O delfonauta dedicado sabe: eu adoro filmes de terror. Ao mesmo tempo, eu tenho uma saudável preferência por um terror que não se renda ao sobrenatural. Já falei muitas vezes e repito: pessoas me dão medo. Fantasmas não.
Também já critiquei muitas vezes o fato de o cinema brasileiro ser monotemático. O negócio é tão cabreiro que admito que não me lembro de ter resenhado – ou mesmo assistido – algum terror sobrenatural brasileiro.
Pois este é o aspecto que me chamou a atenção para O Caseiro, que chega aos nossos cinemas esta semana. Aqui conhecemos Davi (Bruno Garcia), um professor de faculdade que escreveu um livro sintomaticamente chamado Psicologia do Sobrenatural. Basicamente, ele é um daqueles caras altamente racionais que gosta de explicar fenômenos paranormais através da ciência.
Um dia, uma linda mocinha se aproxima (Malu Rodrigues) dizendo que a irmã dela está ostentando uns machucados misteriosos, que ela não quer explicar de onde vêm. Apesar de não ser um caça-fantasmas (who you’re gonna call?), ele sente o cheiro de abuso infantil no ar e resolve ir até o interior, onde mora a família, para investigar o que está acontecendo.
Ele encontra lá uma família que, embora o tenha recebido de braços abertos, claramente tem segredos e coisas que não quer contar. E é justamente nesse aspecto que O Caseiro se destaca. Com a estilosa direção de Júlio Santi e uma qualidade visual digna de filme hollywoodiano, a coisa funciona bem, divertindo e intrigando na medida certa.
Há alguns percalços, como a baixa qualidade das atuações, mas isso já é tão praxe em cinema nacional que sequer vale uma elaboração maior, e a coisa aqui não chega a ser tão ruim a ponto de atrapalhar.
O problema é que o filme se perde totalmente no seu terceiro ato, forçando uma viradinha sem pé nem cabeça e que acaba detraindo de tudo de bom que ele tinha feito até então.
Após a sessão, a equipe concedeu uma entrevista e Santi comentou ter influência de Sexto Sentido. Vou dizer que isso é até perceptível. Seu estilo de filmar lembra o de M. Night Shyamalan, mas enquanto Sexto Sentido foi claramente construído tendo sua viradinha como premissa, aqui o negócio parece ter sido pensado conforme a história era escrita, sem as dicas necessárias para que tudo fizesse sentido e ficasse amarradinho.
Nesse ponto, acaba lembrando os filmes posteriores e mais fracos do Shyamalan. E é uma pena, pois em seus dois primeiros atos, ele seguia bem o suficiente para chamar a atenção em um gênero que inova muito pouco.
Até por sua proposta de ser protagonizado por uma pessoa cujo objetivo é explicar o que diabos está rolando, vou dizer que ele me lembrou também o Invocação do Mal. E digo mais, quem gosta da série em questão tem tudo para gostar de O Caseiro.
Apesar de estar longe do que podemos considerar um filmão, ele ganha pontos por trazer ao cinema nacional um gênero quase inédito por aqui. E consegue fazer isso bem o suficiente para valer uma assistida.