Tem várias coisas que não dá para entender nos EUA. Uma delas é a obsessão pelo natal. É incrível a quantidade de gente lá que enriquece explorando o aniversário do nosso senhor Jotacê. De músicos de Heavy Metal (cof… Savatage… cof…) ao Jim Carrey (o carinha faz aqui seu segundo papel do gênero – o primeiro foi O Grinch), passando por grandes diretores.
O diretor de Os Fantasmas de Scrooge é Robert Zemeckis, comandante de maravilhas como De Volta Para o Futuro, Forrest Gump e Uma Cilada Para Roger Rabbit. O problema é que desde que ele decidiu se aventurar nesses desenhos realisticamente assustadores, nunca mais voltou ao cinema tradicional. E, de seus últimos três filmes, dois são de Natal (o outro é este).
E, se você anda não está de saco cheio de caça-níqueis de natal, garanto que não agüenta mais este maldito conto de Charles Dickens. Se você não sabe do que falo, continue lendo e logo reconhecerá.
Ebenezer Scrooge é um caboclo como eu: amargo, solitário e infeliz. Porém, ele recebe a visita do fantasma de seu amigo dizendo que ele precisa repensar sua vida e, para ajudá-lo na tarefa, será assombrado consecutivamente por três fantasmas: o dos natais passados, presente e futuro.
Lembrou agora, certo? Essa história já foi contada em dezenas e mais dezenas de variações no cinema. De comédias com o Bill Murray a fantasmas de ex-namoradas, aposto um fio de cabelo que você já viu algum filme inspirado nesse conto. Aliás, não duvido nada que já tenha visto tantos que nem aguenta mais ouvir falar no maledeto Charles Dickens. Esse é meu caso.
Os estadunidenses estão para esse conto de Charles Dickens como a turminha do teatro brasileiro está para Luigi Pirandello. É uma obsessão nada saudável, que insiste em ficar requentando repetidamente as mesmas obras. No caso de Carlos Pintens, quando a adaptação não é deste A Christmas Carol, é de Grandes Esperanças. E ambas são igualmente insossas, insípidas e sem graça.
Se você nunca foi ao cinema antes e não sabe do que estou falando, trata-se de uma história que visa levar um sujeito amargo a apreciar novamente as pequenas coisas da vida, a ser uma boa pessoa, a tratar bem os outros… Enfim, todas essa baboseiras nas quais ninguém realmente acredita.
No caso específico deste filme, é difícil imaginar algum tipo de pessoa realmente gostando dele. A história é moralista e bobinha demais para agradar aos adultos. Por outro lado, tem algumas cenas um tanto assustadoras, que podem traumatizar nossos queridos e bochechudos pimpolhos.
Sobra o belíssimo visual (embora, cá entre nós, eu não seja nem um pouco fã desse tipo de animação realista) e um montão de efeitos 3D, com cenas que lembram aqueles cinemas 180 graus de parques de diversões, que basicamente eram um filme de um passeio de montanha-russa, lembra?
Considero Robert Zemeckis um dos melhores diretores da história, mas a insistência nesses desenhos de gênero indefinido (que não agradam nem a adultos nem a crianças) está maculando sua obra. É uma pena, pois o currículo do cara era um dos mais impressionantes de Hollywood. Graças a Odin, sempre teremos De Volta Para o Futuro! ^^
Curiosidade:
– O personagem Scrooge foi a inspiração para a criação do Tio Patinhas. Em inglês, ambos até têm o mesmo nome.