Exatos dois anos atrás, a dona Capcom lançou Mega Man Legacy Collection, juntando todas as aventuras que o Mega-Hômi teve no Nintendinho. Agora fãs da série poderão se regozijar com gosto, pois com a chegada de Mega Man Legacy Collection 2, pela primeira vez é possível ter todos os jogos numerados em uma só plataforma.

Esta coleção traz Mega Man 7, originalmente lançado em 1995 para Super Nintendo; Mega Man 8, de 1996 para Saturn e Playstation; e os mais recentes Mega Man 9 e 10, que saíram na geração passada, em 2008 e 2010, respectivamente.

Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Escolha seu jogo.

Se a coleção anterior era bem redonda em sua apresentação e qualidade (afinal, todos os jogos eram originalmente do mesmo console), esta aqui apresenta uma considerável evolução em gráficos e mecânicas, para em seguida voltar ao estilo clássico. Pois é, caso você não tenha acompanhado na época do lançamento, os Mega Man 910 têm apresentação idêntica aos de Nintendinho.

Eu joguei ambos na época do lançamento e eles são excelentes. O nono é considerado o jogo mais difícil da série. Já o 10 dá uma colher de chá com o modo fácil, que para mim tornou o jogo bem mais aprazível e, desta forma, ainda melhor do que seu antecessor.

Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Mega Man 10

QUALIDADE DE VIDA

Antes de falar de forma mais aprofundada dos jogos individuais, quero elogiar o excelente trabalho que a Capcom fez para que esta coletânea fique menos datada. Para começar, todos os checkpoints salvam automaticamente. Quando você morre, pode continuar jogando ou então dar um load, o que efetivamente deixa o jogo com vidas infinitas.

Mega Man sempre teve continues infinitos, mas você era obrigado a voltar para o começo da fase ao perder todas as suas vidas. Aqui isso é totalmente opcional. Você pode escolher usar os saves ou não (dá até para desligá-los completamente), tendo assim a experiência clássica hard as hell ou então algo mais apropriado para adultos com famílias e outras obrigações.

Tem também uma opção que você pode ativar chamada extra armor. Ela faz com que todo dano que você tome seja dividido pela metade. Fãs hardcore podem torcer o nariz, mas eu achei ótimo. Acessibilidade é algo que todo jogo deve buscar, e sendo opcional, quem quiser jogar como originalmente planejado pode fazer isso.

SUPER NINTENDO

As principais atrações aqui, para mim, eram o sétimo e o oitavo. Curiosamente, embora eu tenha acompanhado a geração dos 16-bit com afinco, não me lembrava de existir um Mega Man numerado para ele. Lembrava, claro, do Mega Man X, que fez bastante sucesso, mas pelo menos para mim, o sétimo passou despercebido.

Ele traz uma evolução considerável nos gráficos, mas se mantém bem fiel aos originais em suas mecânicas e estruturas. Devo dizer, inclusive, que no aspecto de gamedesign, ele seja talvez o mais fraco da série. Em especial, passar da fortaleza do Dr. Wily foi um suplício e nem um pouco divertido.

Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Eu fiquei um bom tempo travado nessa parte.
Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Caras legais não olham para explosões.

A música, algo que sempre foi excelente na série, também está menos empolgante em Mega Man 7. Elas são mais calmas, sem a atitude roqueira da série clássica (algo que só seria revivido depois, no 9 e 10, que têm uma trilha excelente).

Eu tenho um problema com a parte final em todos os Mega Man (Mega Men?). Se o timing no jogo em geral é bom, com uma fase que termina em uma batalha contra o chefe, no final eles costumam exagerar na quantidade de chefes, culminando naquela pentelhação de ter que lutar contra todos de uma vez. É algo que você pode gostar, e este boss rush final é inclusive bem comum em jogos japoneses, mas eu nunca achei isso legal.

Isso, somado ao design punitivo de Mega Man 7, fez que quando eu o terminasse, a última coisa que eu quisesse era jogar mais um Mega Man. Assim, eu iniciei meio que obrigado o Mega Man 8, e não demorou para que eu me empolgasse bastante com ele.

INTERLÚDIO

A época do primeiro Playstation foi uma era de transição nos games. Os gráficos clássicos, em bitmap, nunca foram tão bonitos, mas estava na moda o visual em vetor, que melhorava as animações, mas deixava tudo bem quadrado e feio. Quem viveu a época com certeza lembra como jogos como Virtua Fighter pareciam muito mais feios e simples do que os jogos do Super Nintendo.

Virtua Fighter, Delfos
Compare isso com Street Fighter 2 e adivinhe qual era mais moderno. Se você não viveu a época, você estaria errado.

Eu odiava esses gráficos, meu amigo. Simplesmente não entendia porque faziam isso sendo que o bitmap tradicional estava cada vez mais bonito. Claro, hoje eu entendo que às vezes é necessário dar um passo para trás para poder avançar e jogos como Uncharted seriam impossíveis sem termos vivido aquela revolução gráfica no fim dos anos 90. Agora vai dizer isso para o Corralinhos adolescente que de repente viu seus joguinhos ficando tão feios.

PLAYSTATION FTW!

A maior parte dos jogos de Playstation usavam os gráficos poligonais, mas este não foi o caso de Mega Man 8, que se manteve fiel ao estilo clássico, ao mesmo tempo que atualizou tudo, deixando o jogo simplesmente lindo, cheio de efeitos interessantes e tudo com um design espetacular e cores vivas.

Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça.

Mega Man 8 era a continuação que a série não sabia que precisava, e não digo isso apenas por causa do visual. Coisas obtusas que vinham sendo usadas desde o início foram aposentadas ou modificadas. Pela primeira vez, abriram mão do maldito sistema de passwords, e começaram a usar saves.

Detalhes do próprio gameplay melhoraram muito. As armas, que costumavam ser identificadas pelas cores da roupa do herói, agora tinham também um ícone, o que é bem mais user-friendly e ajuda bastante para identificar o que você procura. Além disso, as armas, que antes eram úteis apenas para os chefes específicos, agora são legais de usar nas próprias fases. E você pode usá-las com o botão B, enquanto sua arma padrão está sempre acessível no X.

Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Até a apresentação dos chefes ficou bem mais interessante.

Outra coisa que era uma tendência na época eram as cutscenes feitas em desenho animado ou filmes em live-action. Isso é algo que ainda não me conformo, pois considero ambas as técnicas bastante superiores aos CGs que dominam hoje em dia. Mega Man 8, claro, opta por contar sua história com visual cartoon, e embora a atuação seja realmente fraquinha (na época nem sempre se usava atores para fazer as vozes de videogames), o visual ainda é muito legal, e deixa as cutscenes um prazer de serem assistidas.

Mega Man Legacy Collection 2, Delfos
Você vai se sentir assistindo a um desenho no sábado de manhã.

Isso tudo torna Mega Man 8 a grande joia do pacote desta que é uma excelente coletânea. Temos aqui dois jogos excelentes (8 e 10), um ótimo (9) e um bom (7). Admito, eu mesmo me surpreendi com o fato de o jogo de Super Nintendo (que muitos consideram o melhor console já feito) ser o menos bom aqui, mas felizmente o de Playstation é tão legal que acaba compensando.

Esta coletânea talvez pareça menos atraente do que a anterior. Afinal, não são os jogos clássicos que todo mundo lembra, e dois deles são relativamente recentes. Ainda assim, com ela podemos ter todos os Mega Men numerados no mesmo console e, se você for louco, jogar um depois do outro. Me avisa se você fez isso e sobreviveu, porque se pá eu tento fazer a mesma coisa.