Rayman Legends

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Há quase dois anos, Rayman Origins encantou os gamers old-school ao apresentar um plataforma 2D com profundidade, dificuldade e capricho em geral como há muito não se via. Parecia um jogo de nicho, focado em pessoas que tinham saudades da época dos 16-bit, e todo mundo acreditava que se tornaria um sucesso cult, e não tanto comercial. Qual não foi a surpresa de todos (acredito que até mesmo da Ubisoft) quando o jogo foi um tremendo sucesso não apenas de crítica, mas também de público? Eu diria que a surpresa quanto ao sucesso do game foi igual à decepção quando anunciaram que sua continuação, Rayman Legends, seria exclusiva para Wii U.

Felizmente, a editora mudou de opinião, e agora Rayman Legends está disponível para praticamente todas as plataformas imagináveis. E, meu amigo, o jogo está ainda mais divertido do que era antes, embora também tenha deixado para trás algumas coisas legais.

CORTANDO A GORDURA

À primeira vista, Rayman Legends é bem parecido com seu antecessor. À segunda vista também. Os gráficos são basicamente os mesmos – são lindíssimos, com um design de personagens embasbacante – e a jogabilidade não sofreu alterações. Você continua usando apenas três botões, corrida, pulo e soco, e isso continua tão eficiente quanto antes. Realmente não tinha necessidade de mais.

Porém, Rayman Legends também é mais simples do que Origins. Muita da gordura desnecessária foi cortada, como as fases em que você perseguia baús ou os time trials. Infelizmente, algumas coisas legais também caíram fora. As fases em que você cavalgava um mosquito, por exemplo, que traziam saudosas memórias dos jogos de navinha estilo R-Type não existem mais. Além disso, a habilidade de correr pelas paredes e tetos não é usada na maior parte do jogo, e só se torna realmente importante no último mundo.

Felizmente, no mundo em questão – que é excelente – essa habilidade é muitíssimo bem aproveitada, e envolve correr sobre e pular para plataformas verticais que estão caindo. É deveras emocionante, e é uma pena que não tenham usado mais esta ferramenta, como acontecia em Origins.

AS NOVIDADES

Não há muitas, mas todas elas melhoram o jogo. A primeira coisa a chamar a atenção é a nova personagem jogável, uma princesa que parece saída de Valente. A mudança é apenas visual, então não pense que seu machado é mais forte do que os socos dos outros personagens.

A jogabilidade também ganhou algumas novidades. Logo na primeira fase, você conhecerá Murfy, um simpático bichinho que vai te ajudar movendo plataformas ou cortando cordas. Na versão que eu joguei, de PS3, você usa o Murfy simplesmente apertando bola enquanto controla o Rayman, e é bem legal. Aparentemente, nas versões de Vita e Wii U, o Rayman é controlado pelo computador e você usa Murfy através da touchscreen.

O melhor uso de Murfy, no entanto, são alguns puzzles em que ele rotaciona o cenário. Normalmente nesses casos o cenário é um labirinto simples, cheio de espinhos, o que significa que se você rotacionar para o lado errado, bau-bau. É bastante divertido pensar no melhor lado para virar e eu não me lembro de ter visto algo parecido em um plataforma 2D antes.

Mais próximo ao final do jogo, Murfy vai mover escudos e coisas do tipo que te protegem de perigo, e nesses casos, você vai ter que acompanhar a velocidade do bichinho para não levar um monte de lava nas fuças. É bem legal também.

O hub também está diferente. No lugar do sempre eficiente mapa de Origins, agora temos um mundo onde cada fase é representada por uma pintura. Não é nada tão complexo quanto o castelo do Super Mario 64, mas cá entre nós, também não é tão eficiente quanto o mapa do antecessor.

A outra principal novidade é também a melhor: fases musicais. E, meu amigo, essas fases são tão legais que poderiam render um jogo inteiro só com elas. São cenários em que o jogo te obriga a ir correndo e suas ações e o cenário se movimentam de acordo com o ritmo da música. É uma das coisas mais divertidas que eu já joguei. Dá uma olhada:

Os gêneros das músicas variam e, inclusive, em uma dessas fases, você vai jogar ao som de um dos rocks mais famosos da história em uma versão mexicana. Não vou dizer qual é para não estragar a surpresa, mas prepare-se para muitas gargalhadas e pode ter certeza que você vai reconhecê-la. Tem também uma fase com uma música orquestrada onde você se sente jogando uma versão gamer do clássico Fantasia. Veja se não concorda comigo:

O único problema dessas fases musicais é a quantidade delas. São apenas seis, o que é muito pouco considerando que é o melhor que Rayman Legends tem a oferecer. Em algumas outras fases, você também é obrigado a correr, e embora elas também estejam entre os pontos altos do jogo (e lembram muito os melhores momentos do Sonic), a maioria delas não sincroniza a música com suas ações.

SIDEMISSIONS

Rayman Legends tem uma porrada de sidemissions. Elas se dividem em alguns tipos. As “invasões” te levam de volta a versões remixadas de fases pelas quais você já passou. O objetivo é mostrar como seria se criaturas dos outros mundos invadissem esta fase e como o cenário e os desafios se modificariam. Parece interessante, mas no final das contas acaba sendo tão difícil e frustrante quanto as fases dos baús de Origins.

Isso acontece porque você deve completar a fase em 40 segundos. Nas primeiras que aparecem, é difícil morrer, mas é muito mais difícil chegar ao final neste tempo, pois o game exige uma perfeição absurda para chegar ao final. Mais para frente, essas fases vão ficar realmente difíceis, e você vai morrer dezenas de vezes antes de chegar ao final, mas daí o tempo acaba se tornando um problema menor, pois se você cruzar a linha de chegada, provavelmente foi no tempo permitido mesmo. Seja como for, prepare-se para gastar pelo menos 30 minutos em cada uma dessas fases de 40 segundos. Sim, elas são difíceis assim.

Todas as fases musicais também contam com um remix 8-bit, nos quais a música é transformada em uma divertida versão chiptune e a tela sofre alguns defeitos normais (porém exagerados) da época em que os videogames eram ligados à TV naquelas caixinhas onde você escolhia TV ou vídeo. Dá uma olhada.

Como você deve ter percebido, a fase é exatamente igual, mas em alguns momentos não dá para enxergar nada e você tem que jogar pela memória. Além disso, nessas versões das fases não há checkpoints, e isso pode torná-las assaz frustrantes.

E já que falamos em checkpoints, vamos falar um pouco sobre isso antes de falar do último tipo de sidemissions.

CHECKPOINTS E DIFICULDADE

Rayman Origins era um jogo difícil graças a seus checkpoints distantes e a um monte de itens escondidos e difícil de achar. Rayman Legends resolve ambos os problemas.

Aqui há checkpoints de montão, fazendo com que o jogo, pelo menos nas missões principais, nunca se torne frustrante por forçar o jogador a repetir longos trechos. Além disso, me pareceu muito mais fácil encontrar todos os segredos das fases. Na maior parte delas, eu fazia 100% naturalmente, explorando e jogando normalmente, sem usar nenhum tipo de guia. Nas raras vezes em que eu não encontrava alguma coisa, jogando a fase mais uma ou duas vezes, eu conseguia cemporcentá-la.

Ambas essas mudanças tornam Rayman Legends muito mais divertido do que seu antecessor, pois elimina a frustração e o torna mais acessível. Isso é especialmente visível quando você o compara a Rayman Origins, o que é bem fácil de fazer graças ao último tipo de sidemissions

BACK TO ORIGINS

Muitas das fases de Origins estão disponíveis aqui, remixadas para incluir os itens de Legends. Infelizmente, os checkpoints continuam onde eram, mas a frustração é diminuída porque agora é bem mais fácil de fazer 100% nelas. Se, quando eu joguei Origins, foram poucas as fases em que eu consegui os 100%, aqui eu consegui em todas naturalmente. No entanto, eu senti que eles exageraram um tanto na dose.

Origins tem 66 fases. Dessas, 40 estão disponíveis aqui. Se é para colocar uma porcentagem tão grande do jogo de brinde, por que não colocar logo o Rayman Origins no disco, como a própria Ubisoft fez com Assassin’s Creed Revelations, que inclui o primeiro Assassin’s Creed?

Isso porque, se você já tem o Origins e já jogou ele por completo, acaba sendo meio chato parar de jogar as fases novas para jogar as antigas. Claro, você não precisa fazer isso, mas como o Back to Origins é inserido no jogo, provavelmente vai acabar fazendo.

O principal problema é mesmo a quantidade de fases. Rayman Legends tem 49 fases, 28 invasões e seis remixes 8-bit. Ou seja, temos 49 fases novas e 40 antigas. Praticamente metade do jogo é repetido, e provavelmente por causa disso acabaram fazendo tantas fases a menos do que tínhamos no Origins.

Se você não comprou Origins, é tudo lindo e novo, mas se você já o tem, seria bem mais legal ter algumas fases novas a mais.

CHALLENGES

A última parte do jogo, e provavelmente é o que vai te manter jogando depois de terminar tudo, são os challenges online. Você sempre terá quatro desafios para fazer, sendo dois semanais e dois diários. Estes challenges pegam algumas fases do jogo e colocam alguns objetivos específicos nela. Os objetivos são sempre: pegue uma quantidade X de coisinhas no menor tempo que conseguir, chegue o mais longe que puder ou termine a fase o mais rápido possível. E, meu amigo, isso é deveras viciante.

De acordo com a performance dos jogadores que participarem, eles serão divididos em grupos que levam troféus. Ganhar um bronze é relativamente fácil. Ganhar um gold é dificílimo, e ganhar um diamond me parece impossível (eu nunca cheguei nem perto).

Assim, é comum você resolver jogar uma dessas fases só pra marcar presença. Daí você faz um tempo de 30 segundos e leva bronze, e vê que se conseguir tirar mais um segundo do seu tempo, leva prata. E daí você fica jogando várias vezes e, quando se der conta, já passou um tempão.

Ainda mais legal é que você pode ver os ghosts de seus amigos e de outros jogadores e, especialmente nas fases de velocidade, isso é bem útil, pois você pode copiar as ações dos que foram mais rápidos do que você.

A LEGENDA DO RAIO-MAN

Como é mais fácil e acessível, acaba sendo também mais apropriado do que Origins para jogar com a patroa ou com pessoas de habilidade menor do que a sua. É consideravelmente mais curto do que seu antecessor se você não contar as fases repetidas, mas se você não jogou o anterior, terá aqui quase dois jogos pelo preço de um. Seja qual for o seu caso, Rayman Legends é um jogão, deveras recomendado para fãs de plataforma 2D.

CURIOSIDADES

– A versão tupiniquim de Rayman Legends para PS3 traz um código que permite baixar uma roupinha de Assassin’s Creed para o Rayman.

– Eu costumo jogar games em 2D no direcional digital, mas em algumas fases de Rayman, como nas aquáticas, eu prefiro trocar para o analógico. Isso torna bastante desconfortável quando o jogo exige a alternância entre um e outro. Alguém mais é assim?

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
rayman-legendsAno: 2013<br> Gênero: Plataforma 2D<br> Plataforma: PS3, Xbox 360, PC, Vita, Wii U<br> Fabricante: Ubisoft Montpellier<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>