Se você é fã dos filmes chineses de porrada, pode até nunca ter pensado em misturar Jackie Chan e Jet Li no mesmo filme. Porém, quando ficou sabendo que fizeram isso, sem dúvida deu um pulo e gritou “eu quero”, exatamente como eu. Afinal, são os dois astros chineses mais famosos mundialmente – e ambos são mais famosos por suas habilidades em cenas de ação cabulosas do que por suas capacidades interpretativas. E isso não faz a menor diferença, pois, como o Governator já nos ensinou quando ainda era um cara legal, atuar em filme de ação é coisa de frutinha. E os chineses sabem muito bem disso.
Contudo, se você espera por violência, membros decepados, explosões e coisas do tipo, devo fazer alguns avisos/declarações:
1 – Você nunca viu um filme chinês de ação, onde a porrada está muito mais para dança e poesia do que para violência.
2 – Você nunca viu nenhum filme com o Jackie Chan, pois o cara só faz longas bonitinhos.
3 – Apesar de ser ação quase ininterrupta, O Reino Proibido é, sim, um longa bonitinho. E isso é ótimo.
Saca a sinopse: um moleque é fascinado por filmes de Kung Fu, porém, embora tenha bastante conhecimento intelectual sobre as técnicas de luta, não consegue pô-las em prática. Assim, ele é constantemente humilhado pelos bullies locais. Um dia, um bastão mágico cai na sua mão e de repente ele se vê transportado para a China antiga, onde conhece um bêbado que vai encarregá-lo de devolver o bastão mágico ao seu dono legítimo. Como você deve ter percebido, a história é completamente Sessão da Tarde. E a partir daí, temos um monte daquelas cenas de luta maravilhosas, onde as pessoas ficam voando de um lado para o outro, aulas de filosofia oriental à Karate Kid e piadas quase ininterruptas, incluindo várias referências a videogames, tanto nos diálogos quanto nas cenas.
Provavelmente os delfonautas gamers devem querer saber mais dessas referências. Bom, temos magias à Street Fighter e uma das personagens usa seus longos cabelos brancos para atacar seus desafetos, o que me fez lembrar nostalgicamente do último chefe do legalzudo Revenge of Shinobi de Mega Drive. Mas tem muito mais, inclusive alguns jogos são citados nos diálogos do longa, o que demonstra que o roteirista John Fusco sabe do que está falando.
Outro que sabe o que faz é o diretor Rob Minkoff. Se o nome não ajuda, você com certeza lembrar-se-á de um dos trabalhos dele: O Rei Leão, talvez o desenho visualmente mais bonito da Disney. E ele mostra que ainda está em forma, pois O Reino Proibido é tão belo esteticamente que é difícil acreditar que se trata de um filme estadunidense (não que estadunidenses não consigam fazer obras bonitas, mas pelo fato de ele ser muito semelhante a um longa chinês legítimo).
Após a introdução e o transporte mágico do moleque para a China antiga, praticamente todos os atores são orientais e a única coisa que entrega a nacionalidade da obra é mesmo a língua falada. O resto é completamente autêntico e não é “ocidentalizado”, como acontece com Matrix, por exemplo. Claro, o protagonista ainda é estadunidense, mas se não fosse o caso, provavelmente o filme seria uma bomba lá na terra do Tio Sam, e ninguém quer isso, até porque a nacionalidade do mano não atrapalha.
Como o delfonauta está vendo, eu estou só elogios para este filme, o que pode causar estranhamento pelo fato de a honraria máxima do entretenimento, o Selo Delfiano Supremo, não estar ostentando esta página. Pois então, eu precisei miguelar a medalhinha porque ele infelizmente dá uma bela de uma esfriada lá no meio, na parte do deserto, que conta inclusive com uma piada grosseira, desnecessária e completamente fora da personalidade previamente estabelecida dos personagens. Parece até coisa saída de um daqueles filmes dos irmãos Wayans, manja?
Isso, é claro, não chega a estragar o filme, como você pode ver pela quantidade de dragões lá em cima. O Reino Proibido é um longa muito divertido, e consegue ser bonito e engraçado ao mesmo tempo. A história não apresenta grandes novidades, afinal, é um Sessão da Tarde, mas se você não se divertir com ele, você deve ser muito chato. E, se esse for o caso, o que você está fazendo no DELFOS?
Curiosidades:
– Este filme tem o maior número de cenas mostrando o mesmo personagem acordando de um pesadelo que eu já vi.
– Contribuindo para o clima Sessão da Tarde, o final é daqueles super-hiper-mega-extra-felizes, que não se satisfaz apenas em amarrar as pontas, mas também em mostrar que tudo deu certo para todo mundo e ninguém saiu machucado. Em uma época que está na moda ser sorumbático e depressivo, foi refrescante ver um final assim.
– Se você também gosta de moças orientais, não vai se deslumbrar apenas com a beleza dos cenários, pois existem duas personagens lindíssimas aqui. Contudo, uma delas aparece também no presente e é engraçado como, de calça e camiseta, ela perde boa parte do apelo que tinha quando estava com suas roupas tipicamente chinesas.