Hoje em dia se produz documentários com os mais diversos temas: guerras, pobreza, sexualidade, festas populares, ciência, história, música, etc. Aliás, sobre música, temos o excelente Jazz de Ken Burns e o recente Botinada sobre a história do Punk no Brasil. Se abandonarmos um pouco a preocupação com a realidade dos fatos, temos alguns exemplos na indústria cinematográfica de utilização da música como tema: os ótimos filmes Encruzilhada, sobre o bluesman Robert Johnson e Amadeus, sobre o gigante da música Wolfgang Amadeus Mozart, cujo nome de batismo era Johannes Chrysostomus Wolfgang Theophilus Mozart.
Realidade ou ficção, o que importa é que, em ambos os casos, a preocupação reside em preservar aquilo que se acredita ser importante o suficiente para ser contado como um dos pontos altos daquilo que se quer preservar. Até mesmo o Heavy Metal vem sendo tema de alguns documentários produzidos recentemente. E quais seriam as imagens dignas de constar num documentário sobre o assunto. Eu certamente gostaria de ver Ronnie James Dio em cenas memoráveis ao lado de Tonni Iommi e Ritchie Blackmore. Aliás, o que poderia ser dito de um cara que cantou no Black Sabbath e no Rainbow? Gostaria de ver cenas de Cliff Burton, Steve Harris, Scott Ian. Gostaria de ver cenas dos grandes festivais de verão que acontecem na Europa. Gostaria de ver minhas bandas preferidas retratadas nos grandes momentos de suas carreiras.
A foto que você encontra aí em baixo, na galeria de fotos, é de duas das formações que mais admiro: pela inovação que trouxeram, pelo conjunto da obra que construíram e pelo estereótipo que forjaram.
Tirada no início dos anos 80, quando o Accept divulgava seu álbum Breaker e o Judas Priest o aclamado Britsh Steel, a foto pode nos dizer muito sobre um momento bem diferente do atual para nosso amado estilo musical. Longe de pretender dar um ar saudosista a esse texto e afirmar que, embora seja uma verdade, os anos 80 é que produziram grande parte dos clássicos incontestáveis do estilo; a foto nos mostra uma espontaneidade incrível. Se comparada às superproduções de lançamento de CDs de algumas bandas atualmente, é possível dizer até que há uma grande simplicidade. Os copinhos de plástico nas mãos e os fios de energia elétrica passando sob os pés dos músicos constroem um ambiente que seria impensável para muitas bandas com menor talento e relevância no dias de hoje. Além disso, a ausência completa de maquiagem para dar uma disfarçada no “produto” nos permite dizer que, se o Lemmy do Motörhead estivesse nessa foto, seguramente ela entraria para o livro dos recordes como a maior concentração de feiosos por metro quadrado de todos os tempos.
Responsáveis por momentos memoráveis como os álbuns Restless and Wild e a velocíssima Fast as a Shark; Balls to the Walls; Metal Heart e o solo de guitarra para a música homônima que trazia citações de Beethoven, o Accept abriu caminho para aquilo que mais tarde seria conhecido como o típico Power Metal alemão. Sobre o Judas Priest, o que dizer que ainda não foi dito? Que fizeram um dos melhores covers de toda a história da música pesada com sua versão para Diamonds and Rust? Que produziram no mínimo seis álbuns clássicos para a história do Heavy Metal? Que seu vocalista impôs a toda a comunidade metálica (simpatizante da imagem de bravos guerreiros em batalhas épicas) que um dos maiores ícones do Heavy Metal, senão o maior, é declaradamente homossexual?
O Heavy Metal, como qualquer outra manifestação artística relevante teve e tem seus grandes momentos registrados em imagens e som. Pena que essa foto não tem som.