Já falamos bastante aqui sobre a monotemática do cinema nacional. Ou é favela, ou é sertão ou é ditadura (sim, são três temas, mas é monotemático mesmo assim, seu cabeça de mamão!). Também já falamos como nenhum dos três faz parte da minha realidade e, pelas estatísticas geo-sociais que temos dos delfonautas, também não faz parte da sua.
O que faz parte da nossa realidade, no entanto, é uma cidade grande acinzentada, poluída e cheia de prédios. Estamos tão acostumados a ver as metrópoles norte-americanas nos cinemas que começamos a achar que aquela é a cara de uma cidade grande. Eu não sei se Os 3 foi filmado na gloriosa Saint Paul, mas vou dizer: a cidade do filme é feia como se fosse. Chega a ser chocante o fato de só percebermos quão feia é a nossa cidade ao vermos a dita-cuja na tela grande. Sim, o que temos aqui tem exatamente a cara de cidade grande que a gente conhece da vida real, e o troço é tão feio e cinzento que parece cenário da série Jogos Mortais.
Embora Os 3 seja um filme totalmente urbano e distante dos três temas preferidos da nossa sétima arte, a cidade grande não é um “personagem” no longa. O foco aqui é mesmo nos personagens humanos. Nos 3. Rá! =P
São dois mancebos e uma rapariga que estão sempre juntos, mais ou menos como o organismo de três cabeças do Encontro Delfiano.
Após terminarem a faculdade, começam a sofrer da tal “separation anxiety”, mas são convidados a protagonizar um reality show internético, o que dá a desculpa para continuarem juntos. De início, o programa é um fracasso retumbante. Afinal, a vida de verdade é chata ou, em termos roteirísticos, “a vida não faz arco dramático”. Mas isso é facilmente solucionável, e o organismo de três cabeças do filme resolve isso começando a roteirizar, enchendo a história de sexo, conflito e violência.
Premissa interessante, que serve como pretexto para desenvolver os personagens como pouquíssimos fazem. A relação dos protagonistas, embora siga um arco dramático já bastante conhecido, é interessante e bem desenvolvida, e a ambientação urbana, em um cenário com o qual muitos podem se identificar, ajuda bastante a tornar o filme interessante e relevante.
O final, por outro lado, parece corrido, pouco desenvolvido e sem amarrar tudo que deveria. Não se trata de um final aberto, mas apressado mesmo, o que é uma pena se considerarmos todo o ótimo desenvolvimento até então.
Os 3 é um filme interessante. Além de sair dos batidos temas comuns ao cinema nacional, consegue fazer isso bem e falar com um público jovem que está muito mais ligado em reality shows e na internet do que na seca do nordeste ou no tráfico de drogas.