A maior trilogia de todos os tempos. Ao falarmos isso, provavelmente você deve pensar em alguma coisa como Matrix, Star Wars ou quem sabe até De Volta Para o Futuro, certo? Pois é. Poucos colocam nesse rol aquela fenomenal trilogia que alegrou a infância de tantos entre nós, feita inclusive antes de “trilogias de três partes” entrarem na moda. Estou falando simplesmente de três dos filmes mais engraçados da história, realizados em 1988, 1991 e 1994: Corra que a Polícia Vem Aí!
Agora um teste de memória: você, delfonauta, que certamente se lembra das aventuras de Frank Drebin, se lembra do pôster do primeiro filme? Ok, sem forçar tanto, se lembra das capas do VHS ou do DVD? Você já reparou que abaixo do título tem a frase: “Dos arquivos do ESQUADRÃO de POLÍCIA!” escrita exatamente dessa forma? Pois então, essa frase não é uma simples jogada promocional daquelas que vivem habitando os pôsteres, mas uma referência à série de TV na qual os filmes foram baseados. E o mais legal é que a série tem os mesmos escritores (Jim Abrahams, Jerry e David Zucker) tanto no cinema quanto na TV. E mais, conta também com o mesmo protagonista, o tremendão Leslie Nielsen. Justamente por isso, você pode ter certeza que a qualidade é a mesma dos filmes, apenas com episódios de 23 minutos ao invés dos 90 que cada filme costumava ter.
Para quem não se lembra desse glorioso quarteto, basta lembrar que eles também fizeram outros grandes filmes, como Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!. Sem Leslie, contudo, os escritores também participaram de outros clássicos da comédia, como Top Secret, aquele que deu para Val Kilmer um dos grandes papéis de sua carreira. E não, não estou me esquecendo que o cara fez o Jim Morrison, mas esse sem dúvida foi menos importante. 🙂
Trata-se daquele humor que muitos consideram bobo, enquanto outros consideram genial. São basicamente personagens e situações de desenho animado feitos por gente de carne e osso, o que deixa ainda mais nonsense e engraçado, embora para todos os personagens pareça completamente normal, já que eles nunca reagem como se algo estranho estivesse acontecendo. Esse tipo de humor, que muitos conhecem como “humor inglês” tem no sexteto Monty Python seus maiores representantes. Corra que a Polícia Vem Aí! é a mais bem sucedida empreitada estadunidense no gênero e de fato acredito que o único filme que me fez gargalhar tanto quanto a trilogia sagrada de David Zucker (o diretor dos filmes) foi o próprio Monty Python e o Cálice Sagrado, que muitos consideram como o longa mais engraçado da história.
Acredito que se você ainda não lembrou desses filmes, nada mais fará você lembrar, então vamos ao grande motivo desse texto: a série de TV, Police Squad!. Realizada nos idos de 1982, teve apenas seis episódios. Algo raríssimo é que as aventuras de Frank Drebin duraram mais no cinema do que na TV. Façamos as contas, seis episódios de 23 minutos equivalem a 138 minutos. Três filmes de cerca de 90 minutos equivalem a 270. Praticamente o dobro. Agora imagine se outras séries de TV que viraram filme seguissem essa carreira e durassem o dobro no cinema do que na TV? Até como exemplo cito o South Park ou Arquivo X. Ia ficar até engraçado uma agente Scully já velhinha solucionando seus mistérios extraterrestres.
Mas como é a série? Bem parecida com os filmes, devo dizer. Vários dos personagens estão lá, embora interpretados por outros atores. Um bom exemplo é o preferido de muita gente, Nordberg, que no cinema tem a cara do O. J. Simpson e aqui é feito por um ator que nunca vi nem antes nem depois (Peter Lupus). O humor também é o mesmo (inclusive com piadas que depois seriam repetidas no filme) e Nielsen está genial como sempre, com sua interpretação de um detetive de polícia que realmente se leva a sério, enquanto tudo que acontece ao redor dele não tem nada de sério. Cada capítulo também conta com uma participação especial de um ator mais famoso (por exemplo, o William Shatner), que aparece apenas morrendo nos créditos iniciais. Um desses atores é Robert Goulet, que viria a fazer o vilão do segundo filme, Corra que a Polícia Vem Aí! 2 ½. Outra semelhança com os filmes é a abertura, que conta com a tradicional sirene de polícia e a mesma música tema composta por Ira Newborn.
Nem tudo são flores, contudo. Se você gosta dos filmes, é provável que você ria bastante ao assistir ao primeiro episódio. Infelizmente, a série segue o padrão do Chaves. Com isso quero dizer que existe uma fórmula seguida em todos os episódios, ou seja, as piadas são sempre as mesmas, com pouquíssimas diferenças entre os capítulos. Todos eles têm o engraxate sabe-tudo, o cientista excêntrico e a melhor de todas, a piada final que acredito que tenha sido utlizada apenas nos trailers dos filmes e talvez seja a única que não perde a graça. Vou contá-la aqui, então se você não quer saber, pule para o próximo parágrafo. Essa piada satiriza aquelas séries policiais que sempre terminam com uma piadinha sem graça e a imagem se congela enquanto os créditos continuam. Pois aqui os personagens principais param de se mexer, mas todo o resto que acontece no fundo não. Na melhor delas, um policial está com um criminoso preso em uma algema e de repente pára de se mexer quando a música começa. O preso olha para o policial um pouco confuso, não entende nada, pega a chave da algema no bolso dele, se liberta e simplesmente sai andando da delegacia. Em cada episódio, alguma coisa diferente acontece dentro dessa premissa e é sempre muito bom.
Apesar disso, essa fórmula de o roteiro ser sempre muito semelhante é o que faz com que os filmes sejam melhores que a série e também o que impede essa resenha de estar ilustrada com o Selo Delfiano Supremo. De qualquer forma, a série vale ser conferida por todos os órfãos desse tipo de humor tão raro hoje em dia. Pelo que eu saiba, ela nunca passou aqui no Brasil, mas é possível encontrá-la em VHS (apenas importado, eu creio). É uma pena que ainda não tenha sido lançada em DVD, até porque todos os episódios caberiam em um único disco. Mas pode ter certeza que, se algum dia sair para venda, serei o primeiro da fila.
ATUALIZADA: No dia sete de novembro de 2006, saiu lá fora uma versão em DVD desta série, com todos os episódios e alguns poucos extras em um único disco. Extremamente recomendada para todos que gostam desse estilo de humor e nunca tiveram oportunidade de assisti-la.