O DVD de Homem-Aranha 3

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Finalmente o maior filme do ano chega aos DVDs. E como todo grande filme, o público em potencial esperava por um grande DVD, cheio de extras. Então a melhor forma de abordá-lo é por partes.

PARTE 1: O FILME

A essa altura você já sabe tudo do filme e já deve ter lido nossa extensa resenha para o dito-cujo, linkada aí em cima. É engraçado como, alguns meses depois de todo o hype da estréia, é muito mais fácil formar uma opinião sobre ele. Se, quando escrevi a resenha, estava cheio de dúvidas, reassistindo agora, consigo falar com muito mais propriedade e de forma provavelmente definitiva.

Além dos defeitos e qualidades abordados na resenha, hoje posso acrescentar que, assistindo-o de cabeça fria, é possível perceber nesta terceira parte todos os problemas que assombraram as duas primeiras. A direção de Sam Raimi é talvez o ponto mais delicado, pois é extremamente irregular, variando do fenomenal para uma falta de cuidado que incomoda muito – sobretudo nos efeitos especiais que, embora estejam muito melhores do que nos anteriores, ainda estão muito inferiores a qualquer superprodução recente, a maioria delas feita com muito menos grana do que Raimi dispôs para seu megafilme.

Compare, por exemplo, com O Senhor dos Anéis, e verá que, mesmo tendo a vantagem tecnológica de mais de cinco anos, Homem-Aranha 3 ainda não se compara ao longa de Peter Jackson nesse quesito, sobretudo nas cenas de ação, que ainda parecem contar com bonequinhos de jogos de Master System. O curioso é que, em alguns momentos, como no surgimento do Homem-Areia, os efeitos realmente estão maravilhosos e essa irregularidade me incomoda bastante. Afinal, a meu ver é muito mais difícil criar um homem feito de areia do que uma versão digital do Tobey Maguire.

Também me incomoda o fato de que a maior parte das cenas de luta é feita sem máscaras. Isso é proposital e é até abordado nos extras, mas é simplesmente chato. E fica ainda pior se falarmos do Venom: talvez um dos personagens que os fãs mais queriam ver no cinema, talvez o vilão mais popular da Marvel, é completamente desperdiçado em uma única cena de ação, onde fica praticamente o tempo todo com a cara e a voz do Eric Forman! E mesmo quando está com a máscara, o design e seus movimentos o deixam muito mais parecido com uma mulher anabolizada do que com um terrível vilão sanguinário, que representa o lado mais malvado das HQs. E de onde surgiram aqueles músculos? Pô, eu até acho que Topher Grace mandou bem como Eddie Brock, mas considerando que ele não é um cara bombado, não teria porque o Venom ser. Colocar músculos que não existem na roupa parece coisa de Joel Schumacher e seus batmamilos.

Para completar as reclamações relativas ao vilão, algo que não pensei na época da resenha e que altera completamente o desenvolvimento do personagem: o Venom do cinema não fala na primeira pessoa do plural, o que elimina o fato de que duas entidades disputavam pelo controle daquele corpo, um de seus traços mais marcantes.

O principal problema de Homem-Aranha 3, contudo, não é nada disso, mas seu roteiro que tentou colocar elementos demais em pouco espaço. E isso fica ainda mais marcante ao revermos o filme de cabeça fria.

Agora não me entenda mal, eu ainda gosto bastante desse filme, mas o fato é que Homem-Aranha 3 é, de longe, o pior filme da franquia até o momento. Isso significa que ele é ruim? Não, de forma alguma. Aliás, pelo contrário, ele é muito bom. Se hoje eu provavelmente não o presentearia com a nota máxima de cinco Alfredões, como fiz na resenha oficial, diria que ele merece pelo menos uns quatro dragões fofinhos, o que é mais do que eu costumo dar para a maior parte dos filmes. Só que, justamente por vir de uma franquia que nos brindou com dois dos melhores longas da história e, discutivelmente, com a melhor adaptação de um personagem de quadrinhos já feita, isso é pouco.

Tecnicamente, contudo, a transferência para o DVD está primorosa, com uma imagem muito boa, digna da grandeza do filme. O som e a mixagem também estão muito bons, mas acho muito estranho que um dos maiores filmes da história do cinema chegue ao DVD com um Dolby Digital 5.1 básico. Poxa, até Evil Dead II, que também é do Sam Raimi e é praticamente um filme trash, tem seu DVD com certificado THX e som DTS-ES 6.1. Por que diabos um blockbuster do porte de Homem-Aranha 3, sem dúvida o filme mais bombado do qual Raimi já participou, não tem isso?

Se você não tem home-theater, o disco traz também as versões em Dolby Digital 2.0. Todas as opções de áudio estão disponíveis em português e inglês. As legendas também estão nessas mesmas línguas.

Em tempo, alguém reparou que o cabelo da Mary Jane está castanho nesse filme? O.o

PARTE 2: OS EXTRAS DO DVD 1

Os menus são bem estranhos e, particularmente, não me agradaram. Trazem imagens estáticas que andam de um lado para o outro, o que faz com que tudo pareça ter sido feito com aquele programinha antigo de Windows que permitia que as crianças criassem sua própria aventura aracnídea.

O filme traz dois comentários, um contando com o diretor e o elenco e outro com os realizadores. Depois disso, vêm os tradicionais erros de gravação, que até podem divertir alguns, mas que são basicamente algumas cenas dos filmes onde um dos atores começa a rir no meio. Para os que gostam de ver fotos em DVDs, temos também uma não tão extensa galeria trazendo imagens e desenhos da pré-produção e das filmagens. Por fim, temos o já tradicional clipe, que dessa vez é da música Signal Fire, da banda Snow Patrol. Ao invés de colocar imagens do filme no clipe, os músicos decidiram fazer algo diferente e reencenar os dois primeiros com crianças. Vale pela curiosidade, mas ainda acho que o clipe de Hero, que está no primeiro DVD é o definitivo quando se trata de Homem-Aranha, pois apresenta toda a melancolia intrínseca ao herói.

Completam o DVD 1 (e o DVD simples), alguns trailers de outros filmes da Sony/Columbia, como Motoqueiro Fantasma e Superbad.

PARTE 3: O DVD 2

O DVD 2 é onde está o grosso dos extras. Esse disco teve algumas brigas com meu aparelho de DVD, chegando a travar muitas vezes. Isso acontece freqüentemente com DVDs da Buena Vista e da Sony, talvez seja a qualidade da mídia ou da gravação que eles utilizam, então se você também costuma ter esse problema, já fique avisado. No meu caso, eu só consegui rodar este disco apropriadamente no Xbox 360. Nem no computador ele se comportou – e isso nunca tinha acontecido antes aqui, pois computadores costumam rodar qualquer coisa.

Enfim, os documentários são focados, principalmente, nos efeitos especiais – o que não deixa de ser um tanto irônico, considerando que é claramente a área que recebeu menos atenção de Sam Raimi. Temos, por exemplo, documentários focados especificamente na cena do prédio e até na água que o Aranha joga no Homem-Areia.

O destaque positivo vai para “A Ciência do Som”, único apresentado em Dolby Digital 5.1 (os outros estão em 2.0), que mostra a galerinha que trabalhou no som do filme falando sobre isso. O mais legal, é claro, é a parte da trilha sonora, e o chato é que tanto o compositor quanto o povo que fez o foley têm que dividir o espaço que é, portanto, limitado.

Além disso, cada vilão ganha um documentário só para ele, só que todos esses falam apenas dos efeitos especiais necessários para fazer Harry voar, o simbionte se mover ou o Homem-Areia virar areia. Não espere um desenvolvimento maior dos personagens ou saber porque decidiram queimar três vilões tão importantes no mesmo filme.

É justamente aí que o DVD peca. Tudo bem, é divertido e curioso saber que a tal cena do afogamento do Homem-Areia foi a que mais utilizou água na história do cinema, mas eu esperava que tivesse alguma coisa focada no lado criativo da coisa. Por que os vilões foram escolhidos? Qual foi a inspiração para o roteiro? Por que escolheram Thomas Haden Church, Topher Grace e Bryce Dallas Howard para os novos personagens? E, finalmente, a pergunta que não quer calar: por que, ó, Deus, por que pegar uma ruiva gostosa para fazer o papel da loirinha meiga e uma loirinha meiga para fazer o papel da ruiva gostosa?

O mais próximo do que eu realmente esperava dos extras está no documentário sobre os triângulos amorosos do filme, mas é muito pouco considerando que é o único que não é focado em algo mais técnico. Poxa, tem até um que fala da edição do filme. Será que alguém realmente se interessa pela edição de Homem-Aranha 3? Se ela ainda fosse estilosa ou criativa, como a de Hulk, faria sentido, mas neste ela é completamente padrão.

Além dos documentários, completam os extras a campanha do filme. Temos todos os quatro trailers lançados no cinema – uma bola dentro da Sony, que anteriormente escolhia apenas um deles, que normalmente era o mais chato – e anúncios de TV de vários países, Brasil incluído. Quer saber como Homem-Aranha 3 foi divulgado no Japão ou na Alemanha? Você encontra isso aqui, o que achei deveras divertido.

PARTE 4: CONCLUSÃO

O DVD de Homem-Aranha 1, na minha opinião, tem o formato ideal de documentários, focado em personagens, roteiros, inspirações e até alguns falando sobre os quadrinhos e sobre Stan Lee. No DVD do segundo filme, a tendência já mudou para algo mais tecnológico, deixando-o inferior ao antecessor. Este continua essa tradição. O triste é que, no final das contas, o que realmente torna um filme memorável não é a técnica aplicada ou a quantidade de água que o herói joga no vilão. O que faz com que um filme acompanhe o espectador após o término da sessão é a história, os personagens. A técnica é apenas o caminho pelo qual a história será contada. É só vermos que, apesar dos efeitos especiais toscos, Homem-Aranha 2 ainda está entre meus filmes preferidos e, muito provavelmente, entre os seus também.

De qualquer forma, este é um filme legal, com extras legais, mas ambos tinham potencial para ser bem melhores. Se você se interessa pelo lado mais técnico do cinema, vale a pena pegar o DVD duplo de Homem-Aranha 3. Se você gosta do filme, mas se liga mais em história e em personagens bem desenvolvidos, provavelmente não sentirá muita falta caso fique apenas com o simples. Se bem que, com uma diferença de apenas cinco reais entre um e outro, acredito que pouquíssimas pessoas vão ficar com o simples. Clique aqui e escolha o seu.

Galeria

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
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