O potencial perdido do Wii

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Agora que baixou a poeira do lançamento, podemos conversar seriamente sobre um assunto que me preocupa bastante: o Wii. Muito se comentou e se comenta sobre o atual console da Nintendo. O videogame ganhou espaço na mídia pela sua jogabilidade revolucionária, potencial esmagador, a diversão da família moderna (divulgaram até um vídeo há algum tempo com uma vovó jogando), entre outros confetes. Mas verdade seja dita, pouco se viu de concreto até o momento na realização desta utopia.

Eu sempre fui um nintendista assumido, daqueles fanáticos mesmo, em minha trajetória “gamística” (já com mais de 20 anos). Meu pé atrás com a “Big N” começou com o Nintendo 64 e a falta crônica de jogos e franquias famosas. Após a quase exclusividade com Capcom e Konami no Nintendinho e Super Nintendo, o 64 foi praticamente ignorado pelas grandes produtoras e a sua teimosia em usar a mídia cartucho ao invés do CD. Uma única produtora (no caso, a própria Nintendo em parceria com a Rare), não consegue sustentar um sistema e foi o erro básico de estratégia que possibilitou a liderança folgada da Sony desde então.

A partir daí, foram só decepções no campo dos consoles domésticos. Tive o Gamecube por poucos meses e vendi por não concordar com o direcionamento de seus jogos, mesmo que alguns exemplares ainda tenham se sobressaído, como o ótimo Resident Evil 4, que acabou saindo também para PS2 no final das contas.

Depois, a Nintendo anuncia o inovador Wii. Mas assim que divulgaram as primeiras informações técnicas, já fiquei com o pé atrás DE NOVO. Pôxa, o videogame sairia com um controle excelente, mas com gráficos da geração passada? Por que não lançar um produto realmente completo, como na época dos 8 e 16 bits, onde o avanço de uma geração incluía nova jogabilidade (o que na época representava mais botões, mudança no direcional e novo formato) e modernização no visual, cáspita?

Muitos dizem que é o preço das peças, mas então algo está muito errado com a área de engenharia das empresas que não buscam preços competitivos e se limitam a inovar apenas em um campo: ou a jogabilidade (Wii, com gráficos do passado) ou se investe nos gráficos (Playstation 3, com controle do passado, no caso, de duas gerações passadas, já que é o mesmo formato do PS1 e não conta com vibração).

Apenas a Microsoft e seu Xbox 360 soube ser esperta o suficiente para inovar nas duas frentes e, diga-se de passagem, não fez mais que sua obrigação. Uma pena que esse conceito de inovação completa de um produto tenha se perdido no tempo.

Quando finalmente coloquei a mão no bichinho para queimar minhas calorias conforme anunciavam, empolgados, todos os veículos gamers, veio a decepção. Convenhamos: quem já jogou o Wii Sports sabe que é legalzinho, mas enjoativo e limitado pra caramba. O tênis, por exemplo, se limita apenas a rebater a bolinha, você não tem mais nenhum controle sobre o movimento do personagem na tela e o boxe é uma versão moderna daqueles games olímpicos dos anos 80, tipo Track ´N´ Field: ao invés de ficar apertando um botão feito louco, você tem que ficar mexendo seus braços que nem um retardado e sem muita lógica.

Verdade seja dita, Wii Sports só teve algum destaque, porque foi o primeiro jogo de uma safra que fazia as pessoas se mexerem, mas a parte técnica do título é péssima, com gráficos de duas gerações atrás e sons tirados diretamente dos consoles de 8 Bits. Custava a Nintendo ter deixado a preguiça de lado e caprichado – mesmo – no que seria o grande chamariz de sua nova tecnologia? Lembro quando os consoles vinham com jogos como Super Mario Bros, Super Mario World, Altered Beast ou Alex Kidd que, se não eram os mais avançados da época, pelo menos mostravam de fato o potencial técnico do console. Mas o Wii Sports, francamente… e que não me venham falar de Miis porque aí já parto para a agressão pessoal.

Sempre fui um defensor ferrenho que a jogabilidade é mais importante que os gráficos. No caso do Wii, este seria o exemplo perfeito, mas infelizmente os problemas citados no parágrafo anterior são muito mais frutos da preguiça da Nintendo (ou cumprimento de prazos e cronogramas apertados, nunca planejados com a devida antecedência) do que limitação do hardware.

Um videogame não se faz apenas pelo hardware ou suas possibilidades. Ele também deve ter jogos que chamem a atenção perante a concorrência predatória atual. E quais jogos do Wii realmente se destacam após quase um ano do lançamento? Pouquíssimos. E isso me assusta!

Vamos lá, qual você se lembra? Zelda e Metroid Prime 3 (que acabou de sair), são os nomes que me vêm imediatamente a cabeça. O também alardeado Red Steel foi um balde de água fria. Bobo e repetitivo. Lançaram uma cacetada de jogos com minigames estilão Mario Party, mas no fundo são versões estendidas de tudo que já foi mostrado em Wii Sports e Wii Play (a continuação em espírito do Sports, digamos assim), mas é pouco, muito pouco para justificar um console teoricamente moderno e com um recurso tão bacana quanto o novo controle.

Esse princípio de jogos com minigames tem me deixado com a pulga atrás da orelha há algum tempo. Não dá para basear todo funcionamento de um sistema nesses exemplares. Por que não lançar um jogo de tênis decente? Ou um de sinuca? Ou mesmo um boxe? Ao invés de lançarem 500 versões simplificadas e bobinhas, com pouquíssimas diferenças entre si?

Agora a Nintendo anunciou o novo acessório, Wii Zapper, que virá com mais um jogo inédito: Link’s Crossbow Training. Ainda não vi fotos do dito cujo, mas pelo andar da carruagem, será baseado na engine do Twilight Princess e, para variar, parece ser um minigame simples e bobinho. Saudades de Legend Of Zelda: A Link To The Past, Super Metroid, Earthbound e Star Fox.

Todos os jogos que saíram para os consoles da nova geração e foram convertidos para o Wii, ficaram os mais fracos: Call Of Duty 3, Splinter Cell: Double Agent, Far Cry Vengeance ou mesmo os novos Medal Of Honor. Nenhum se adaptou bem e talvez aí não seja nem culpa da Nintendo, mas das produtoras que ainda não conseguiram explorar a nova jogabilidade de uma maneira convincente.

Por que ninguém se prontificou ainda a lançar um óbvio FPS decente? Nada, tudo o que vejo para o futuro, com exceção de Super Mario Galaxy, são minigames ou jogos de dança. Sim, o Wii está vendendo horrores, mas muito mais pelo que ele poderia fazer (e pelo hype causado pela mídia) do que pelo que efetivamente fez até o momento.

A tão chamada jogabilidade do Wii também não é tão inovadora assim. Em 1989, a própria Nintendo lançou um acessório para o seu videogame de 8 Bits chamado Power Glove, uma luva mesmo que controlava o personagem na tela, mas não funcionava muito bem (a sensibilidade era bastante imprecisa).

Já nos anos 90, a Sega lançou um acessório para seu Mega Drive, chamado Activator, que seguia um conceito similar de jogar em movimento, no caso mais focado em jogos de luta, mas também não funcionava com precisão e foi um fracasso comercial.

Recordo-me de um fliperama de uns 10 anos atrás (infelizmente, não lembro o nome) onde você tinha uma espada de verdade e enfrentava inimigos em uma catacumba que seguia um conceito bastante parecido com o controle do Wii, mas também era bastante limitado.

Ou seja, o grande mérito da Nintendo não foi o de inovar, mas sim lançar um controle que realmente funcionasse, porque as idéias já existiam há pelo menos duas décadas.

Não posso deixar de mencionar também as péssimas opções de distribuição que a Nintendo tem adotado ao longo dos anos, especialmente no Brasil. O Corrales já comentou exaustivamente sobre a estúpida falta do produto nas lojas de eletrônicos mundo afora, mas por aqui a coisa é ainda mais idiota.

Não me conformo como uma gigante dos videogames deixa seu nome e reputação nas mãos de empresas sem nenhum conhecimento no ramo, como a Latamel e sua famosa fórmula “preço em dólares X 10 = preço em reais”. Fica aqui meu protesto contra esta importadora pelos seus preços absurdos e total desconhecimento do assunto.

O medo de todos os jogadores com alguma experiência é que o Wii seja sempre lembrado como aquele videogame que tinha muito potencial, mas nunca saiu do lugar. Parafraseando o Caetano Veloso e sua famosa frase sobre a MTV em um dos VMBs passados: “Ô, Nintendo, bota essa po**a para funcionar!”.

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