Está acontecendo em São Paulo o festival de documentários É Tudo Verdade, e um dos filmes chamou minha atenção. Falo de O Processo, filme de Maria Augusta Ramos que documentou todo o processo envolvendo o impeachment da nossa ex-presidente Dilma Rousseff.
Ao contrário da maioria dos documentários, não há entrevistas com especialistas ou com os envolvidos. Ao invés disso, a equipe optou por acompanhar cada passo do processo sem intervir nos acontecimentos, apenas filmando coletivas de imprensa e votações.
Por um lado, isso legitima o documentário, deixando-o mais documental e menos opinativo (embora a opinião da diretora fique bem clara). Por outro, deixa também mais chato. Se você já assistiu a algumas horas de TV Senado (parabéns pela paciência), já tem uma boa noção do que vai acontecer aqui.
Além dessas cenas, boa parte do filme envolve o registro das reuniões da turma que defendia a ex-presidente no processo, o que acaba sendo o mais único do filme. Seria legal se houvesse cenas como essas também do outro lado, ou seja, dos acusadores, mas não é o caso. Talvez eles tenham negado a permissão de filmar, talvez a equipe nem tenha solicitado. Mas o filme é enfraquecido pelo fato de ser protagonizado pela defesa, sem dar o mesmo espaço para os rivais.
O PROCESSO
Os melhores momentos, no entanto, são as discussões entre os políticos e advogados, que possibilitam ver de forma mais didática o caso que cada lado defendia. É uma pena que boa parte da projeção seja ocupada por momentos inúteis. Por exemplo, tem um plano que deve durar uns dois minutos, que simplesmente mostra a Janaína Paschoal se alongando. Para que isso?
E não é o único. Entre cada cena realmente interessante, sempre tem uma longa demais mostrando algo banal, tipo um dos advogados falando no celular com a família. O filme dura 2h17m e, sem brincadeira, dava para tirar cerca de 60 minutos disso sem excluir absolutamente nenhuma informação.
Vivemos em um momento delicado no Brasil, e eu costumo ir atrás de qualquer coisa que possa me informar. Neste aspecto, O Processo entrega. Eu saí da seção mais bem informado do assunto do que quando entrei. Ainda assim, como documentário, ele poderia ser bem mais elaborado – e bem mais curto.