Horas antes de ir assistir a O Chamado 3, eu resolvi reler a minha resenha de O Chamado 2, escrita longínquos 12 anos atrás. Minha constatação foi imediata: caramba, eu não lembro de absolutamente nada dele.
Embora tenha assistido ao primeiro nos cinemas e nunca mais desde então, até me lembro relativamente bem dele, mas do segundo eu simplesmente não tenho memórias. É como se Morfeu tivesse saído bêbado de uma balada em Valhalla com o Thor e Anúbis e tivesse apagado totalmente o dia em que eu o assisti em um crossover de mitologias.
Para assistir a este terceiro filme, no entanto, basta você ter o conhecimento básico do primeiro filme. Tem uma fita de vídeo que mata em sete dias todos aqueles que a assistirem, menos os que fizerem uma cópia e mostrarem pra um desafeto. Nestes 12 anos desde o último O Chamado, o mundo mudou bastante. Se em 2005, fitas VHS já eram uma tecnologia quase morta, hoje deve ter gente lendo o DELFOS que nem sabe o que é isso.
Além disso, fazer cópias de VHS era um processo trabalhoso. Agora é tudo digital, e O Chamado 3 reflete isso. Para copiar o vídeo da cabeluda fantasmagórica, eles simplesmente escolhem copy em um menu e vão comer pizza.
E sabe que o filme até começa bem? Johnny Galecki, o Leonard de Big Bang Theory é um professor de faculdade que está usando o vídeo da Samara como uma ferramenta para estudar a vida após a morte e a existência da alma.
O namorado da protagonista Julia (Matilda Lutz) é um de seus alunos e, quando ele some misteriosamente, a rapariga resolve ir até a faculdade ver o que tá pegando. Pois é, amiguinho, a lição de hoje é que nunca devemos ignorar nossas namoradas.
Ela acaba presenciando a Samara em ação e, para salvar a vida de seu homem, resolve assistir ao fatídico vídeo. Seven days e tal. A partir daí, ela inicia uma incansável cruzada para revelar o que diabos aconteceu com a Samara e tentar ajudar a fantasminha cabeluda antes que ela mate mais gente.
É aí que o filme se perde. Seguindo a tradição da terceira parte de trilogias, conforme explicado em Pânico, há muita exposição e histórias de origem. O problema é que elas não convencem e simplesmente não são muito boas.
Teria sido um caminho bem menos óbvio e mais interessante ter seguido a ideia do estudo do professor. Faz todo o sentido que, se uma lenda urbana como a da fita se prova real, vai ter gente tentando explicar racionalmente como aquilo pode acontecer. Não é exatamente um caminho que se encaixa nos anais do terror sobrenatural japonês onde a série se originou, mas faz todo o sentido de um ponto de vista ocidental.
Este foco em ser uma história de origem não só rende menos e é menos interessante do que as possibilidades da pesquisa, mas há o fato de que tudo que precisávamos saber da Samara já tinha sido explicado no primeiro filme e o que aparece de novo por aqui beira um retcon.
Isso fez com que eu saísse do cinema um tanto frustrado. Pela primeira metade, eu esperava uma abordagem mais racional de um terror sobrenatural, mas isso fica não em segundo plano, mas some completamente depois que a investigação da origem da Samara começa a tomar forma.
É uma pena. Cá entre nós, não achei tão ruim quanto a imprensa em geral parece ter achado, até porque minhas expectativas não poderiam ser mais baixas. Eu até me diverti durante a sessão e cheguei a ficar esperançoso com a possibilidade de ver um caminho novo ser seguido, o que nunca acaba acontecendo.
O Chamado 3 é uma continuação tardia. O público-alvo de terror sobrenatural é composto basicamente de adolescentes e jovens adultos, que eram muito jovens ou não tinham nascido quando o primeiro filme saiu. Assim, tendo a pensar que ele só evitaria o limbo cinematográfico se fosse muito bom, coisa que não é. Vou acompanhar com interesse seu resultado nas bilheterias para ver o que vai sair daí.
