Quando o Oasis acabou em 2009 e cada um dos irmãos Gallagher resolveu seguir seu próprio caminho, era fácil escolher em qual deles apostar as fichas. Afinal, o mais velho, Noel, sempre foi o talento da banda, por muitos anos compondo sozinho todas as canções.
Liam até tentou sair na frente, formando uma nova banda e lançando seu disco de estreia primeiro. Mas o Beady Eye nunca chegou lá e encerrou atividades depois de apenas dois álbuns lançados, com Liam passando a fazer aquela pressão em cima do irmão para retomar a banda mais bem-sucedida e este sempre negando.
E por que ele deveria retomá-la? Noel está numa boa com seu projeto solo, chamado de Noel Gallagher’s High Flying Birds. Após um elogiado primeiro disco lançado em 2011, chega agora no início de 2015 seu novo trabalho, intitulado Chasing Yesterday.
Para quem conhece o trabalho do marrento e desbocado inglês, não há muitas surpresas. Rocks bem trabalhados com a guitarra criando uma muralha sonora e baladas apoteóticas, combinação perfeita para gerar hinos e levantar estádios, basicamente a mesma coisa que fazia desde os tempos de Oasis, mas agora sem precisar dar suas composições para o irmão caçula cantar.
Se não é exatamente a maior novidade do mundo, também não se pode dizer que o sujeito não domina essa fórmula muito bem e consegue usá-la sem se tornar repetitivo. Basta ouvir faixas do novo trabalho como Lock All the Doors (uma composição sua de 1992) e The Dying of the Light (no vídeo abaixo, em versão ao vivo, minimalista e acústica) para constatar que a energia ainda está presente e ele continua muito competente, seja na confecção de canções mais aceleradas quanto naquelas mais tranquilas.
O disco abre bem com uma trinca de respeito, com a elegante Riverman, a que não faria feio numa pista de dança In the Heat of the Moment e a baladaça The Girl with the X-Ray Eyes, uma sequência de canções que serve para dar a tônica do que você vai encontrar no disco todo.
Os melhores momentos, no entanto, são justamente quando resolve animar as coisas incorporando elementos dançantes às suas composições, dando um bem-vindo tempero a mais na sua sonoridade, como na já citada In the Heat of the Moment, While the Song Remains the Same, com seus elementos sessentistas e bom trabalho de bateria, The Mexican e seus pequenos e discretos toques psicodélicos e na canção que encerra o disco e minha favorita, The Ballad of the Mighty I, com participação especial do chapa Johnny Marr na guitarra.
Contudo, faixas como You Know We Can’t Go Back e The Right Stuff, esta com direito a arranjo de sopros e um vocal feminino acompanhando Noel, embora sejam boas e funcionem direitinho dentro do disco, também não são exatamente marcantes e imprescindíveis, principalmente se comparados com algumas de suas músicas mais antigas dos tempos do Oasis.
Chasing Yesterday mantém a carreira solo de Noel Gallagher em alta, revisitando e atualizando sons do passado (incluindo o seu), mas sem soar empoeirado, datado ou repetitivo, dando-lhe um lugar de direito como um dos principais compositores do Pop/Rock atual.
Assim, pode ser até que algum dia Noel finalmente ceda aos apelos do irmão e o Oasis se reúna. Mas aí será por dinheiro ou saudosismo. Pois a cada novo disco solo, deixa mais claro que esse eventual reencontro jamais será por necessidade, bastando uma audição de Chasing Yesterday para comprovar isso.