Ok, delfonauta, vou começar admitindo. Eu não assisti Dogville. Na época que o filme passou pelos nossos cinemas, eu achei sinceramente estúpida e irritante a contradição de “não temos dinheiro para cenários, mas temos para contratar a Nicole Kidman” e meio que me afastei dele. Hoje, admito que isso foi um certo preconceito e pretendo assisti-lo algum dia. Mas antes disso, tive a oportunidade de ver esta despretensiosa comédia, a cargo do mesmo diretor – e dessa vez com cenários e sem Nicole Kidman (uma boa troca, na minha opinião).
O Grande Chefe conta uma história meio bisonha de um carinha que não queria ser odiado pelos funcionários da sua empresa e, portanto, colocava sempre a culpa de suas decisões mais polêmicas em um “grande chefe” fictício. Só que daí ele quis vender a empresa e os compradores só aceitavam negociar com o tal personagem. Portanto, o chefão decide contratar um ator para interpretar o odiado chefe fictício. E pronto, está armada a confusão.
Não é uma daquelas “comédias” que você não ri em nenhum momento, mas também está muito longe de ser um clássico do riso. O curioso é que aqui aconteceu o contrário da sessão de O Balconista 2: os críticos gargalhavam em massa e eu, no máximo, sorria.
Mas o que mais me incomodou mesmo foi a direção do superestimado diretor. O cara simplesmente filma muito mal – seja intencional ou não. Por exemplo, em várias cenas, um personagem importante fica com a cabeça para fora da tela. Em outras, vemos apenas o nariz do sujeito enquanto em todo o resto da tela não tem absolutamente nada de importante. Manja aqueles tios que todo mundo tem, que nas fotos de família sempre deixa alguém (ou um pedaço de alguém) de fora? É por aí e, poxa, para que fazer isso? Imagino que os intelectuais responderiam algo do tipo “para criticar a estética hollywoodiana que domina os cinemas do mundo pós-moderno”. E eu até admito que Hollywood tem muitos defeitos, mas não acho que filmar de forma que os personagens sejam vistos é um deles. E, por outro lado, a historinha contada neste filme é completamente clichê, completamente “sessão da tarde” ou, em outras palavras, completamente Hollywood. Será que não é dessas fórmulas que um cineasta tão aclamado pela crítica deveria fugir? Afinal, a predileção pelo genérico e pelo lugar comum é, esse sim, o principal problema dos filmes estadunidenses.
No final das contas, O Grande Chefe é um filminho despretensioso e relativamente divertido, mas que, pelo nome do diretor, acaba sendo alçado a patamares de cult, sendo que, pelo menos aqui, Lars não faz nada digno de nota e esse poderia, muito bem, ser um daqueles filmes de estúdio onde ninguém se importa com o diretor. E, portanto, quando os personagens aparecessem com a cabeça cortada nos primeiros rolos, ele seria simplesmente substituído.