Rayman Origins

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Lembra do trailer do filme dos Simpsons, em que o Moe fala, empolgado “em 2D!”? Pois é, delfonauta. Existe algo mais mágico do que um jogo onde basta você andar para a direita e destruir tudo que se mexe? Esse jogo, meu amigo, é Rayman Origins, feito especialmente para pessoas que, como nós, sentem falta dos idos dos 16-Bit. Curiosamente, o personagem Rayman ainda nem existia naquela época.

Admito, eu nunca tinha jogado Rayman antes. Sim, sei que isso é uma vergonha, mas o personagem surgiu no PS1 e teve seus principais jogos lançados durante a época em que eu dedicava minha vida única e exclusivamente ao Heavy Metal. Ainda assim, eu conheço o personagem e sempre o vi como o protagonista de uma longa e frutífera série de games. Qual não foi minha surpresa ao consultar a sempre útil Wikipédia e constatar que este Rayman Origins é apenas o quinto jogo da série principal. Até God of War, que surgiu outro dia, já tem cinco jogos! E este é o primeiro jogo dessa série principal desde Rayman: Hoodlum, lançado para o jurássico Gameboy Advance em 2005.

A PRIMEIRA VEZ COM UM HOMEM SEM MEMBROS A GENTE NUNCA ESQUECE

Rayman Origins, para uma franquia surgida na época do PS1, é surpreendentemente old-school. E não me refiro simplesmente ao fato de ser um plataforma sidescroller, pois temos vários jogos 2D modernos nas redes online do console. O fato é que a sensação de jogá-lo remete diretamente ao Mega Drive e, em alguns pontos, até ao Nintendinho. De fato, a única coisa mais moderna aqui é a possibilidade de jogar com quatro pessoas simultâneas, algo que na época dos 8/16-Bit era restrito a beat’em ups nos fliperamas. Você usa apenas três botões: soco, pulo e corrida. E é isso. Esse é todo o seu conjunto de habilidades. Não é sensacional? =]

Para matar os inimigos, você pode socá-los ou pular na cabeça deles. Então resta ao nosso herói sem membros correr para a direita pegando o máximo de coisinhas que conseguir.

A interface, aliás, é totalmente old-school, a começar pelo mapa, extremamente semelhante ao do clássico dos clássicos Super Mario Bros. 3. E, claro, funciona tão bem hoje quanto funcionava 25 anos atrás. Clássicos nunca saem de moda! E o mesmo pode ser dito da jogabilidade “ande para a direita e pule na cabeça dos inimigos”. Não há história, além da cutscene de abertura e de um curtíssimo final, então não tem nada para dividir sua atenção além da própria jogabilidade.

Felizmente, Rayman Origins se atualizou exatamente onde precisava: nos gráficos. Pelamordedeus, delfonauta, que gráficos tem isso aqui! Arrisco dizer que é um dos jogos mais bonitos que já tive o prazer de jogar. Obviamente, o jogo segue o estilo 2.5D, então é comum coisas passarem na frente da tela ou um monte de coisas divertidas acontecerem nos planos de fundo. Em alguns momentos, inclusive, você mesmo será lançado para o plano de fundo. Só é uma pena que isso não aconteça com mais frequência.

Os gráficos podem não ser impressionantes tecnicamente, mas artisticamente é embasbacante. Todos os personagens têm um design que alterna entre o atrapalhado e o totalmente maluco, independente de serem heróis ou vilões. E não tem uma criatura viva por aqui que não seja engraçada por si só. A animação é outro show à parte. Rayman Origins tem visual e animação de desenho animado. Simplesmente não tem como colocar defeitos neste quesito. É perfeito!

A música segue a mesma linha. Pode não parecer na primeira fase, mas depois a trilha sonora engrena e as músicas começam a ter mais melodias e a chamar mais atenção. Boa parte delas é cantada, mas não são cantadas em línguas terrenas, mas no idioma do jogo (que tem algumas palavras reconhecíveis em inglês ou alemão), e isso deixa deveras engraçado. Teve vários momentos que eu estava jogando, a voz entrou na música e eu tive que parar de jogar para rir. O negócio é tão bom que chega a ser decepcionante que não dá para colocar o disco no aparelho de CDs para curtir a trilha, como era na época do Sega-CD. Só é uma pena que a música reinicie toda vez que você morre porque, meu amigo, você vai morrer pra caramba!

DIFICULDADE OLD-SCHOOL

Pois é, delfonauta! Embora Rayman Origins não tenha limites de vida ou coisas do tipo, a dificuldade do jogo é nível Mega Man – ou seja, hard as hell. E essa é talvez minha principal picuinha com ele, não tanto pela dificuldade em si, mas pelos checkpoints mal distribuídos.

As fases, em geral, não são muito longas, mas na maioria delas os checkpoints estão bem afastados, especialmente se você, como eu, for um desses obsessivos que fica querendo pegar todas as moedinhas da fase. É frustrante tentar dezenas de vezes pegar uma moeda especial (que vale 25 moedinhas), daí morre logo após conseguir em qualquer outra armadilha e tem que pegar a moeda de novo. É verdade, eu normalmente morria tentando pegar as coisinhas, então se você não for tão obsessivo quanto eu, talvez o jogo não pareça tão difícil.

Mas os estágios mais difíceis mesmo são os de perseguição. Tem vários deles, e no geral eles são bem divertidos. Pelo menos até você começar a morrer. Acontece que essas fases não costumam ter checkpoints. Dificilmente elas passam dos dois minutos, mas a tolerância para erros nessas perseguições é mínima, tornando tudo mais uma decoreba do que qualquer coisa. Segure o botão de pulo por um milésimo de segundo a mais – ou a menos – e terá que refazer tudo de novo. Veja uma delas:

Deu para sentir a dificuldade? E percebeu como a fase tem momentos onde checkpoints poderiam ser inseridos naturalmente (ao entrar e sair da água, por exemplo)? Pois é. E reparou o pior? O glitch de câmera no final que matou o jogador injustamente?

Eu fiquei horas nessa maldita perseguição de um minuto, até que finalmente resolvi procurar por um vídeo no tubo para ver o que estava fazendo de errado para a câmera me matar todas as vezes. E aparentemente não tem nada a ser feito, você tem que dar a sorte de a câmera não avançar mais rápido do que deveria nessa parte e, para mim, demorou muito para isso acontecer. É totalmente aleatório e, convenhamos, seria menos chato se tivesse um checkpoint para evitar ter que jogar tudo de novo até o jogo resolver que você já jogou o suficiente.

Falando em dificuldade absurda, essas fases de perseguição são apenas um treino para o que vem depois. Elas são opcionais, mas se você completar todas as dez, vai liberar uma fase chamada Land of the Livid Dead. Essa fase é a coisa mais difícil desde Battletoads! E sabe o que mais? Ela é maior legal.

Nela, o jogador é obrigado a estar sempre correndo e ela exige precisão total em pulos, escorregadas e glides. Mas existem checkpoints, diminuindo a frustração e tornando-a muito mais um exercício de habilidade! Eu fiquei obcecado nela por bastante tempo, sem descansar até passar e vou dizer que foi realmente satisfatório quando venci o dificílimo chefe secreto que vem depois da dificílima fase. Caso o desafio não lhe apeteça, relaxe, pois ela é totalmente opcional e independente da história. Se estiver curioso, divirta-se com o vídeo aí embaixo, e aproveite para ouvir quão legal é a música:

Diz aí, é de se encolher em posição fetal, né? Achou que isso era um speed run? Não, essa é a velocidade que o jogo te obriga a passar pela fase. Se bobear por um segundo, vem um fogo ou um tentáculo e te mata por trás (ai!). Em alguns momentos do vídeo dá para ver essas armadilhas se aproximando. Revendo isso, não acredito que eu consegui passar. É coisa que só se faz uma vez na vida. =]

POP! POP! BOOM!

Devido à dificuldade e até mesmo ao gênero, Rayman Origins é um jogo melhor saboreado em doses homeopáticas. Ao contrário da maioria dos games atuais, que são muito melhores quando tiramos uma tarde inteira para jogá-los, este é um jogo ideal para dias em que você só poderá jogar por menos de uma hora.

Jogando em pequenos trechos, você vai maximizar a diversão e minimizar a frustração. Pois é, meu amigo, até nisso Rayman Origins é old-school. Assim, se você acha que nunca mais fizeram jogos tão legais quanto no início dos anos 90, faça um favor a si mesmo e não deixe de experimentar Rayman Origins.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
rayman-originsAno: 2011<br> Gênero: Plataforma 2D<br> Plataforma: PS3, Wii, 3DS, PC, Xbox 360<br> Fabricante: Ubisoft Montpellier<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>