Estes filmes e livros do que se popularizou chamar de Young Adult têm uma característica louvável: eles conseguem criar sinopses e temáticas que me interessam bastante. Menos louvável é que, em quase todos os casos, estes temas já foram abordados antes e de forma muito mais interessante.
Você deve se lembrar do fiasco Jogos Vorazes X Battle Royale, provavelmente o caso de plágio mais claro da cultura pop desde Heroes X X-Men.
Nerve não chega a ser assim tão cara de pau, mas sua ideia também não é exatamente uma novidade. Saca só: Venus (Emma Roberts, herdeira da dinastia Roberts – a Julia é tia dela) resolve entrar em um jogo online no qual um bando de anônimos mandam desafios para os jogadores via internet. Cumpra o desafio e você ganha dinheiro e se mantém no jogo. Falhe ou desista e perca tudo que conquistou antes.
Como você deve imaginar, os desafios começam bem leves. Que mocinha heterossexual não iria querer dar umas bicocas no Dave Franco? Obviamente, as coisas vão ficando mais perigosas com o passar da noite. Ainda assim, elas nunca chegam a elaborar todo seu potencial.
Fosse eu o roteirista disso aqui, não ia demorar para os desafios serem algo como “arranque seu próprio olho” e outras coisas realmente assustadoras e aflitivas. Mas aqui o negócio é teen, então obviamente o objetivo não é chocar, mas fazer a nossa protagonista se encontrar como indivíduo e se apaixonar. Óun!
Mesmo para mim, no segundo ato, quando os desafios começam a ser perigosos, o negócio chega a ser emocionante, ainda que nunca chegue a empolgar ou atingir seu pleno potencial.
Eu estava assistindo Nerve e não parava de pensar em Would You Rather, filme de terror de 2012 com uma proposta bem parecida. Nele, os voluntários participam de um jogo onde têm que encarar desafios horrendos sem a possibilidade de desistir. E esse sim vai até as últimas consequências de sua temática.
Não chega a ser tão parecido quanto Jogos Vorazes e Battle Royale (Would You Rather é mais claustrofóbico, se passando quase completamente em uma sala, sem falar do fato de ser um filme de terror), mas é parecido o suficiente para levantar uma sobrancelha. Basicamente, se Jogos Vorazes é um Battle Royale bem mais leve, Nerve, veja só, não chega a ser um plágio, mas parece influenciado por Would You Rather, só que sem o nerve de elaborar seus desafios para algo mais próximo de como seria na vida real.
Existem outros filmes com temáticas semelhantes de um jogo perigoso do qual os protagonistas não podem escapar, e Nerve é o mais fraco e o mais diluído deles. Ainda assim, gosto suficientemente da temática para ter me divertido durante a projeção.
O bicho pega por ele não cumprir suas próprias regras. Por exemplo, em determinado momento, um jogador desclassificado se candidata para cumprir um desafio. Isso vai contra tudo que foi elaborado até este momento.
Além disso, o terceiro ato, que deveria ser o clímax, com os mais pesados desafios, é quando realmente entra o sabor teen da coisa. É quando a moça se indispõe com seu pretê, briga com os amigos e outras coisinhas que seguem a fórmula adolescente à risca. Talvez seja realmente um clímax emocional para as jovens mulheres que se identificam com a protagonista, mas para um marmanjo barbudo como eu, tirar o foco do jogo é tirar o foco do que realmente importa.
Nerve não é ruim. Porém, muitas outras obras já foram feitas com propostas parecidas e com muito mais bolas. Recomendado para quem gosta da ideia, mas não tem coragem ou vontade de assistir a um filme de terror que leve sua proposta às últimas consequências.
CURIOSIDADES:
– Este é o terceiro filme chamado Nerve feito desde 2011. Criatividade realmente anda em baixa.
– O elenco conta com Kimiko Glenn, a Brooke de Orange is the New Black. E rola também uma ponta da Poussey, a Samira Wiley.
– Diante de tantas coisas deste gênero saindo ultimamente, precisamos de uma ou mais jovens mulheres na equipe. Você gosta de cinema e de literatura, escreve bem e gostaria de ter acesso antecipado às produções do gênero? Leia nosso manual de redação e escreva pra gente. Quem sabe o próximo grande lançamento do gênero não ganha uma resenha sua por aqui?