O diretor Wes Anderson continua em sua jornada particular para se tornar um dos autores mais característicos e instantaneamente reconhecíveis do cinema estadunidense. Impressionante a unidade que ele consegue dar a cada novo trabalho, seja visual ou também textual, criando algo sempre coeso e, é preciso dizer, bastante extravagante.
Em seu novo filme, O Grande Hotel Budapeste, quem conhece seus trabalhos anteriores não terá grandes surpresas. Encontrará uma comédia divertida, pautada por um texto rebuscado e cheio de situações e personagens nonsense e um visual de cair o queixo, altamente detalhado, colorido e bonito.
A trama se passa no hotel que dá nome ao filme, situado numa cidade europeia fictícia e conta principalmente a história de Gustave H (Ralph Fiennes), seu conciérge mais famoso. Junto de seu novo protegido, o ajudante Zero Moustafa (interpretado quando adulto por F. Murray Abraham), Gustave irá se envolver numa trama muito louca envolvendo uma herança familiar, um valioso quadro e a guerra que estoura na Europa no meio disso tudo.
Mas isso na realidade é só o básico do básico, e o filme apresenta ainda muito mais, que não vem ao caso contar aqui. Talvez este seja o filme de Wes Anderson que mais me lembrou os absurdos de um Monty Python, pois muitos dos desenvolvimentos da narrativa remetem bastante às clássicas esquetes da trupe inglesa, abusando do já citado nonsense, de toques de surrealismo, e também do bom e velho humor mais bobo e não menos funcional.
A direção de arte, como sempre em seus longas, é um espetáculo à parte, de encher os olhos. Detalhada ao extremo, muitas vezes dá até vontade de ficar prestando atenção só nos cenários de tão criativos e decorados que são. Muitos dos planos de Anderson também são muito interessantes visualmente, especialmente quando opta por empregar técnicas de filmagem mais antigas.
Todos esses fatores deixam a película com uma cara única, incomparável. Talvez seja forte candidato ao filme visualmente mais bonito do ano. E com certeza já tem um dos maiores elencos. Sério, dá uma olhada na ficha técnica e veja só quantos nomes conhecidos aparecem. Wes parece ter uma baita moral com esses atores, pois ele já trabalhou com a imensa maioria deles antes.
Muitos deles, como Bill Murray, Tom Wilkinson e seu colaborador Owen Wilson fazem apenas pontas. Já Tilda Swinton, Jeff Goldblum e Harvey Keitel estão totalmente irreconhecíveis, e eu demorei bastante para identificá-los. Mas a grande estrela é mesmo Ralph Fiennes, ator não exatamente conhecido pelas comédias, mas que demonstra um excelente timing cômico como o engomadinho Gustave.
No fim das contas, o cinema de Wes Anderson é extremamente particular e estilizado, possuindo uma qualidade quase, por falta de um termo melhor, autista. Com a realidade sempre alguns tons acima, vivenciada pela ótica de personagens com um pé na excentricidade e outro no puro exagero.
É o tipo de cinema de ame ou odeie. Ou você consegue embarcar na proposta estética e narrativa do diretor e aprecia a viagem ou fica de fora e considera tudo apenas um monte de esquisitices juntas para passar a sensação de estilo. Eu, particularmente, faço parte do primeiro time. E se você está nessa comigo, então pegar uma sessão de O Grande Hotel Budapeste vale muito a pena.