Não, amigão, você não está ficando louco. O DELFOS está mesmo publicando duas resenhas para shows da mesma turnê. É nossa forma de compensar pelos quase dois anos sem resenhas de shows por aqui. =D
O ponto é que logo após assistir ao show do Ozzy e ler a resenha da Taís “Tis” Boeira, vi que eu tinha uma visão bastante diferente da nossa amiga delfonauta, então resolvi escrever este texto, não como uma resposta, mas para mostrar outro ponto de vista sobre o mesmo assunto, respeitando sempre a opinião das outras pessoas.
Claro que vale mencionar que a resenha da Tis foi sobre o show de Porto Alegre, enquanto a minha se refere ao de São Paulo. Na teoria, foi a mesma coisa, mesmo setlist, mesmos músicos e blá blá blá, mas vai saber se Ozzy Osbourne realmente não se superou por lá? Então novamente enfatizo: não estou desmerecendo o outro texto, tenho apenas uma opinião diferente e achei bacana compartilhar por aqui.
Beleza? Então vamos lá!
TEM ALGO DE PODRE NO REINO DA INGLATERRA
Quando assistimos a uma entrevista recente do Sr. Osbourne, percebemos logo que algo não está bem. O vocalista apresenta uma clara dificuldade de locomoção, articulação nas palavras e raciocínio. Compare com vídeos dos anos 70 e começo dos 80 e você vai perceber a diferença. É como se o Ozzy hoje em dia tivesse virado um Mr. Mackey constantemente chapado (drugs are bad, mmmkay?)!
Claro que o tempo chega para todos, mas quem leu o livro Eu sou Ozzy, esmiuçado aqui no DELFOS pelo José Claúdio Carvalho sabe que esses problemas não estão diretamente atrelados à chegada da terceira idade. Foram décadas de abuso de todos os tipos de drogas e agora o cara está pagando o preço da irresponsabilidade.
Era só assistir a um dos episódios dos Osbournes para perceber que quem exerce o papel de chefe da família é a Sharon, e o Ozzy mal conseguia ir sozinho ao banheiro, imagine subir em um palco.
Isso tudo que eu falei não é nenhuma novidade. O ponto principal é que, entre os fãs, no entanto, existe uma lenda urbana bem antiga (já ouvia lá nos anos 90) de que quando Ozzy sobe ao palco, tudo se transforma e ele manda muito bem nos shows, cantando, pulando e vibrando com uma energia inigualável. Meio Clark Kent / Super-Homem, manja? Lendo resenhas do show anterior realizado em São Paulo há alguns anos (não pude ir naquela oportunidade), parecia que todos eram unânimes ao apontar o cara como um monstro sagrado e, confesso, por tudo isso que li dias antes da apresentação no Anhembi, minha expectativa foi lá para cima.
O GRANDE BALDE DE ÁGUA FRIA NÃO FOI A CHUVA
Bom, mas o gato subiu no telhado, porque toda essa garra e superação não foi o que eu vi nos palcos no último dia 3/4. O que apareceu, isso sim, foi o vocalista travado, com dificuldades para cantar, cercado por uma ÓTIMA banda de apoio que, claro, acaba desviando o foco do problema.
Cara, a banda de Ozzy é muito boa! O guitarrista Gus G., ex-Firewind, carrega bem a tarefa de substituir o “cult” Zakk Wylde. No fundo, tem o mesmo estilão do cara, mas com algumas garrafas alcoólicas a menos.
O problema é que a tal “banda” se chama Ozzy Osbourne e, portanto, é do cara que você espera mais. Isso é óbvio. E é aí que a coisa aperta, amigo.
Não estou desmerecendo o passado! Ver o Ozzy ali na sua frente é uma emoção, sim. O cara faz parte da história do Rock, particularmente do pesado. Eu sou, inclusive, uma das pessoas que preferem o Black Sabbath com o Ozzy do que com Dio e choro de emoção ouvindo o Reunion. Os primeiros cinco álbuns da banda na primeira metade dos anos 70 são obrigatórios para qualquer fã de Heavy Metal e têm uma importância indiscutível, mas me refiro àquele Ozzy, não a este que se apresentou no Anhembi.
Não, amigo delfonauta, eu não esperava uma aula de técnica vocal, até porque Ozzy nunca foi reconhecido por isso, mas no mínimo que conseguisse cantar suas próprias músicas, caramba! O cara simplesmente não tem mais condições de subir a um palco e isso foi mais do que claro para mim.
O show, na verdade, foi 100% dos músicos contratados e dos fãs (esses sim cantaram tudo!), porque o vocalista sussurrava as letras com dificuldade.
O setlist também foi bem escolhido, cobrindo boa parte da carreira “solo” e grandes clássicos do Black Sabbath, mas nada de novo. É o mesmo repertório há anos, provavelmente porque são as únicas músicas que Ozzy se lembra.
Ozzy colocou a bandeira do Brasil nas costas e usou uma mangueira de espuma do corpo de bombeiros para divertir o público, mas cá entre nós, nada disso é espontâneo. No Rio Grande do Sul ele colocou a bandeira do Grêmio e, se alguém jogasse uma bandeira com a capa do Holy Diver, ele provavelmente faria a mesmíssima coisa.
Hoje, Ozzy é isso: um robô no palco, que repete show após show exatamente o mesmo comportamento, e sequer sabe em qual cidade está. Falta aquela espontaneidade, manja? Aquele “Boa noite, São Paulo!” que abre as portas entre público e banda. Falta o “tesão” de estar ali no palco se apresentando para pessoas que te adoram.
A minha única conclusão é que todo mundo achou o show espetacular pelo simples fato de Ozzy estar ali, não pela reciprocidade do artista. Mais ou menos o que aconteceu quando Chuck Berry tocou por aqui há alguns anos também.
Mesmo o fato de morder um morcego de borracha em dado momento parece artificial, como se alguém estivesse no canto do palco soprando “Ok, Ozzy, agora é a hora do morcego”.
Não curto fazer comparações, mas acho que nesse caso é válido para dois artistas contemporâneos de Ozzy que seguem em plena atividade e que já tive a oportunidade de assistir: Alice Cooper e David Coverdale.
Sobre o primeiro, também nunca foi reconhecido pela técnica vocal, apesar de ter desenvolvido sua própria “identidade musical” indiscutível. Independente dos teatrinhos do show de Alice Cooper, o cara tem um carisma invejável e consegue cativar qualquer tipo de público. Ele sabe como retribuir o carinho com uma presença de palco absolutamente espontânea!
David Coverdale segue por uma linha diferente. Não faz encenações no palco, mas é reconhecido pela sua técnica vocal, mesmo que já não tenha o alcance de 25 anos atrás. Mas independente desse lado técnico, ele consegue retribuir também o carinho do público.
Falei isso tudo porque prefiro os álbuns de Ozzy Osbourne aos de Alice Cooper e Whitesnake, mas não tenha dúvidas: eu veria vários shows dos dois últimos sem nem pensar, enquanto os de Ozzy já é outra história.
O meu ponto é esse: hoje, Ozzy não tem mais condições de subir ao palco, mas por sorte e dinheiro tem uma excelente equipe ao seu redor. Deve ser respeitado? Claro que sim! Ozzy é uma lenda viva do Rock e merece todas as homenagens, mas eu não pago mais para assistir a um de seus shows! Prefiro os velhos VHSs ou DVDs.
Em tempo: há alguns dias, saiu uma notícia de que a família Osbourne deve mais de US$ 1.000.000 ao fisco norte-americano. Bom, talvez esse seja um ótimo motivo para abandonar a idéia de aposentadoria e sair pelo mundo fazendo a alegria dos fãs com baixo senso crítico.