Mindflow – Mind Over Body

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É super legal quando chega um pacote aqui no DELFOS, porque sempre tem algum mistério envolvido. Por exemplo, se for um pacote da Nuclear Blast, você sabe que vai conter CDs de Metal, mas não sabe quais. É quase como abrir os presentes na véspera de Natal. Com a diferença de que esses presentes vão fazer com que a gente tenha que trabalhar neles, o que não é tão legal assim. 😉

Pois é, por mais legal que isso seja, não é tão agradável receber no mesmo pacote cinco CD-Rs de péssima qualidade, como as gravadoras costumam mandar. E é por isso que esse pacote do Mindflow me deixou impressionado. Embora não tivesse o elemento surpresa, já que o estava esperando e sabia o que continha, os caras não se limitaram a mandar apenas um CD-R com suas músicas, mas o CD original, em digipack, e ainda um mousepad (que acabou se tornando meu mousepad oficial) e dois releases, um em português e um inglês (bem mais bonito, por sinal, mostrando que a banda está investindo mais na divulgação internacional).

A primeira impressão, claro, é ótima. Se os caras estão gastando tanta grana em um presskit caprichado, é sinal de que eles acreditam no seu trabalho, mesmo sabendo que mousepads e demais brindes não vão influir na nota final. Bom, pelo menos não aqui no DELFOS, onde não estamos sujeitos a esse tipo de sedução. 🙂

Mesmo no próprio CD e em sua embalagem, vemos que a banda investiu bastante grana no lançamento. Além do digipack, ele vem com dois encartes. Ao folheá-los, contudo, vemos como a banda mistura um profissionalismo de dar inveja às bandas gringas com um amadorismo facílimo de ser evitado.

Calma, eu explico. Uma das primeiras coisas que aprendi na minha época de publicitário foi que, ao fazer a arte de algo, por melhor que seja a sua idéia, você NUNCA deve sacrificar a legibilidade do que está escrito lá. E esse é o principal erro da banda.

O encarte tradicional tem uma foto que “captura” o conceito de cada música. Isso é bem legal. Normalmente, as bandas que fazem isso, como o Helloween, utilizam desenhos e o fato de aqui serem fotografias (mesmo que bastante “photoshopadas”) dá um ar bem especial. O problema é que em muitas das páginas, é absolutamente impossível ler as letras. Pegue, por exemplo, a página que tem a letra de Chair Designer. A foto é escura e a fonte escolhida é preta, deixando versos inteiros completamente invisíveis. E, ao contrário da maior parte das coisas dessa resenha, isso não é opinião, partes da letra estão mesmo invisíveis, o que é uma grande pisada na bola. Em outras, como Hellbitat, a banda colocou a letra na ordem inversa. Já em Hide and Seek, é simplesmente uma bagunça. Tudo bem, nesse caso, fica claro que é uma bagunça intencional para dar a idéia das múltiplas personalidades e de estar dentro da cabeça do personagem, mas deveriam ter procurado caminhos alternativos para passar isso, pois a legibilidade está quase nula. E, se não for para lermos as letras no encarte, por que colocá-las lá, certo? Uma pena, pois o conceito do CD é muito interessante e eu estava realmente interessado nele (mais sobre isso em breve), mas infelizmente, não consegui acompanhá-lo da forma apropriada por causa desses problemas.

De acordo com o encarte, a direção de arte é do vocalista Danilo Herbert e de Fernando Bacellar. Não sei se essa foi a primeira incursão dos caras nessa área, mas eles têm capacidade de fazer melhor, já que algumas páginas estão com um design ótimo, como a de Just Water, You Navigate.

Já o segundo encarte traz uma história em quadrinhos narrada pela letra da música Follow Your Instinct, outra idéia muito boa da banda e ouvir a música acompanhando a história é algo que eu realmente recomendo àqueles que tenham acesso a este CD. O visual dos desenhos me lembrou bastante Animatrix, mas são um pouco irregulares, pois alternam desenhos tremendões com outros que parecem roughs inacabados. Também seria legal que a letra dessa música estivesse no encarte normal, para dar liberdade para o ouvinte escolher onde gostaria de lê-la, mas na página destinada a ela, temos apenas o nome da dita cuja.

Pronto, comentei todo o pacote. Agora vamos ao que realmente interessa em qualquer CD: a música. Trata-se de um Metal Progressivo muito legal. E olha que eu não gosto muito do estilo.

O conceito foi o que realmente me interessou pelo conjunto. Como o próprio título do CD já diz, as letras tratam de situações da mente sobre o corpo. A introdução em texto que tem no encarte das letras, em especial, é bem legal, e explica um pouco sobre a intenção da banda com elas. Essa introdução me lembrou um pouco o budismo. Não que eu seja budista ou um expert nessa religião, mas o pouco que sei parece se encaixar bem no conceito do álbum, como a parte em que falam que a mente e o corpo não existem. As letras, no geral, são muito legais. Particularmente, eu gosto muito dessa mistura de filosofia com sentimentos que elas expressam.

Quanto à música, destaco principalmente os trabalhos de guitarra e teclado. Praticamente todas as músicas têm riffs deveras empolgantes e o teclado é muito bem utilizado, ao contrário da grande maioria das bandas de Metal. Se for para usar esse instrumento da forma sutil que fazem o Helloween ou o Iron Maiden, eu prefiro sem. A minha opinião é que, se for para usar, faça direito, e o Mindflow faz. O vocal também é bom, mas tem muitos efeitos na voz o que, particularmente, não gosto. Quando a voz sai naturalmente, contudo, o cara manda bem e usa várias entonações bem diferentes. Só precisa melhorar um pouco o inglês. Aliás, as letras também têm alguns erros meio feios no uso dessa língua.

Agora se o Mindflow se sai muito bem nas músicas pesadas, nas baladas, ou nas partes lentas das não-baladas, deixa um pouco a dever. Talvez para os grandes fãs de Progressivo, seja mais legal, então se você for um deles, vale uma ouvida, pois você pode discordar de mim.

Um conceito forte, músicas longas, mas não chatas, e ótimos instrumentistas fazem desse CD algo muito recomendável. Para a banda, vale investir uma verba nos próximos lançamentos em um diretor de arte profissional para o encarte e um consultor de inglês para corrigir erros nas letras e na pronúncia. Resolvendo esses probleminhas e potencializando as muitas qualidades mostradas aqui, essa banda vai longe.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
mindflow-mind-over-bodyAno: 2006<br> Gênero: Metal Progressivo<br> Duração: 79:52<br> Artista: Mindflow<br> Número de Faixas: 9<br> Gravadora: Independente<br>