Mirror’s Edge Catalyst

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No final de 2014, para comemorar o aniversário da marca Playstation, a EA possibilitou que proprietários de um dos negões sexy da Sony baixassem alguns de seus jogos de graça. Dentre eles, estava Mirror’s Edge de PS3, originalmente lançado em 2008.

O delfonauta me conhece. Eu estou sempre jogando os últimos lançamentos e acompanhando as últimas tendências da moda e gastronomia. Por isso mesmo, foi só aí, em 2014, ou se pá já em 2015, que eu fui jogar Mirror’s Edge pela primeira vez.

A princípio me empolguei bastante com ele. Lembro de ter comentado com um amigo que era praticamente um Sonic em primeira pessoa. No entanto, antes da campanha terminar, já estava um tanto de saco cheio de ficar andando de um lado para o outro sem saber para onde ir.

Pois agora, em junho de 2016, oito anos depois do lançamento do origjnal, chega às lojas Mirror’s Edge Catalyst, que alguns dizem ser um reboot, outros uma prequência. Sua principal novidade em relação ao anterior é que agora ele é mundo aberto.

Sabe, nunca em toda minha carreira gamer, eu peguei um jogo e pensei: “hum… ele é bacana, mas seria mais legal se fosse mundo aberto”. Dessa forma, admito que não fiquei animado com esta nova proposta de Catalyst. Digo mais, temos aqui um jogo que eu provavelmente não jogaria se não fosse para escrever sobre ele, especialmente considerando as resenhas negativas que vem recebendo. No entanto, como você já percebeu pela nota, eu acabei gostando muito, e não duvido nada que acabe colocando-o entre os melhores lançamentos de 2016.

SEBO NAS CANELAS

Pior que até faz sentido que Mirror’s Edge seja em mundo aberto. Afinal, temos aqui um jogo cujo principal prazer é justamente a movimentação. A heroína, Faith, é bastante rápida e móvel, deslizando, escalando e até brincando de Tarzan com a maior facilidade. E ela é rápida.

No jogo anterior, as dicas de para onde você devia ir eram os detalhes vermelhos no cenário. Aqui, além disso, tem também uma “minhoquinha” que você pode seguir, o que ajuda bastante a deixar o jogo mais dinâmico e menos truncado. E isso possibilita também que a proposta de “Sonic em primeira pessoa” seja melhor realizada. Afinal, você pode estar sempre em movimento, sempre correndo, sem precisar parar e procurar para onde ir.

Mesmo jogando em 2014/2015, o jogo original ainda era muito bonito. Muito pelo seu visual ser totalmente estilizado, focado no uso das cores branco e vermelho, somado a um design minimalista e caprichado, faziam com que ele não parecesse datado. Catalyst, assim como o anterior, também impressiona. As casas, mobílias e cenários parecem saídos de uma revista de design e arquitetura. Coisa linda.

O design em si me lembrou um tanto de Portal e de Remember Me, dois jogaços da geração passada que também têm mundos muito convidativos.

Já os personagens são menos consistentes. Personagens principais, como o Noah e a protagonista Faith estão muito bem feitos (aliás, ela já era tão bonita no jogo anterior? Delfonauta, que gata ela está aqui!), mas a maioria dos NPCs claramente não tiveram o mesmo cuidado.

Há também alguns outros deslizes nos gráficos. Por exemplo, quando Faith se aproxima de um vidro, é possível ver seu reflexo, o que é um detalhe bacana. Porém, ela costuma colocar as mãos nos vidros, e as mãos dela não se alinham com o reflexo, o que causa estranhamento.

Em alguns momentos, também dá algum tipo de tilt no visual, que faz com que a tela, ou parte dela, fique totalmente preta, tornando simplesmente impossível de continuar. Isso aconteceu umas três vezes ao longo da campanha, e em todas eu precisei fechar o jogo e abri-lo de novo – o que não foi um problema tão grave já que Catalyst salva quase o tempo todo.

Apesar desses pequenos problemas visuais, o design em geral do mundo é tão bom que não dá para dizer que o jogo é qualquer coisa abaixo de lindo. E o design de som é igualmente caprichado. Repare como o som ambiente que você ouve é afetado pela altura em que você se encontra. Deveras tchubiruba, delfonauta!

As músicas também acrescentam bastante. São músicas eletrônicas, mas não são aquela barulheira de danceteria. É algo mais suave, que tem até um clima de meditação. Eu realmente não gosto de música eletrônica, e nunca ouviria a trilha sonora de Mirror’s Edge Catalyst fora do contexto do jogo, mas ela funciona realmente bem para acompanhar o jogador.

E sabe o que mais? O visual minimalista e o som suave fazem com que Catalyst seja um jogo assaz relaxante. Beira um transe sair correndo por essa cidade quase totalmente branca, seguindo os detalhes vermelhos, ouvindo apenas o barulho dos seus passos, vento e uns barulhinhos eletrônicos.

Gostei tanto de me locomover pela cidade de Glass que muitas vezes até optava por não usar o fast travel, o que é algo inédito para mim.

PERNAS PRA QUE TE QUERO?

E dentro das missões e sidemissions, o negócio fica ainda mais impressionante. A maior parte delas são fases de plataforma, onde você fica pulando de um lugar para o outro, não tão diferentes mesmo do próprio Sonic. Dentro das missões, você não corre tanto e explora mais, mas eu sempre gostei de jogos que possibilitam escaladas e que te colocam em lugares altos (tipo Prince of Persia e Assassin’s Creed). Nesses momentos você vê quão bom é o gamedesign de Catalyst. É basicamente a complexidade em ser simples.

Além de correr e escalar, também tem um pouquinho de combate corpo a corpo, que é bem fácil e tranquilo na maior parte do tempo. Caso você esteja correndo, simplesmente fica à prova de balas, e se usar o ataque quando estiver andando pelas paredes ou pulando de um lugar mais alto será mais eficiente. O legal é que seus chutes desequilibram os desafetos, possibilitando que eles caiam das plataformas, batam a cabeça na parede ou até derrubem outros inimigos. É bem divertido.

Tem um único tipo de inimigo que é um tanto chato de vencer. Ele tem muito mais energia que os outros, e quando acerta um golpe em você, causa uma cambalhota para trás, o que desorienta um bocado. Felizmente, ele aparece bem pouco ao longo da campanha.

Um dos tipos de sidemission merece destaque: chamado de gridnote, são as coisas mais plataforma que eu vi em um videogame em anos. Basicamente, você vai escalando um cenário pulando entre plataformas móveis e evitando encostar nos lasers que disparam alarmes. Simplesmente excelente. Dá uma olhada num pedacinho de uma dessas fases aí embaixo.

Além das sidemissions tradicionais, que têm uma historinha e são em sua maioria excelentes, há também algumas atividades que basicamente são corridas. As desculpas variam. Você pode precisar entregar um pacote sem ser visto, ou sem causar danos a ele, mas na prática em todas elas você precisa chegar do ponto A ao ponto B antes do tempo acabar.

Este é a pior parte do jogo. Acontece que ele mostra um caminho para o objetivo. Não o melhor caminho, simplesmente um caminho. E seguindo ele ou é muito difícil chegar até o final a tempo, ou é basicamente impossível. O jogo fala para você explorar para encontrar rotas melhores, mas isso não é legal. Se eu estou jogando um jogo de corrida, eu não quero ficar perdido pelo caminho – quero saber para onde ir e usar minhas habilidades para chegar lá o mais rápido possível.

Além disso, mesmo que você siga o caminho estabelecido, tem horas que a “minhoquinha” simplesmente some e demora muito para aparecer de novo. Isso não é um problema quando você está no mundo aberto ou em uma fase, mas no meio de uma corrida onde cada segundo conta, se torna um problema grave.

GO, GO, GO!

É comum que no DELFOS nossa opinião seja diferente da que vemos na imprensa geral – que, convenhamos, é bastante homogênea nos seus argumentos. Em alguns casos, como The Order: 1886, eu até entendo a negatividade, afinal, é um jogo cujo aspecto “jogo” é quase inexistente.

Porém, Mirror’s Edge: Catalyst tem um gameplay tão bom e um design tão caprichado que sinceramente me surpreendem as resenhas negativas. De fato, não é o mundo aberto mais complexo e movimentado de que se tem notícia, mas admito que esse seu aspecto light acabou me agradando. O que temos aqui, no final das contas, está mais para Mafia do que para Witcher, mas tudo bem. Nem todo mundo aberto precisa ser tão cheio de coisas para fazer.

A história, outro aspecto bastante criticado em Catalyst, de fato é um ponto fraco. Tem um malvadão que domina a sociedade, você faz parte dos rebeldes honrados, e é basicamente isso. Alguns aspectos da história, como a dívida que Faith tem com o Dogen, nunca são elaborados, enquanto outros, como o motivo pelo qual Faith começa o jogo presa, devem ser buscados em um gibi fora do jogo, o que nunca é uma boa ideia.

No entanto, ao contrário do que vejo na imprensa especializada, eu consigo simplesmente ignorar uma história que não me chama a atenção em um game. Claro, gosto de jogos com enredos marcantes e elaborados, mas se o gameplay é suficientemente bom e divertido, não me importo com uma história falha. E este é o caso aqui.

Um grande defeito que chama a atenção é a falta de possibilidade de começar uma nova aventura sem apagar o seu save anterior. É uma pena, pois eu posso querer jogar de novo sem apagar os colecionáveis que eu peguei na minha primeira partida.

No final das contas, eu realmente gostei muito de Mirror’s Edge Catalyst. Foi daqueles jogos que eu fiquei triste quando acabou, simplesmente porque eu queria jogar mais. E ele nem é tão curto. De fato não é dos jogos de mundo aberto mais longos, mas é bem maior do que Shadow of Mordor, por exemplo. E todas as suas missões de história e boa parte das sidemissions são nada menos que excelentes. As atividades de corrida você pode simplesmente ignorar, mas o que ele tem de bom é realmente bom.

Este é daqueles games que me faz ficar feliz por escrever sobre jogos, pois possibilitou que eu me divertisse bastante com um lançamento que normalmente passaria batido. Se você gosta da proposta de um Sonic em primeira pessoa, não se deixe levar pelas críticas negativas e experimente. Talvez você goste tanto quanto eu.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
mirrors-edge-catalystAno: 7 de junho de 2016<br> Gênero: Parkour em primeira pessoa para hiperativos preguiçosos<br> Plataforma: PS4, PC e Xbox One<br> Fabricante: Dice<br> Versao: Xbox One<br> Distribuidor: EA<br>