É, delfonauta, a vida é dura. Após o festival de pintos que foi o volume um de Ninfomaníaca, os sensíveis olhos do Corrales quase explodiram nas órbitas e ele recebeu uma recomendação médica para evitar a todo custo a segunda e última parte da estranha e erótica jornada de Joe e sua vontade sexual insaciável.
Sobrou para mim encarar a tarefa de resenhar Ninfomaníaca: Volume 2. Enchi-me de coragem e encarei a sessão feito macho, tapando devidamente o rosto com as mãos toda vez que um bilau pipocava na tela. Escapei relativamente ileso e trago duas notícias para você, uma boa e uma ruim.
A boa, se serve de consolo (sem trocadilho), é que esta parte não tem tantos piu-pius presentes em tela quanto na primeira. E agora a notícia ruim: contudo, a maioria dos que aparecem está em plena e ameaçadora posição de sentido. Senti que essa era uma informação vital e precisava compartilhá-la com você para que decidisse encarar uma sessão devidamente informado.
Pois bem, o filme continua do ponto onde havia parado no primeiro volume, com Joe em busca de seu orgasmo perdido, tal qual um Indiana Jones da sacanagem. Para isso, ela vai tentar de tudo, desde ménages até violentas sessões de sadomasoquismo. O tom deste segundo volume é consideravelmente mais pesado que o do anterior.
Até os outros aspectos da vida pessoal da protagonista, que não haviam sido tão explorados antes, vão dar uma guinada para o lado negro da Força. Em especial quando ela arranja um novo emprego com o Duende Verde, que, para surpresa geral da nação, considerando o teor do longa, desta vez não mostra sua ferramenta em tela.
E nessas continuam as conversas entre ela e Seligman, com suas comparações estapafúrdias, que ora geram papos-cabeça bem interessantes (a discussão sobre as palavras consideradas politicamente incorretas é bem bacana), ora não passam de filosofia de botequim. De fato, se fosse um filme mais leve e menos pretensioso, tinha potencial para gerar algumas discussões bastante relevantes.
Mas Lars Von Trier é isso aí mesmo, um mala arrogante que gosta de causar polêmicas só para aparecer. E dessa vez, ainda por cima o cara passou também a se repetir. Em determinado momento do filme ele usa de um artifício muito parecido com algo que ele já havia feito em Anticristo, mudando apenas o desfecho. Quem quiser ler um spoiler, é só selecionar o trecho em branco: ele usa a mesma cena do filho pequeno negligenciado e a janela do apartamento aberta, mas aqui o Shia LaBofe o salva antes dele cair. Até sua criatividade para criar novos elementos que movem a narrativa parece estar em baixa.
Diferente do Corrales, eu não tenho pesadelos horríveis com o sujeito. Gostei de Dogville e gosto muito de Os Idiotas, o longa que o colocou no mapa junto do resto do pessoal do movimento Dogma 95. Mas todo o resto que assisti de sua filmografia é atrapalhada por sua imensa pretensão, que muitas vezes esconde a pura falta de algo concreto para dizer.
Ninfomaníaca é só mais um exemplo disso. Von Trier queria fazer o pornô menos erótico e excitante de todos os tempos, transformando a sexualidade num puro ato mecânico. Não há como negar que ele foi bem-sucedido nesse objetivo. Mas e aí, o que conquistou com isso? Absolutamente nada. Apenas o pior pornô-cabeça (de novo, sem trocadilhos) já feito.
LEIA MAIS SOBRE LARS VON TRIER:
– O Grande Chefe – A resenha que iniciou a rivalidade entre o Corrales e Von Trier.
– Anticristo – Apresentando o pinto do Duende Verde.
– Melancolia – E aqui, para compensar, os peitinhos da Mary Jane.
– Ninfomaníaca: Volume 1 – O contra-ataque dos múltiplos pintos.