O delfonauta sabe a diferença entre physician e physicist? Se você não sabe, nada tema. Afinal, sua profissão não é traduzir títulos de filmes, é? Pois alguém que tem essa profissão não sabe, causando assim o título nacional mais nonsense da história do cinema. E olha que nem usaram um “da pesada” ou “do barulho” para conseguir tal façanha.
Físico, em inglês, é physicist. Physician significa médico. Agora dá uma olhada no título original deste filme e no nacional. Sacou a confusão? Sabe o que é mais curioso? De onde tiraram que este longa é sobre um físico? Se liga na sinopse.
Na idade média, a medicina é uma ciência quase morta na Europa. Ela é exercida por barbeiros ambulantes, com conhecimento parco e equipamentos idem. Um jovem órfão é criado por um desses barbeiros e tem bastante interesse em aprender. Um dia, conhece um médico que faz coisas que parecem milagrosas, e pergunta onde ele aprendeu tudo isso. “Na Pérsia”, é a resposta. Logo o jovem barbeiro resolve partir em uma aventura para chegar até o outro lado do mundo, e para não ser morto assim que chegar no Egito, terá que fingir ser judeu.
Ele logo se torna o melhor aprendiz do médico genial (Ben Kingsley), e a hora não poderia ser melhor, uma vez que o cenário político na Pérsia é complicado. O país se encontra à beira de uma revolução por causa dos radicais que não aceitam a tolerância do xá para com outras religiões, e ainda vai rolar uma epidemia de peste negra.
Não sei dizer exatamente o porquê, mas desde que eu vi o trailer, este filme me pareceu ter a maior cara de Paulo Coelho, em especial O Alquimista. Não é baseado na obra do nosso Bunny Paul, no entanto. O livro que deu origem a ele é do Noah Gordon, mas não duvido que o estilo de ambos seja bem parecido.
A temática, o visual e o figurino denunciavam que se trataria de um filme nada, tecnicamente digno, mas sem nada que o diferenciasse dos demais. Felizmente, a verdade é que ele é um pouco melhor que isso.
É interessante ver como a medicina evoluiu desde então, pois coisas que hoje são comuns, como investigar doenças dissecando cadáveres, era proibido pelas religiões da época. E como aprender se você não consegue estudar o inimigo? Os momentos focados na medicina e no esforço do aluno em aprender e levar a arte adiante são os melhores momentos do longa.
Do outro lado do espectro, ele parece querer enfiar muita coisa na história para um filme. Apenas a jornada do sujeito através do mundo já seria o suficiente, mas ainda colocam um romance, uma guerra e a peste negra. Isso deixa tudo um pouco superficial. Nada é mais superficial, no entanto, do que o “superpoder” do aluno, que não é desenvolvido, explicado e nem tem nenhuma importância para a trama. Todas as cenas sobre isso poderiam simplesmente ser cortadas e você nem perceberia a diferença.
Admito, eu gostei mais de “O Físico que é médico” do que esperava gostar. Não o recomendo com empolgação, mas se não tiver nenhum programa melhor para um sábado à tarde, talvez valha uma assistida. Nem que seja só pelo diálogo em que eles louvam Alá por ter criado mulheres com o cabelo vermelho. Alá seja louvado, delfonauta! Alá seja louvado!