Radiohead – In Rainbows

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Foi no final de 2007 que os britânicos do Radiohead mais uma vez chacoalharam o mundo da música. Em um dia de outubro, postaram um comunicado em seu site oficial dizendo que seu sétimo disco, In Rainbows, o qual sofreu diversos atrasos e muitos já davam como certo que só seria lançado no ano seguinte, na verdade já estava pronto e sairia dentro de 15 dias.

No entanto, você não o encontraria em nenhuma loja de discos, apenas no próprio site da banda para download. O preço? Você decide. Isso mesmo, durante o tempo em que ficou disponível para ser baixado você poderia pagar o preço que achasse justo, inclusive podendo pegá-lo de graça.

Com isso, o grupo eliminou a necessidade de uma gravadora, pondo em xeque sua importância para a indústria musical, voltando a ser uma banda independente (seu contrato com a EMI acabou após o lançamento de Hail to the Thief, em 2003) e propondo uma discussão sobre quanto vale a música. Algumas pesquisas não oficiais especulam que nessa jogada o quinteto faturou cerca de três milhões de libras com os downloads.

Mas, números à parte, quem quisesse o disco em formato físico poderia comprar um caprichado box através do próprio site, ou aguardar um pouco mais até que ele chegasse às lojas em versão simples, num acordo de distribuição com a gravadora XL Recordings. E é essa mesma versão que chegou ao Brasil, através da minúscula Flamil.

Como adquiri o box, é essa a versão que será analisada nesta resenha. Então, quem tiver interesse apenas na versão tupiniquim, é só pular para a parte “o disco”. Ok? Então, vamos à análise.

O BOX

Em formato de livro, é protegido por uma luva de papelão duro e o acabamento do pacote é de alta qualidade. Fora o disco em formato CD, o álbum também vem dividido em dois vinis de 45 rpm, os quais infelizmente ainda não pude ouvir, pois estou momentaneamente sem vitrola. Também há um CD bônus com mais oito faixas inéditas e um livreto com a arte abstrata de Stanley Donwood, colaborador habitual da banda na parte gráfica de seus lançamentos. As letras (exceto as do disco bônus. Por que não fazer o serviço completo?) e ficha técnica estão em outro livreto, colado ao corpo do box.

O DISCO BÔNUS

Este é o grande chamariz do box, já que essas faixas eles não disponibilizaram para download e nem em formato físico, muito embora possam ser encontradas na Argentina de sua preferência. São músicas tiradas da mesma sessão de gravação de In Rainbows.

MK 1: Uma vinheta. Só vocalizações e camadas de teclados. Lembra Treefingers, do Kid A.

Down is the New Up: Levada por piano e com uma linha bacana de baixo, é boa demais para ser apenas um extra. Eu a colocaria fácil no disco principal, no lugar de Videotape.

Go Slowly: A música leva o seu título a sério e vai devagar por todos os seus quase quatro minutos. Faixa climática genérica.

MK 2: Outra vinheta só de barulhinhos, ainda mais curta que a sua irmã. Não acrescenta nada.

Last Flowers: Mais uma vez o piano dá a tônica da faixa. Balada de cortar o coração.

Up on the Ladder: Esquisita e com uma presença mais forte das guitarras, sujas e hipnóticas.

Bangers + Mash: A batida é meio desconjuntada, mas a levada é para cima. Vocal esquizofrênico de Thom Yorke. Outra que podia ter entrado em In Rainbows.

4 Minute Warning: Começa com ruídos e descamba em outra faixa com o pé no freio. Lembra as músicas do Amnesiac.

O DISCO

Agora sim vamos tratar do mais importante: o álbum e suas músicas. E mais uma vez o Radiohead pega o caminho menos óbvio, ao apresentar uma seleção de 10 faixas tão difíceis quanto bonitas.

Se o disco anterior, o já citado Hail to the Thief, apontava uma mescla entre o Radiohead guitarreiro de The Bends (1995) e OK Computer (1997) e a banda eletrônica de colagens sonoras de Kid A (2000) e Amnesiac (2001), In Rainbows novamente traz essa mescla de elementos, porém, com uma nova abordagem.

As guitarras estão lá, mas as distorções não. A fúria foi substituída por delicados arpejos. Os elementos eletrônicos também estão presentes, mas ao invés de servirem como base para as composições, agora são detalhes, geralmente relegados ao fundo. Com isso, temos um disco mais humano, de texturas muito mais orgânicas.

Outro elemento que merece destaque é a voz de Thom Yorke. Se nos últimos trabalhos ele cantava quase balbuciando, mal falando inteiramente as palavras, agora seus vocais estão límpidos e em primeiro plano, fazendo o ouvinte relembrar porque ele é um dos grandes vocalistas do Rock atual.

Posto tudo isso, concentremo-nos agora às músicas.

15 Step: Começa com uma batida eletrônica, até o vocal de Yorke entrar se perguntando “como é que eu vim terminar onde comecei?”. Seria um comentário sobre a própria situação da banda, de volta à independência? Guitarras calmas e um coralzinho infantil completam a música. Um bom começo.

Bodysnatchers: A mais acelerada do disco. Levada por guitarras sujas que crescem exponencialmente até o final. O refrão, com os versos “eu não faço idéia do que estou falando / estou preso neste corpo e não consigo sair” é ótimo e gruda na orelha desde a primeira audição. É a minha favorita.

Nude: Lenta e climática, é pontuada pelo baixo de Colin Greenwood e a bateria de Phil Selway. É bem sucedida em deixar qualquer um para baixo, inclusive com sua letra mui otimista: “não tenha grande idéias / elas não vão acontecer”.

Weird Fishes/Arpeggi: No esquema “duas músicas em uma”, a primeira parte é pontuada pelas guitarras de Ed O’Brien e Jonny Greenwood e pela bateria robótica. A segunda parte é mais acelerada e ganha uma linha de baixo marcante.

All I Need: Mais eletrônica e soturna que as anteriores, cresce de uma forma absurda no final emocionante. A letra é uma das mais diretas que Yorke já escreveu, ainda que não fuja de uma de suas marcas registradas, a autodepreciação.

Faust Arp: Thom canta manhoso a faixa mais curta do disco, levada por um violão que me lembra uma Bossa Nova meio torta, junto com um quarteto de cordas.

Reckoner: O melhor vocal do disco, agudo e cheio de sentimento. A bateria novamente impressiona.

House of Cards: Mais uma com guitarras abusando de arpejos e uma bateria absurdamente bem tocada (e isso já está ficando redundante). Lenta, mas não chega a ser uma balada.

Jigsaw Falling Into Place: A primeira música de trabalho e a segunda melhor do disco. Levada nervosa de violão e outra excelente performance vocal de Yorke. À medida que a música avança, as guitarras vão entrando e a tensão aumentando até o refrão apoteótico, que só surge no final.

Videotape: A última faixa é a mais parada e mais deprê do disco. Na maior parte do tempo é só voz e piano em uma melodia triste e repetitiva até que alguns efeitos esquisitos entram na metade, sem mudar o ritmo. Para mim, é a mais chata e não foi o melhor meio de se fechar um disco excelente.

Tirando esse pequeno deslize no final, não restam dúvidas de que a criatividade da banda continua em alta, bem como sua relevância no Rock. Os fãs não vão se decepcionar e aqueles que curtem um som diferente com certeza podem considerar In Rainbows uma boa opção.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
radiohead-in-rainbowsAno: 2007 / 2008 (Brasil)<br> Gênero: Rock Alternativo<br> Duração: 42:41<br> Artista: Radiohead<br> Número de Faixas: 10<br> Produtor: Nigel Godrich<br> Gravadora: Flamil<br>