– Leia também a apresentação do especial.
– Leia também a resenha do livro.
Sabe aquele ditado de não julgar um livro pela capa? Ele é valioso, já que sempre pensei que devemos criticar alguma coisa pelo seu conteúdo e não pelo fato de algo parecer bom ou não. No entanto, por mais que se tente fazer isso, sempre há uma exceção. Algo com que, às vezes inexplicavelmente, e às vezes com argumentos sólidos, você simplesmente não consegue ir com a cara, e acaba mesmo pegando um tipo de birra com o dito cujo, não querendo nem vê-lo na sua frente.
Inaugurando mais uma seção no DELFOS (rufem os tambores), apresento o “Não li e não gostei”, onde pretendo dizer ao delfonauta porque eu não dou a mínima para o livro O Código Da Vinci sem nem mesmo tê-lo lido. Mas essa nova seção não irá se prender apenas à literatura. Sempre que um delfiano tiver um pé atrás com um filme que não viu, um disco que não ouviu, um game que não jogou e etc. ele poderá expor neste espaço por que mesmo nunca tendo experimentado a obra em questão, nutre por ela sentimentos nada bonitos. Feita esta introdução, vamos ao que interessa.
O romance O Código Da Vinci, escrito pelo estadunidense Dan Brown e lançado em terras brasilis em 2004 rapidamente virou um sucesso mundial. Ficou na lista dos mais vendidos do conceituado jornal The New York Times por um zilhão de semanas (um zilhão, cara!), e ainda está na lista dos mais vendidos da nossa Folha de S. Paulo. Até aí tudo bem, vira e mexe surge um fenômeno de vendas (vide a indústria musical e seus hypes) que se torna a sensação do momento. O meu problema neste caso é que não acho que haja um porquê para tamanho sucesso de vendas e tanto blá blá blá, tanto de crítica quanto de público, em torno de um livro absolutamente comum.
Vejamos: o falatório é por causa da “polêmica” (e eu li muitos artigos a respeito disso) de Jesus Cristo ter se casado, tido filhos e sei lá mais o quê. Certo, religião é sempre um assunto espinhoso, mas não podemos nos esquecer de que estamos falando de uma obra de ficção. Se você não concorda com o tema do romance, não é mais fácil ignorá-lo do que acabar promovendo-o? Afinal é sabido que a tática do “falem mal, mas falem de mim”, sempre atiça a curiosidade das pessoas. Vide Mel Gibson e seu A Paixão de Cristo, que bombou nas bilheterias dos países cristãos, mesmo com toda a discussão a respeito da violência e do anti-semitismo da película.
Ah, mas tem aquele lance da conspiração da Igreja para acobertar essas descobertas. Ok, mas isso também não é nenhuma novidade. Eu não me lembro de tanto falatório em torno de O Nome da Rosa (tanto livro quanto filme) que também girava em torno de uma conspiração da Igreja Católica. O Vaticano não gostou do modo como foi retratado? Tudo bem, eles têm todo o direito de se manifestarem, mas aí já sabem que vão acabar fazendo publicidade a favor do livro. E isso é tudo o que a imprensa poderia pedir. Afinal, é notícia garantida por meses a fio. E não saindo das manchetes, a popularidade da obra não cai. Pronto, está armado o círculo vicioso.
Será que ninguém assistiu A Última Tentação de Cristo (compre aqui), de Martin Scorsese? Me parece a mesma coisa. A história é bem parecida. Também gerou um grande bafafá, sendo proibido em diversos países. O ano era 1987. Eu fico com a impressão de que as pessoas têm memória curta e gostam de chover no molhado ao repetirem polêmicas passadas com um produto similar.
Mas o lance das pistas nas obras de Leonardo Da Vinci é uma boa sacada. De fato, essa idéia é boa, mas não é a invenção da roda. Quem gosta de histórias de detetive, mistério e HQs, com toda certeza já viu idéias parecidas e/ou bem mais insanas. Logo, por que devo escolher este livro que não me parece ter nada de excepcional dentre tantas opções?
Devo dizer que comecei a ler Anjos e Demônios (compre aqui), o romance que marca a estréia do personagem Robert Langdon. Depois de 100 páginas, abandonei a parada. Achei tanto a história quanto a escrita genéricas. A trama, cheia de lances mirabolantes, mas tentando sempre ficar a mais próxima possível da realidade, não é nada que Michael Crichton já não tenha feito em todos os seus livros. A escrita de Brown é comum, desenvolvida para alcançar o maior número de leitores e já com jeitão de narrativa cinematográfica. Neste quesito, o mestre do terror Stephen King é o rei.
Quando muita gente fala que determinada coisa é boa, eu sempre fico com um pé atrás, afinal um monte de gente achou Titanic o máximo em cinema, logo, vê-se que realmente não dá pra confiar na opinião das massas. De toda forma, em muitos casos eu espero o burburinho passar e só depois vou conferir a obra em questão para tentar analisá-la sem a influência de outras opiniões. Com O Código Da Vinci eu não tenho a menor vontade de fazer isso.
Primeiro porque me parece apenas mais um produto sem sal, e como eu não tenho muito tempo para me dedicar à leitura, prefiro escolher livros que realmente me atraem. Segundo, mesmo não tendo lido essa tranqueira, diversos amigos e conhecidos que o fizeram, já me contaram a história toda, logo, posso dizer que fui um leitor passivo desta coisa.
Como todo hype, com o tempo O Código Da Vinci será esquecido. E aí, ao se olhar para trás, constataremos que todo o barulho ao redor dele foi à toa. Só espero que a obra que vier a eventualmente substituir o livro de Dan Brown como o romance mais comentado dos últimos anos seja bem mais interessante para causar um falatório que tenha conteúdo.
Se ainda assim, você quiser ler O Código Da Vinci, você pode comprá-lo aqui.