a ponto de que eu comecei a escrever por conta própria o que tinha de barreira em cada fase (tipo blocos azuis, necessidade de pulo duplo, etc).
DURAÇÃO DA JOIA DE FARAMORE
Dito isso, Arzette The Jewel of Faramore não é tão complexo nem tão longo que você vá ficar muito tempo nele. Se fosse simplesmente uma fase depois da outra, provavelmente seria possível terminar em uns 30 minutos. Sem usar guias, apenas explorando por conta própria, eu terminei em três horas com 70% completo.
Sinceramente estava animado para voltar ao jogo mais tarde com todas as habilidades e limpar as fases e missões secundárias que faltaram. Porém, ao explorar as novas dificuldades disponíveis, o jogo simplesmente salvou por cima da minha campanha original, sem aviso nem nada. Ter um save apenas já é péssimo, mas apagar seu save sem aviso é algo que não se faz. Ou seja, provavelmente nunca vou fazer as missões que faltaram porque preciso desbloquear tudo de novo. Assim, embora tenha gostado muito da campanha, escrevo esta resenha com um gosto amargo na boca, o que estragou um pouco a experiência.
Arzette também diz liberar um boss rush depois de terminar a campanha e eu não consegui encontrá-lo no menu. Talvez esteja escondido em algum lugar, talvez ainda não esteja no jogo mesmo, mas neste momento eu não achei.
CONCLUSÃO DA ARZETTE
Como você lê o DELFOS, é uma pessoa privilegiada e inteligente. Isso significa que não vai cair na mesma armadilha que eu e não terá seu save deletado a não ser que queira de fato começar de novo. Mas isso realmente azedou minha experiência, e fui obrigado a refletir isso na nota (estava planejando dar 4 Alfredos antes do save ser apagado).
Dito isso, Arzette The Jewel of Faramore é um jogo muito gostoso, daqueles que traz, pelo menos para mim, um gostinho de infância. Mas acho que mesmo quem gosta de jogos de plataforma 2D e de exploração pode tirar um ótimo divertimento daqui. Eu recomendo Arzette com força, ainda que aftertaste tenha sido amargo.
