Mulheres do Brasil

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Não deixe de ler também a cobertura delfiana da entrevista coletiva com a equipe do filme.

O problema de um filme dividido em episódios é que, no final, sempre acaba havendo uma comparação do tipo: “Gostei mais de tal história e detestei aquela outra”. Para evitar esse tipo de coisa, diretores consagrados encontraram na montagem uma solução: na mesa de edição eles costumam misturar os episódios de modo que eles sejam contados aos poucos e ao mesmo tempo, ao invés do tradicional um de cada vez (um exemplo dessa forma de narrativa é o Magnólia).

Geralmente nesses casos, de alguma maneira, as histórias acabam tendo vínculos fortes umas com as outras através do encontro de seus personagens e, ao final, fica na cabeça do espectador a sensação de uma unidade, de um filme de fato, não de um longa-metragem que nada mais é do que a soma de cinco curtas-metragens, como acontece neste Mulheres do Brasil. Mas antes que alguém pense que isso foi o início para uma série de críticas negativas, devo ressaltar que a própria diretora Malu de Martino disse durante a coletiva, que vocês podem ler aqui no DELFOS, que a proposta do filme foi esta, o que já é uma defesa considerável. Afinal ela quis fazer um filme de episódios, cada um deles em uma cidade diferente. E isso, ela conseguiu fazer mesmo, o que, levando em consideração que estamos no Brasil, já é um mérito.

Como já disse, são cinco histórias contadas em ordem e cada uma delas se passa numa cidade diferente. Camila Pitanga faz a espevitada Esmeralda, que deixa Bom Jesus da Lapa e vai para a cidade grande. Luana Carvalho (que, para quem não sabe, é filha da cantora Beth Carvalho) é a estudante de Turismo Ana, uma garota alagoana que não sabe direito o que quer da vida e tenta descobrir isso durante um trabalho de pesquisa com as mulheres rendeiras do Pontal da Barra. Já Telma (Roberta Rodrigues), é uma carioca, porta-bandeira da escola de samba Grande Rio, que sonha com um ótimo desfile de sua escola no carnaval. A curitibana Martileide (Carla Daniel) é garçonete, mas tem esperança de mudar de vida e ficar com seu amor Valdomiro Artur, o locutor de um programa de rádio e do qual ela só conhece mesmo a voz. Encerrando o longa e fazendo algumas singelas ligações com as histórias anteriores, está a história da paulistana Laura (Bete Coelho), divorciada e mãe de um garoto, que tenta arranjar um emprego e encontrar o amor (ou apenas uma boa noite de sexo).

Por ser um filme de episódios, aconteceu comigo o fenômeno que eu citei no inicio desta resenha. Sendo bem parcial, como é a proposta do DELFOS, devo dizer que gostei muito das duas últimas histórias, um pouco menos da segunda e da terceira e bem menos ainda da primeira. Engraçado como escolheram a pior história para começar o filme, como o próprio Corrales comentou ao fim da sessão. Ao invés de um início tremendão, temos uma coisa sonolenta, que nos leva a esperar pela próxima história para ver se vai melhorar. De fato, melhora, mas os muito impacientes talvez saiam da sala antes disso. Meu conselho é ter paciência e ficar até o final, pois logo o filme engrena. Ou então chegar atrasado.

O que é muito bom em Mulheres do Brasil, a meu ver, é a inserção de entrevistas no meio das histórias (mas elas começam só a partir do segundo episódio, outro fator que deixa a primeira história, que já não é boa, pior ainda). Essas entrevistas mostram as verdadeiras mulheres moradoras das cidades retratadas, contando experiências de suas vidas que, às vezes, são até mais incríveis do que aquelas que o filme mostra em sua parte ficcional. Esses momentos são muitas vezes comoventes, justamente por serem depoimentos de mulheres comuns e não de atrizes, o que acaba dando ao filme todo o espírito que faz dele um panorama de tipos femininos bem menos superficial do que se esperaria pelo trailer.

Confesso que quando vi o trailer, achei mesmo que fosse uma bomba! Não é um filme que consegue ser ótimo, mas também não é nada ruim. E olha que é voltado ao público feminino. Como parte do público masculino, afirmo: não é ruim e é até bom que os homens assistam para tentar entender, pelo menos um pouquinho, do misterioso sexo oposto que nós tanto adoramos e tão pouco conhecemos, mesmo tendo contatos diários com ele. É um filme irregular, sem dúvida, mas nem por isso ruim.

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