Alguns filmes podem ser julgados por seus primeiros minutos. No caso deste, vemos um caboclo que escapa de uma tentativa de assassinato e, segundos depois, pula de um prédio, atravessando vidros em câmera lenta e matando uns cinco ou seis desafetos que se encontram no telhado do arranha-céu em frente. Nesse momento, a turminha dos filmes iranianos sai da sala reclamando do exagero e da falta de realismo, mas delfonautas e delfianos já estarão com seus olhos brilhando, suas mãos fazendo chifrinhos e exclamando em uníssono: hell, yeah, bitch!
A história, aliás, lembra muito Matrix ou até mesmo Men In Black. Manja aquele negócio de um maninho comum (no caso, James McAvoy, de O Último Rei da Escócia e sósia do Zach Braff) que descobre possuir habilidades especiais que permitem a entrada em um mundo antes inimaginável para fazer coisas que julgava impossíveis? Pois entonces… Neste filme, a sociedade secreta em questão tem o criativo nome de Fraternidade e é um grupo de assassinos que matam em nome do bem ou, para usar o seu próprio lema, “matam um para salvar milhares”.
Sabe o que mais a história lembra? Assassin’s Creed. Pois é, pois é, pois é, caro delfonauta. Aliás, o negócio é tão parecido que não duvido nada que os roteiristas que desenvolveram a história do jogo tenham sido inspirados pela Graphic Novel de Mark Millar e J.G. Jones, na qual o longa se baseia.
Embora seja legal, a história não traz grandes novidades. Agora as cenas de ação são cabulosas – e é uma mais exagerada que a outra, bem do jeito que a gente gosta. Além disso, o excelente uso de câmera-lenta e de focos faz com que seja impossível não elogiar a direção de Timur Bekmambetov (que curiosamente dirigiu o chatão Guardiões da Noite). Para mim, a única coisa que não deixa dizer que elas são esteticamente perfeitas é o excesso de câmeras tremidas, que muitas vezes impede que o espectador tenha certeza do que está acontecendo. Estou para ver alguma tremedeira de câmeras que realmente justifique a perda na clareza e cada vez mais acredito que esse é um artifício para contornar cenas que não ficaram muito boas. Assim, você não deixa seu público ver que o não deu para ficar perfeito e pode usar a desculpa esfarrapada de que “é para a turminha se sentir lá”. Aliás, pensando assim, isso até torna o negócio mais aceitável, pois deixa de ser uma decisão estética (e, conseqüentemente, burra, pois só deixa o filme mais feio), mas algo necessário para contornar problemas de orçamento.
Seja como for, alguns câmeras com Mal de Parkinson não são capazes de estragar a emoção de ver um carro dando um looping enquanto o motorista mata seu alvo pelo teto solar de outro veículo e depois sai dirigindo normalmente. Outra cena que mostra a estética apurada e que merece destaque é a do teclado – repare nas letrinhas que saem voando na direção da tela.
Aliás, essa cena do teclado também merece menção pelo efeito catártico, já que é impossível que qualquer pessoa que viva na sociedade atual não se identifique com as frustrações que o protagonista sente no início do filme. Fenomenal! *-*
Por todo o efeito catártico, pelas cenas de ação exageradamente lindas e por uma história deveras divertida, não tinha como negar o Selo Delfiano Supremo para O Procurado. Admito até que não queria dar o prêmio, já que venho distribuindo a medalha com muita freqüência ultimamente (e ainda tem uns manos que dizem que o DELFOS só fala mal das coisas – eles que vão ouvir Pagode), mas como não achei nenhuma justificativa para não fazê-lo, lá está ele, glorioso. Só espero que o filme não acabe gastando todo ele de uma vez, pois agora pretendo ficar bem mais do que uma semana sem distribuir essa honraria por aqui. 😉
Curiosidade:
– O elenco conta com o rapper Common, que chegou a ser anunciado como o Lanterna Verde do filme da Liga da Justiça. E, embora o papel do cara aqui seja bem pequeno, até que ele mandou bem.