Nightwish – Once

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E lá vou eu ser do contra de novo. Se você já leu alguma resenha deste CD em qualquer veículo, deve ter lido que se trata do melhor e mais pesado álbum do Nightwish. Pois bem, Once não é nem um nem outro. E isso me faz pensar que o jabá na mídia especializada está cada vez mais escancarado, mas como brasileiro não tem memória, ninguém percebe.

Vamos pegar como exemplo o Helloween. Quando eles lançaram o Dark Ride, todas as resenhas diziam que o disco era ótimo porque trazia um Helloween mais sério e depressivo. Quando saiu o Rabbit Don’t Come Easy, todo mundo disse que ele era legal, pois trazia a banda de volta ao Metal alegre que a consagrou, depois do fiasco que foi o disco anterior. E olha que o Rabbit Don’t Come Easy nem é tão alegre quanto outros álbuns do grupo. O mesmo aconteceu com o Nightwish. Quando lançaram o último disco, o Century Child, todo mundo falou bem. Agora que saiu o Once, todo mundo fala que o anterior era horrível e que o novo é o melhor, se contradizendo descaradamente.

Como sempre, no DELFOS você lê a verdade. Nada de jabá, apenas a nossa opinião. Realmente a primeira música do CD, Dark Chest Of Wonders impressiona pelo peso acima do normal para a banda, porém ela é a única música pesadona que encontramos aqui. E mesmo assim, não chega a ser tão pesada quanto Slaying The Dreamer, do álbum anterior. Quase todas as outras, até começam com um riff pesado e tal, mas quando entra o vocal, se tornam quase baladas. The Siren é o melhor exemplo disso.

A segunda faixa, Wish I Had An Angel assusta, pois logo no começo, mostra uma certa influência eletrônica, com as tradicionais batidas “putz-putz”. Apesar disso, a música é legal e é a primeira do álbum que conta com os vocais do baixista Marco Hietala em dueto com a sex-symbol Tarja. Aliás, nessa segunda música já comecei a ficar decepcionado com a vocalista, que está cantando de forma muito mais natural e menos lírica, fato que se repete por quase todo o disco. Ora, boa parte do sucesso que o Nightwish alcançou foi justamente por terem uma vocalista lírica na banda. Me parece realmente errado a banda abandonar essa característica, até porque a voz “natural” de Tarja não é tão bonita, deixando muito a desejar se comparada com Sharon den Adel, do Within Temptation, por exemplo.

Planet Hell é outra um pouco mais pesada. Sua introdução tem a orquestra em grande destaque e nos leva a imaginar como seria legal um show da banda acompanhada de violinos e companhia. Creek Mary’s Blood tem a participação de um índio chamado John Two-Hawks e sua letra lembra uma Run To The Hills (Iron Maiden) mais elaborada. A música é uma balada bem bonita, na linha de Dead Boy’s Poem, do álbum Wishmaster.

Uma que merece um destaque especial é Ghost Love Score, possivelmente uma das melhores composições no Nightwish. Seus 10 minutos de duração parecem ser tão curtos quanto uma música dos Ramones, de tão bonita que é. Pesada e melódica na medida certa, é um dos grandes momentos da orquestra e do coral contratados pela banda. Seu refrão é simplesmente fenomenal, daqueles que ficam na cabeça, não por serem comerciais, mas por serem bons mesmo. A música como um todo realmente parece uma trilha sonora (Ghost Love Score significa algo como “Trilha sonora de um amor fantasma”).

A capa também merece ser comentada. Embora seja, sem dúvida, bonita, trata-se da capa mais simples do Nightwish. O encarte também é bonito, mas a fonte escolhida para o título das músicas é quase ilegível de tão enfeitada. Uma das regras da direção de arte “Não sacrifique a legibilidade em nome da beleza” é completamente ignorada pelo responsável pelo visual do livrinho. As fotos também são estranhas, principalmente a foto central, onde os membros da banda estão todos com cara de mulher (lembra da foto do Jörg Michael no Infinite do Stratovarius? É por aí). Na verdade, o único que não está com cara de mulher na foto é a vocalista Tarja. Bizarro é pouco.

Também me sinto na obrigação de comentar a falta de noção da gravadora Universal para colocar os preços nos CDs. Once, um CD simples, em versão nacional, sem bônus nem nada, não sai por menos que 35 reais (isso na Galeria do Rock de São Paulo. Em lojas de shoppings não duvido que passe dos 50). Mais caro do que muito DVD duplo que encontramos por aí. E depois vai ter a cara de pau de vir reclamar da pirataria? Faça-me o favor.

No geral, Once é um bom disco, mas a mídia especializada me fez acreditar que seria um dos melhores discos da minha coleção e, quanto maior a expectativa, maior o tombo. Once tem baladas demais (umas 4, se você contar a semi-balada Nemo) e as músicas mais pesadas não são pesadas o suficiente, principalmente depois de todo mundo falar que é o disco mais pesado da banda. Se você gostar de Once, beleza, mas tenha certeza de que é a sua opinião e não simples influência da mídia “jabazenta” de nosso país.

O Nightwish toca no Brasil nos dias 28/11 e 4/12 em São Paulo (Via Funchal), 30/11 no Rio de Janeiro (Canecão), 2/12 em Porto Alegre (Opinião) e 3/12 em Belo Horizonte.