Os fãs paulistanos de Queen estão muito bem servidos. Se infelizmente não teremos mais possibilidade de ver a banda em nossas terras, ao menos temos ótimas bandas covers e eventos para fãs que mantém o espírito e a beleza do som da “rainha” vivo.
Dentre estes eventos (veja links relacionados no final desta matéria), o Queen’s Day é, provavelmente, o mais importante e mais conhecido deles, já que é um evento oficial da gravadora EMI e já recebeu mensagens até do próprio Brian May. É claro que o DELFOS não poderia perder o evento.
As festividades começaram por volta das 16:40 com a transmissão no telão de um trecho do mais novo DVD da banda, intitulado Live at the Bowl, que estava sendo lançado na ocasião e que foi divulgado pelo staff em todas as oportunidades possíveis e imagináveis. Por algum motivo bizarro ou algum erro imperdoável na estratégia de marketing da gravadora ou do próprio evento, o DVD não estava à venda no local. Não sei se é minha ex-faculdade falando, mas isso não faz sentido nenhum, já que muitos dos presentes (onde me incluo) teriam comprado o DVD na ocasião por impulso e para ter uma lembrança do evento. Muitos destes, inclusive, não virão a comprar o disquinho no futuro, logo foi uma tremenda oportunidade perdida.
A primeira banda a se apresentar foi o durex, ops, o Lurex, banda cover mineira, que começou seu show com a pesada Tear It Up. Seguiram com Tie Your Mother Down, Under Pressure e Mustapha. A presença de palco do vocalista era bem semelhante à de Freddie Mercury, contudo o resto da banda era bem parado, sobretudo o baterista que não chamou a atenção para si em nenhum momento. Claro que em se tratando de covers do Queen, o que interessa para todo mundo é a qualidade do vocal e posso dizer que o cara canta bem… na maior parte do tempo. Em alguns momentos, ele caía em um falsete um tanto quanto falso e irritante. Curiosamente, o cara tem um ótimo vocal e alcança notas bem altas, ou seja, não precisaria apelar para o falsete, e se daria melhor sem esse artifício.
O set da banda foi focado em músicas não tão conhecidas do Queen, como Nevermore, Death on Two Legs e It’s a Beautiful Day para citar alguns exemplos. Isso sem dúvida, levou ao delírio os fãs mais fiéis da banda, pois deu a eles oportunidade de assistir ao vivo músicas diferentes das normalmente tocadas pelas bandas covers.
O final do show trouxe de volta os hits com Bohemian Rhapsody, o grande destaque do show, já que a banda teve coragem de fazer ao vivo a famosa parte do coral. Ficou igual ao do estúdio? É claro que não. Mas me responda, amigo delfonauta: faz diferença? Bohemian Rhapsody é uma composição em que suas nuances e detalhes devem ser admirados em casa, ouvindo a versão de estúdio. Em uma situação ao vivo, ninguém (a não ser aqueles caras muito chatos) fica preocupado em ver se absolutamente todos os detalhes foram tocados. A banda cantou, o público cantou junto, enfim… foi divertido pra caramba, como todo show deveria ser. E a banda sem dúvida ganhou meu respeito por ter tido coragem de reproduzir algo que nem o próprio Queen fazia.
Após Bohemian Rhapsody, veio Hammer to Fall, seguida de We Will Rock You (a versão tradicional, só com a bateria), na qual o vocalista voltou ao palco com uma roupinha de fazer Freddie ficar corado de vergonha (veja as fotos que ilustram essa matéria). Seguiram com We Are The Champions, Keep Yourself Alive e encerraram com Liar, Liar seu ótimo show, que não só cumpriu a função de esquentar a galera para as atrações principais com sem dúvida divertiu muito todos os presentes. Principalmente aqueles que conheciam toda a discografia do Queen.
Durante o intervalo, um divertido concurso de karaokê foi realizado, onde os competidores poderiam escolher cantar I Want To Break Free e Crazy Little Thing Called Love. Obviamente, algumas pessoas cantaram bem, enquanto outras cantaram… bem… digamos que outras tentaram cantar bem. O mais legal foi que essas pessoas que uhn… se esforçaram para cantar bem não foram vaiadas e nem passaram por nenhum tipo de humilhação ou algo do tipo. Pelo contrário, foram até mais aplaudidas do que as outras, dando a impressão de que, mais que um show, o Queen’s Day é uma verdadeira reunião de amigos, que tem como ponto comum o fato de gostarem de Queen.
Após o concurso, mais um grande erro de marketing: novamente o DVD Live At The Bowl foi colocado no telão, mas o pessoal colocou exatamente o mesmo trecho de antes, ao invés de aguçar ainda mais a vontade do pessoal dando mais um gostinho do material contido. Fazer o quê, né?
A próxima banda era a argentina Dios Salve a la Reina e cara… que show eles fizeram. Os caras simplesmente fizeram tudo o que uma banda cover deve fazer. Usaram roupas e perucas para ficarem parecidos com os membros originais. Até a presença de palco de cada um era cuidadosamente copiada dos ingleses. Enfim, um indivíduo mais desligado podia realmente ter a sensação de estar assistindo ao show de retorno da banda homenageada. Musicalmente também mandaram muito bem. Embora em alguns momentos o vocalista desse alguns deslizes (ei, você acha que é fácil cantar Freddie Mercury?), não era nada muito grave e o timbre da voz do cara era bem parecida com a de Freddie.
A primeira parte do show foi centrada nas músicas mais Rock do Queen. Tocaram One Vision, Tie Your Mother Down, I Want It All e Stone Cold Crazy para citar algumas. O grande destaque foi sem dúvida a maravilhosa Innuendo, executada na íntegra e com perfeição pelos caras. Para mim, que sempre quis assistir a essa música ao vivo, foi sensacional. A única música mais Pop tocada nessa primeira parte foi I Want To Break Free, na qual o vocalista entrou no palco com seios postiços e a mesma roupa usada por Freddie no famosíssimo clipe dessa música.
A banda fez, então, uma pausa cujo motivo não entendi, já que tinham tocado apenas uns 40 minutos, enquanto a anterior tocou quase duas horas ininterruptas. Esse intervalo foi aproveitado pela organização para fazerem mais propaganda do DVD (que não estava sendo vendido no local, eu já disse isso?) e fazerem mais um round do concurso de karaokê.
O Dios Salve a la Reina entra, então, novamente no palco e a segunda parte privilegiaria as baladas e músicas mais pop da rainha. Dentre outras, apresentaram Tear It Up, Fat Bottomed Girls, The Game, Show Must Go On, Love Of My Life e Radio Ga Ga, (que teve até coreografia da platéia). Em determinado momento, aconteceu um problema no violão do vocalista e o show teve que dar uma parada. Sem pestanejar, o guitarrista senta no teclado e começa a tocar uma música da carreira solo de Brian May para entreter a platéia enquanto o problema é resolvido. Foi um show de profissionalismo do cara, o que rendeu muitos aplausos por parte da platéia e mais da metade deste parágrafo que você está lendo.
Tocaram também Bohemian Rhapsody – também com o coral ao vivo (que ficou fantástico), viva o Queen’s Day e suas bandas corajosas! – e a festeira Hammer To Fall que, segundo a banda, deveria ter sido a última música. O público não deixou e acabou “convencendo” a banda a tocar mais. E mandaram I Was Born To Love You e We Are The Champions, finalizando o show com o vocalista entrando no palco com a famosa roupa de rainha usada por Freddie e com o guitarrista tirando a peruca para revelar um sujeito que não tinha nada a ver com Brian May. Na minha humilde opinião, foi o melhor show do evento e melhor do que muitos outros shows de bandas grandes que já assisti, como o Children Of Bodom, por exemplo. Após o show, tivemos a oportunidade de bater um papo com a banda e descobrimos que eles estão juntos há 6 anos e tocam apenas covers de Queen.
No intervalo, tivemos a final do campeonato de karaokê e uma apresentação da assessora de imprensa Fernanda de Luca cantando God Save The Queen. Aliás, com o karaokê e tudo mais realizado nos intervalos, o evento se tornou bem mais agradável, já que aquele marasmo mortal comum nos intervalos de festivais foi simplesmente eliminado. Ah, se todo festival tivesse a mesma organização do Queen’s Day…
Antes de comentar o último show do evento, não posso deixar de falar sobre o Teatro Santa Cruz, onde o evento foi realizado. Não sei se é a idade chegando, ou se eu que sou muito chato mesmo, mas o lugar dá um banho nas maiores e melhores casas de shows que eu conheço. O lugar tem uma pista, onde as pessoas podem assistir o show em pé, pularem e festejarem como quiserem, mas também tem lugares para aqueles que, como eu, preferem curtir o show sentado. Ou seja, agrada todo mundo. Além disso, tem um ótimo sistema de iluminação, um belo palco, telão, som da melhor qualidade, é relativamente grande, fica em uma boa localização, é fácil de estacionar nos arredores e o melhor de tudo: tem água de graça. Novamente, talvez eu que seja chato demais, mas acho uma verdadeira crueldade vender algo tão insignificante (na boa, água é barato demais, não tem motivo pra vender um copinho de 200 ml por 3 reais!) e essencial para o conforto da platéia como água (lembrando que os altos preços cobrados pelo produtos nas casas de show leva muita gente a beber água da torneira do banheiro, o que pode fazer muito mal para a saúde). O simples fato de o lugar estar equipado com bebedouros não só deixa o público mais confortável e tranqüilo (e saudável) como, ao menos no meu caso, me deixa mais propenso a consumir comida. Poxa, eu cheguei até a comprar um pão de queijo. E eu nunca tinha comprado nada em shows. Como deu para perceber, o lugar tem tudo o que precisa para fazer ótimos shows, então para os promotores, fica a dica para este ótimo local e a torcida para que muitos outros shows sejam realizados lá. Só para manter a minha fama de mal e não dizer que não coloquei defeito nenhum no lugar, devo dizer que a ausência de um chiqueirinho prejudica o trabalho dos fotógrafos. Mas como dessa vez o fotógrafo não era eu, não incomodou tanto.
Voltando à programação, a última apresentação era do famoso sósia brasileiro do Brian May, o guitarrista Márcio Sanches e seus convidados. Ao entrar no palco, Márcio anunciou que ia fazer um show diferente, mostrando todo o peso e energia do Queen. Para isso, contou com um elenco de vocalistas do Metal nacional, cujo primeiro a adentrar o palco foi o ótimo Nuno Monteiro (atual Liar Symphony, ex-Wombat, cuja resenha do CD você lê AQUI). Márcio e seus amigos já começaram o show com a pesada Ogre Battle, seguida de One Vision, ambas ótimas em suas rendições metalizadas. Após algumas brincadeiras com Black Dog (Led Zeppelin) e No More Tears (Ozzy Osbourne), mandaram Innuendo. Ao contrário das outras, essa já não se encaixou tão bem no vocal de Nuno, além de ter tido uma constrangedora pausa na hora em que a música muda de ritmo, devido a um problema no violão. Após retomar, contudo, os quatro violões presentes no palco deram um ar bem especial para a música. Afinal, é a Innuendo. O problema para os headliners foi que a banda anterior tinha tocado esta música de forma tão perfeita, que acabou diminuindo a magia de ouvi-la novamente em seu show.
Hora de mudar de convidados e Ricardo, do Destra, sobe ao palco para cantar I Want It All e Who Wants To Live Forever, que não ficaram tão legais nessa versão como poderiam. Mais um convidado sobe ao palco: Pit Passarel, do Viper, para fazer um dueto com Ricardo em Under Pressure, que ficou bem legal. Pit também cantou ’39 e Crazy Little Thing Called Love.
Sai Pit e entra Neno (Abstract Shadow / Portrait), para cantar The Show Must Go On. Devo admitir que não gosto muito dessa música (calma, fãs de Queen, é só uma opinião diferente da sua), mas essa versão mais Metal, somada com a ótima performance de Neno tornou a música o grande destaque do show. Ficou simplesmente fenomenal.
Hora de outro Destra, Rodrigo, tocar com Márcio e mandam as belas baladas Save Me e Spread Your Wings (esta última gravada até pelo Blind Guardian). Todos os convidados saem do palco então e Márcio pede permissão para tocar duas músicas de sua autoria. A primeira é um Hard Rock alegre e divertido, que não teve seu nome anunciado pelo guitarrista (ê, Márcio). Porém, como o refrão da música repete This is a Miracle, creio que esse é o nome da música. A próxima música parecia se chamar Quem Precisar de um Sonho, contudo sua letra em inglês me deixou em dúvida se peguei o nome corretamente. Esta é uma balada mais intimista. Particularmente, gostei mais da primeira.
“A próxima é uma música do Queen bem Pop que a gente vai fazer bem pesado” diz Márcio, segundos antes de iniciar I Want To Break Free, com vocais de Neno. O novo arranjo, contudo, não ficou tão legal. Os riffs de guitarra metalzão simplesmente não se encaixaram com as melodias vocais, gerando um resultado um tanto estranho.
Márcio então chama todo mundo ao palco para encerrar o show. Tocam Stone Cold Crazy com vocais do guitarrista Murilo que, me desculpe, ficou horrível. Curiosamente, todos os outros vocalistas ficaram no palco apenas de paisagem já que, se cantaram algo foi apenas uns “Yeahs” ou algo do tipo. O mesmo se repetiu com a saideira We Will Rock You (em sua versão mais legal), que teve os vocais de Pit Passarel.
Curiosamente, o show dos headliners foi o mais curto da noite – e também o mais estranho. Com tantos vocalistas, como não tocar músicas como Somebody To Love ou mesmo Bohemian Rhapsody, cujo coral poderia colocar as outras bandas no chinelo? Além disso, se a intenção era fazer um show com versões Metal do Queen, como deixar de fora a maravilhosa e pesadíssima Princes of the Universe? E não, Márcio, eu não vou parar de falar dessa música até você tocar ela!
A impressão que esse último show passou foi que faltou ensaio. Parecia uma jam entre amigos, já que duetos e corais poderiam e deveriam ter sido melhor aproveitados em seu show. Era comum até vermos alguns dos vocalistas lendo as letras em um papel, o que denuncia a falta de ensaio da banda.
Particularmente, achei muito legal a idéia de fazerem um show Metal do Queen, já que três bandas tocando Queen o dia inteiro poderia ficar um pouco enjoativo. Por outro lado, posso ter achado isso legal pois sou um cara que gosta de Heavy Metal e de Queen. Agora será que alguém que gosta da fase mais Pop do Queen e não necessariamente de Metal ia gostar de ver suas músicas preferidas tão modificadas? O fato é que o lugar esvaziou exponencialmente durante o show do Márcio. Considerando que não estava tarde (o show acabou mais ou menos às 23 horas), isso deixa duas opções: ou o pessoal foi mesmo para ver o Dios Salve a La Reina ou não gostou das novas versões propostas pelo pessoal.
Não entenda pelo que estou dizendo que o show de Márcio foi ruim. Muito pelo contrário, foi muito bom mesmo. Desde que você, como eu, goste de Heavy Metal. Talvez fosse o caso de terem deixado a banda argentina tocar por último, já que seu show era mais longo e tinha até mais produção de palco.
Conclusão final: foi uma tarde muito agradável. Me diverti bastante, assisti Innuendo ao vivo duas vezes e revi alguns amigos que não via faz tempo. Além disso, não morri de sede como costuma acontecer em festivais, o que é ótimo. Se você ainda não teve oportunidade de assistir o Queen’s Day, não perca ano que vem. Se você gosta de Queen, é imperdível.
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