Os 7 pecados capitais cometidos por achievements/troféus

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Esta geração de consoles será lembrada por uma única coisa. Não, não será a alta definição, o 3D ou a empurração de caixas. Será, sim, por ser a geração que começou com os achievements e, posteriormente, quando a Sony gritou “eu também”, com sua versão piorada, os troféus.

O QUE É

Para quem ainda não tem um next-gen, trata-se de um sistema de pontuação que não fica salvo no jogo, mas no seu próprio perfil. Assim, quem for bisoiar seu perfil gamístico, verá quantos pontos/troféus você já conseguiu e quanto deles foi em cada jogo. Acaba até servindo como uma forma de um amigo consultar da casa dele quais jogos você tem e quais você jogou mais.

Falando assim, não parece grande coisa e eu mesmo não dei muita atenção para isso quando comprei meu primeiro Xbox 360. Porém, acredite, uma vez que você tem um desses consoles, vai ficar cada vez mais obcecado por esses premiozinhos desgraçados, inclusive procurando guias e fazendo coisas que considera chatas apenas para ganhar um ou outro.

Considero-os, particularmente, uma ideia genial. Da forma que o paradigma dos games evoluiu, o objetivo do jogador deixou de ser terminá-los, pois isso deixou de ser um desafio. Jogar um game moderno é como seguir uma história interativa e, eventualmente, ela acaba. Claro, ainda existem jogos difíceis, mas qualquer gamer dedicado terminou toda sua coleção de jogos ou, pelo menos, aqueles de que gostou. Os achievements/troféus trouxeram o desafio de volta, propondo ao jogador fazer algumas coisas que normalmente não seriam feitas. E conseguir 1000 pontos (Xbox) ou 100% (PS3) nesses desafios é muito mais satisfatório do que terminar a campanha padrão.

E quando esses pequenos desafios são usados de forma criativa, geram ótimos resultados, expandindo a vida útil de vários jogos, especialmente os mais casuais, como os musicais. Porém, a maioria dos títulos normalmente tem vários achievements que são chatos demais. E, se tem qualquer coisa no seu jogo que não é divertida, ela não deveria estar lá. Esse texto tem um objetivo catártico. Vou aqui apontar os sete tipos de achievements/troféus que mais me incomodam e possivelmente incomodam você também. E já sabe: se quiser reclamar mais, o espaço para comentários é todo seu.

Em outras palavras, este é um texto como este ou este, em que nos juntamos para sonhar quão melhor o mundo gamer poderia ser se os desenvolvedores focassem apenas na diversão, não na sua própria masturbação.

E para os que não entendem a birra, dizendo que os troféus são opcionais (nosso amigo Bruno Sanchez, por exemplo, simplesmente os ignora), vocês não sabem o que é ter necessidade de completar tudo o que começa. Dessa forma, esse texto não é indicado para vocês. =)

Mas antes de falarmos do que não fazer, vou dar alguns exemplos de achievements/troféus divertidos e que são exemplos de criatividade e do que deve ser feito. Ah, e para não ficar escrevendo achievements/troféus a toda hora, vou chamá-los a partir daqui simplesmente de troféus (a não ser quando me der na telha usar o outro nome). Afinal, meu videogame de escolha é um PS3 e é mais fácil escrever troféus do que achievements. =)

TROFÉUS LEGAIS

Jogo: Simpsons: The Game
Troféu: Press Start to Play
Descrição: Easiest achievement… ever
Por que é legal: Você ganha esse troféu simplesmente apertando start na tela título. Caso você tenha jogado este título, duvido que você não tenha rido quando ele popou. E se algo me faz sorrir, eu gosto desse algo. ^^

Jogo: Guitar Hero II
Troféu: Rock Snob Award
Descrição: Refuse to play an encore
Por que é legal: Basta se recusar a tocar um bis quando a galera estiver implorando por mais. Outro que é super fácil, mas é legal por ser completamente dentro do clima “rock star” proposto pelo jogo. E, se você se recusou a tocar o bis por qualquer motivo e, logo em seguida, foi chamado de esnobe pelo achievement que apareceu, duvido que não tenha rido.

Jogo: Red Dead Redemption
Troféu: Dastardly
Descrição: Place a hogtied woman on the train tracks, and witness her death by train.
Por que é legal: Para quem não entendeu a descrição, você precisa laçar uma rapariga, colocá-la no seu cavalo, levá-la até o trilho do trem e esperar seu inevitável atropelamento enquanto gargalha maniacamente. Esse possivelmente é o melhor uso para o sistema de troféus que já vi. O troféu simplesmente propõe que você faça algo tipicamente western que não está em nenhuma das fases e normalmente você não faria. Mas é divertido fazer isso e, embora você faça para ganhar o troféu, vai fazer com um sorriso no rosto, ao contrário daqueles que serão citados depois.

Acho que esses três deram uma ideia do que considero um bom troféu. São desafios que não são necessariamente difíceis, mas que incentivam você a curtir ao máximo o seu jogo, propondo atividades divertidas e/ou engraçadas. O jogo Batman: Arkham Asylum, por exemplo, tem uma miríade de troféus legalzudos, que te colocam no clima de “predador” do Batman. Infelizmente, esse mesmo jogo também te obriga a pegar 240 trocinhos genéricos e a fazer algumas coisas difíceis demais (o de 24 medalhas nos challenges de porrada, por exemplo, é o único que me separa do Platinum/100%).

Dito isto, vamos para o prato principal desta matéria. A listinha dos pecados.

1 – NÃO FARÁS TROFÉUS IMPOSSÍVEIS

Pior transgressor: Guitar Hero 5 – Sampler Plate

A descrição do troféu em questão fala que, para recebê-lo, você deve simplesmente jogar uma música em cada modo de jogo. Parece simples e divertido, não? Afinal, você quer experimentar todos os modos de jogo para escolher seus preferidos. Pois é, e seria, se recebê-lo não fosse completamente impossível.

Guitar Hero 5 tem uma infinidade de modos de jogo competitivos, o que é legal. Mas alguns deles têm exigências que simplesmente não são razoáveis. Em um deles, por exemplo, você precisa ter todos os instrumentos e procurar online por uma outra banda completa para fazer uma batalha de bandas. Isso por si só já seria difícil, mas se torna impossível porque não existe nenhuma alma viva jogando esse título online (ou então o matchmaking dele não funciona). Outros modos de jogo exigem que você tenha quatro guitarras, quatro microfones ou, por Satã, quatro baterias! Quem diabos compra quatro baterias? Já estive com três amigos aqui e ficamos esperando muito tempo por uma outra banda que simplesmente não apareceria, porque todo mundo gosta de jogar Guitar Hero offline, com os amigos reais. E claro, é muito mais legal mesmo. E isso nos leva ao próximo passo.

2 – CRIARÁS APENAS DESAFIOS OFFLINE

Pior transgressor: São tantos que nem vale a pena citar, mas o Street Fighter IV tem vários assim.

Muitos motivos podem ser citados aqui. Para começar, aqueles que têm um Xbox 360 têm que pagar para jogar online, portanto, se optarem por não pagar, nunca poderão ter esses achievements, mesmo tendo comprado o jogo. Além disso, esses troféus dependem muito de um monte de coisas que não dá para controlar. Por exemplo, ao criar o troféu acima, do Guitar Hero 5, possivelmente a Activision esperava que o jogo se tornasse o novo Call of Duty. Simplesmente não dá para você saber de antemão se vai ter gente suficiente jogando o jogo. E, no caso de muitos, MUITOS jogos, simplesmente não tem ninguém jogando online!

Além disso, esses troféus muitas vezes realçam o lado negro dos jogadores. Por exemplo, Street Fighter IV tem um troféu para você ganhar dez lutas online seguidas. Tem noção de quão difícil é ganhar isso honestamente, em um mundo povoado por nerds de 14 anos que jogam o dia inteiro? Sabe o que a maioria faz, então? Joga online e, quando vê que vai perder, sai do jogo para não ferrar as suas estatísticas e ter que começar tudo de novo. Isso deixa quase impossível terminar uma luta online no jogo em questão, já que todo mundo está atrás desse e dos outros troféus.

E quando não é assim, sabe o que é comum a turminha fazer? Boosting. Em outras palavras, as pessoas combinam com um amigo de jogarem juntos, daí um ganha dez lutas seguidas e depois o outro. Para evitar isso, as desenvolvedoras costumam programar o troféu para popar apenas em ranked matches, mas em jogos como Guitar Hero 5, onde não tem quase ninguém jogando, é só combinar um horário com alguém e sem dúvida você e seu amigo serão juntados, pois o sistema não teria outra opção. Seja como for, são troféus não merecidos. Em single player, você evita esse tipo de coisa e garante que os jogadores mereçam seus prêmios.

3 – EVITARÁS FRUSTRAÇÃO

Pior transgressor: Mega Man 9 e 10 – Mr. Perfect

O achievement Mr. Perfect, presente nos jogos Mega Man 9 e Mega Man 10 exige que você termine o jogo inteiro sem perder energia. Isso já seria chato e frustrante em qualquer jogo, mas você tem noção de quão difícil é um Mega Man? Imagina você conseguir chegar no último chefe sem ser atingido e daí ele te lasca um pipoco? Holy fuck, só de pensar nisso já fico com vontade de jogar meu controle na estagiária. Duvido que alguém que não seja um japonês virgem programador de games ache tentar isso divertido.

Na mesma toada, entram troféus na linha de “termine o jogo na dificuldade ultra-mega-fuckin’-hard-dick-Chuck-Norris”. Sim, tem gente que gosta de jogos realmente difíceis e essas pessoas vão jogar nas dificuldades mais avançadas pela simples euforia de vencer o jogo. Não tem necessidade de um troféu nesse esquema. Coloque um tradicional, na linha “termine o jogo em qualquer dificuldade” e pronto. Ainda assim, um troféu divertido não deve ser algo relacionado a terminar o jogo ou passar de fase (pois todos os que jogarem terão esses), mas coisas criativas e divertidas que façam o jogador aproveitar melhor sua compra. E já que falamos em aproveitar a compra…

4 – NÃO OUSARÁS COLOCAR LIMITE DE TEMPO

Pior transgressor: God of War – Speed of Jason McDonald

Em tempos passados, quando o objetivo de um jogo era simplesmente terminá-lo e Super Mario tinha warp zones, até poderia fazer sentido (pouquíssimas pessoas jogavam o mundo 2 do primeiro Mario, por exemplo, pois pulavam direto para o 4 na primeira warp zone). Mas hoje ninguém quer comprar um jogo para que ele acabe o mais rápido possível. E nem mesmo o desenvolvedor quer que você termine o jogo rapidinho e o abandone na prateleira. Então para que isso?

No troféu usado aqui como exemplo, é sugerido que você termine God of War em cinco horas. Eu até cheguei a fazer uma speed run, onde ficava correndo o tempo todo e matando apenas o estritamente essencial e consegui o troféu com folgas, tendo terminado o jogo em cerca de três horas. Mas pergunta se eu me diverti fazendo isso. A resposta é “nem um pouco”.

Outros jogos, como Monkey Island, Mega Man e GTA IV têm troféus assim e todos são igualmente chatos. Ninguém gosta de fases com tempo, muito menos de troféus que exijam que você mate o jogo fazendo tudo correndo.

Uma outra variação deles é Day Tripper, de The Beatles – Rock Band, que exige que você comece uma nova carreira e toque todas as músicas em menos de 24 horas. Super fácil, já que o jogo tem menos de três horas de música, mas igualmente chato. Por acaso você quer terminar o seu jogo novo rapidinho para ganhar um troféu ou quer jogá-lo no seu tempo, sem pressa, e repetindo as músicas que mais gostar? A resposta é óbvia, né?

5 – DEIXARÁS GRINDING PARA OS MMORPGS

Piores transgressors: Dead Space, Dead Rising 2, Uncharted, Red Dead Redemption, X-Men Origins: Wolverine, God of War III e muitos outros.

Grinding é o ato de ficar repetindo uma atividade pentelha para subir de nível ou atingir algum outro objetivo. E um dos troféus mais comuns por aí é o que exige que você mate 45.679 inimigos (o número varia, mas é sempre um montão) com cada uma das armas ou golpes disponíveis no jogo. O problema é óbvio: nunca todas as armas ou golpes são igualmente eficientes e muitos deles costumam ser absurdamente chatos. Já tentou jogar Dead Space com o lança-chamas? É horrível! Você pode até exigir que eu mate 45.679 inimigos, mas pelo menos me dê o direito de escolher como eu quero matá-los, caramba! Não me obrigue a fazer quase o jogo inteiro com uma arma que nem deveria ter chegado à versão final.

Uma variação desse pecado capital é obrigar o jogador a fazer fazer vários headshots seguidos sem errar nenhum (o que junta esse pecado com o da frustração supracitada). No geral, sugira atividades a serem feitas, mas não como fazê-las e você já consegue evitar este pecado.

6 – NÃO OBRIGARÁS O JOGADOR A COLECIONAR COISINHAS

Pior transgressor: Infamous – Rock Hound

Sinceramente, eu não me lembro de nenhum jogo dessa geração, excluindo os de luta, que não têm seu mundo repleto de coisinhas colecionáveis. São tesouros, macacos, bolinhas, figurinhas, cog tags, até Playboys! todo jogo tem um monte de coisa espalhada por toda a sua duração, com o objetivo de fazer o jogador checar cada canto. E isso é um motherfuckin’ saco! Ninguém gosta de ficar pegando essas coisas, mas pior mesmo é quando isso vem associado a um troféu (ou seja, quase sempre).

Em Assassin’s Creed II, por exemplo, você fica coletando peninhas. Cara, eu consegui todos os troféus do jogo, menos o maledeto “pegue todas as penas”. E, obviamente, esse eu nunca vou conseguir. Ok, nesse caso faltaram mais de 30 penas para completar as 100 que existem, mas o pior mesmo foi a minha história com Infamous.

Nesse, o troféu Rock Hound exige que você pegue todas as 350 shards espalhadas pela cidade. Eu não apenas consegui todos os troféus com a exceção desse, como consegui encontrar TREZENTAS E QUARENTA E NOVE motherfuckin’ shards. Não bastasse o exagero de colocar 350 troços a serem encontrados no mundo do jogo, é apenas uma delas que me separa do Platinum de Infamous. É possível ser mais frustrante que isso? E nem adianta pegar um mapa, pois isso exigiria que eu fosse procurando todas, uma por uma e, considerando a lei de Murphy, obviamente eu só encontraria a que falta no 350º lugar que eu fosse olhar.

Por isso, amigos programadores malvados, se realmente for necessário colocar esse troféu, pelo menos faça como Uncharted, onde cada tesouro tem um nome único. Dessa forma, é fácil para o jogador procurar uma lista completa na internet e simplesmente riscar os que já encontrou e ir direto para os restantes.

7 – NÃO ESCONDERÁS ACHIEVEMENTS

Pior transgressor: Praticamente todos os jogos existentes.

A possibilidade de fazer achievements e troféus ocultos, onde você não pode ler a descrição até cumprir seu objetivo, visa evitar spoilers da trama. Se tem um troféu chamado “mate Joãozinho” e o Joãozinho é seu guia no começo do jogo e vai te trair no final, simplesmente ler o título do troféu estragaria a surpresa. Por causa disso, jogos como Heavy Rain, cujo foco é somente na história, têm praticamente todos seus troféus ocultos. E tudo bem, nesse caso.

Porém, qual é a utilidade disso em jogos musicais? Guitar Hero: Smash Hits, por exemplo, tem um troféu oculto cujo objetivo é simplesmente fazer dois milhões de pontos na Free Bird. Por que diabos ocultar isso?

Mesmo em jogos com histórias, é comum ocultarem troféus que não têm nada a ver com ela. Coisas como “mate 10 inimigos na fase X” ou “ganhe 10 corridas com o mesmo carro”. Isso leva a apenas dois únicos caminhos: ou o jogador ganha o troféu por puro acidente ou ele procura na internet a descrição dos troféus ocultos. Na primeira, ele sequer pensou em cumprir aquele desafio, o que faz popô no fato de que esses desafios servem para te dar incentivos além da trama principal. Na segunda, ele “roubou” buscando o que fazer para ganhar. Em nenhum dos casos, o troféu foi devidamente aproveitado.

Por isso digo: absolutamente todos os troféus que fazem parte da história do jogo e serão destravados naturalmente no decorrer do jogo devem ser ocultos. Mas nenhum outro. Nunca, sem exceção!

PECADO CAPITAL BÔNUS, EXCLUSIVO PARA DONOS DE PS3: KCT, SONY! PÁRA DE F*DER COM MEUS 100%!

Todos nós já passamos por isso. Compro um jogo novo e, através de muito esforço, consigo todos os troféus e os merecidos 100% nele. Um tempo depois, conheço uma garota na balada e, ao falar da minha coleção de mais de mil troféus, ela fica doidinha para que a leve em casa para vê-los. Daí, na hora de impressionar a moçoila, vemos que os 100% agora são 67%. What the flying fuck?

O flying fuck que aconteceu é que o jogo ganhou um DLC e esse DLC traz novos troféus. Isso é até legal, pois significa que aqueles que comprarem o conteúdo adicional terão novos objetivos para brincar. Mas pô, por que diabos esses novos objetivos diminuem a porcentagem dos troféus originais?

Será que não dava para o DLC em questão abrir uma “nova pasta” dentro do nome do jogo, separando os novos troféus? Ou talvez esses troféus serem adicionados à porcentagem anterior? Afinal, se um caboclo tem 133%, você já deduz imediatamente que ele conseguiu todos os originais e mais os do DLC. Ou melhor ainda, coloquem algo como “100% + 67%”, sendo que o primeiro é a porcentagem dos troféus originais que ele completou e o segundo é a porcentagem no DLC”.

Esse não é um problema para os donos de Xbox 360, pois os achievements, bastante superiores aos troféus, dão pontos. Cada jogo fornece originalmente mil pontos, o que seria o equivalente aos 100% do PS3. Assim, se um caboclo tem 1250 pontos em determinado título, você já deduz que ele pegou todos os originais e alguns bônus.

Mas não, a Sony optou por mais uma cuspida na cara do seu público. Sabe por que ela faz isso? Para você querer seu 100% de volta. E sabe qual é o único jeito de conseguir seu 100% de volta? Comprando o maldito DLC. Evil monkey para você, Sony!

E aqui termino, por hoje, minhas demandas rumo a um mundo gamer melhor, mais justo e mais divertido. Se quiser fazer suas próprias, já sabe. O espaço dos comentários é todo seu.