A julgar pelo pôster e pelo título, algo me dizia que Outback seria um Rango genérico. E isso me deixou com muito medo.
O delfonauta sabe que eu odiei Rango. Inclusive, o coloquei na minha lista de piores filmes de 2011. Da mesma forma, a julgar pela polêmica na lista em questão e na minha resenha de Rango, eu sei que alguns delfonautas curtiram o filme, e eu respeito isso. Afinal, longe de mim julgar quem tem mau gosto. =P
Eu odiei Rango porque ele contava a mesma história de O Espanta Tubarões (que, por sua vez, reciclava uma história contada em uma pá de desenhos antigos) e ainda repetia várias cenas que todos já vimos em vários filmes. Basicamente, Rango era O Espanta Tubarões trocando o fundo do mar pelo deserto e o gênero “máfia” por “western”. E Outback, meu amigo? Cara, este é Rango sem tirar nem pôr. Ou melhor tirando. Bastante. Ele consegue ser ainda pior que o filme que mostrou para todos nós que Johnny Depp era um lagarto. E eu achava que isso não era possível.
OUTBACK – STEAKHOUSE
Outback – Uma Galera Animal começa com um lindíssimo plano sequência mostrando o sertão australiano e vários bichinhos fofinhos, acompanhado de uma música simplesmente sensacional. Por um momento, eu achei que poderia estar enganado. Este foi meu último momento otimista, pois logo eu lembrei do Professor Girafales e sua célebre frase “a única vez que eu estive enganado foi quando pensei estar enganado”.
Johnny é um coala albino constantemente aterrorizado pelos bullies mais escurinhos. Ele logo conhece um agente que promete fazê-lo famoso. Em sua viagem, ele vê uma alcateia atacando um grupo de animais sortidos. Por um acidente, ele acaba espantando os lobos e se torna admirado pelos novos amigos. Isso pode se tornar um problema, uma vez que ele não é um herói, mas um covarde.
EXATAMENTE a mesma sinopse de Rango e Espanta Tubarões. O clima não é de western, mas o filme se passa em um deserto, assim como Rango. Se não tentaram mudar nem isso, o que dizer de coisas mais específicas?
Eu já falei muitas vezes aqui de filmes que não criam nada, mas Outback leva isso a um novo patamar. Não teve nenhuma cena, nenhum diálogo, nenhuma piada aqui que tenha sido novidade para mim. É tudo tão absurdamente repetido que dá até para dizer que, para economizar dinheiro, ao invés de contratar dubladores, a Playarte poderia ter simplesmente tirado o áudio de vários outros desenhos e colocar aqui. Ia encaixar melhor e com mais facilidade do que o Dark Side of the Moon em O Mágico de Oz.
Além disso, toda a história do filme se baseia em coincidências. Tem uma máxima de roteiro que é mais ou menos assim: “coincidências que colocam os heróis em apuros são aceitáveis, mas coincidências que salvam os heróis é trapaça”. E absolutamente todas as cenas em que Johnny e sua patota correm perigo, eles sempre acabam se salvando por acidentes/coincidências. Como se não bastasse ficar repetindo cenas pra lá de batidas como “o vilão machucado e o herói piedoso” ou “será que o herói morreu?”.
A escolha por não traduzir a palavra Outback também é bem estranha. Essa não é tão conhecida por aqui, nem mesmo das pessoas que falam inglês. E não dá para não estranhar os personagens se referindo ao sertão australiano como “outback”. Por que não traduzir como “sertão” ou simplesmente “deserto” e facilitar a vida das crianças, que são as únicas pessoas que podem tirar alguma diversão dessa porcaria? Não acho que manter o nome internacional vai ajudar muito para vender os brinquedos disso aqui. Na verdade, eu me surpreenderia muito se visse pelúcias baseadas neste filme à venda da próxima vez que for a um shopping.
Por mais que eu odeie Rango, eu destaquei na minha resenha o visual excepcional e o design criativo que deixou simpáticas criaturas que não são exatamente bonitinhas. Outback tem personagens bonitinhos, mas ao contrário de Rango (que usa lagartos, cobras e afins), aqui temos coalas, cangurus e lobos, animais que já são extremamente adoráveis na vida real e, portanto, não representam desafio algum para um ilustrador encarregado em deixa-los bonitinhos.
Tecnicamente, o visual também é bem fraco, deixando claro o pouco dinheiro envolvido na obra. A qualidade técnica é inferior ao primeiro Toy Story e deixa muito a dever até mesmo quando comparada com videogames como God of War III. Considerando que está na mesma mídia e custa o mesmo preço que o último lançamento da Pixar, muito me surpreende que não tenham optado por lançar este direto para vídeo.
Outback – Uma Galera Animal é, provavelmente, o pior filme de 2012. Um lançamento sem vergonha, que tenta ganhar uns trocados refilmando um desenho que, por sua vez, já era uma refilmagem sem vergonha de obras anteriores. Na dúvida, sempre fique com o original. Neste caso, em específico, nem vá para o original, é melhor assistir Valente de novo. Esse também não é lá muito original, mas pelo menos a Pixar sempre dá uma aula na narrativa. E, se você vai simplesmente copiar o que já foi feito antes, uma narrativa sensacional é no mínimo necessária. E não temos nada perto disso em Outback.