Max Payne

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– Se você gosta de câmera lenta, leia aqui a resenha de Max Payne II, o game.

Eu ainda lembro vividamente de quando o primeiro game do Max Payne saiu. Foi mó sensação entre os nerds da ESPM (onde estudava na época), todo mundo dizia que era o jogo nunca lançado do Matrix e o adjetivo mais brando para classificá-lo era “animal”. Finalmente, coloquei minhas mãos nele e, na primeira vez que eu dei o tradicional pulinho para a frente, a câmera lenta ativou automaticamente e eu calmamente mirei na cabeça do meliante enquanto via seus tiros passando por mim. Foi um cumshot involuntário à primeira vista. É por momentos assim que Satã criou os videogames, meu amigo!

Ok, hoje o famoso bullet time é arroz de festa em qualquer jogo de tiro, mas naquela época foi uma tremenda inovação. Isso, aliado ao clima noir e ao jeitão de gibi da Vertigo, fez com que o título mudasse a jogabilidade e a cara dos games de ação tanto quanto o próprio Matrix fez com o cinema ocidental.

Pelos dois parágrafos acima, o delfonauta pode perceber que eu realmente sou fã do jogo em questão e toda sexta-feira, à meia-noite, sacrifico 42 bodes para que a terceira parte do game saia logo. Junte-se a mim.

Enquanto aguardo, um dos melhores jogos da história ganhou sua adaptação cinematográfica e, a julgar pelos trailers e até mesmo pela divulgação, estava com uma boa impressão sobre ele. Porém, como você já deve ter percebido pela quantidade de Alfredos ao lado, ainda não foi dessa vez que tivemos uma versão “cinemal” tremendona de um jogo tremendão.

A história é até bem fiel ao game. O rapper Marky Mark, aquele das Good Vibrations (que aqui assina como Mark Wahlberg) é Max Payne, policial que teve sua esposa e rebento assassinados em um caso nunca solucionado. Isso o tornou um ser amargo, vingativo e obcecado.

Embora o caso tenha sido arquivado pela polícia, ele decidiu continuar suas investigações solitariamente e logo percebe que talvez o assassinato de sua amada seja parte de uma grande conspiração, envolvendo corporações, o governo e a mitologia nórdica abençoada pelo Vento Preto.

Apesar da fidelidade neste quesito, o filme peca em outro igualmente importante: a ausência de ação. A câmera lenta, marca registrada do game, por exemplo, só vai fazer sua primeira aparição uma hora depois do início. A primeira cena de ação, no entanto, só acontece após uma hora e meia de filme. E são apenas três seqüências envolvendo tiroteios.

Ok, sejamos justos. Quando a ação acontece, o troço é digno de causar um Orgasmatron no Lemmy e no Andreas Kisser. Santa Madre de Santiago de Compostela, como essas cenas são lindas. Temos câmera lenta, água, explosões e vidros quebrando, tudo isso ao mesmo tempo. Só não dá para entender porque o filme inteiro não é assim.

O mesmo pode ser dito do visual. Quem jogou o game sabe quão classudo e artístico ele é. Em alguns momentos, o filme faz juz a isso. Alguns planos são incrivelmente belos e têm a mesma cara do jogo. Outros são comuns e genéricos. É uma pena que o diretor John Moore (do remake de A Profecia) não deu uma de Robert Rodriguez, pois Max Payne tinha tudo para ser um Mandando Bala com o visual forte (embora diferente, é verdade) de um Sin City.

Mas para falar a verdade, não coloco a culpa do potencial não realizado no diretor. Para mim, a culpa é do roteirista Beau Thorne. Segundo o release, ele acabou de sair da escola de cinema e isso se reflete na falta de timing do seu roteiro. Um escritor mais experiente certamente colocaria mais cenas de ação e assim evitaria o marasmo que permeia quase toda a projeção.

Por fim, gostaria de falar do elenco. Definitivamente não pegaria o Marky Mark para fazer o Maximiliano Dor. Não acho ele parecido com o personagem e também o considero deveras inexpressivo. Outra escolha estranha é Mila Kunis, a Jackie de That ‘70s Show para fazer a femme fatale Mona Sax. Mas embora Mila seja pequena e fofinha, até que a combinação da maquiagem, vestuário e atuação a deixaram suficientemente parecida com a parceira de Max e com menos cara de menininha.

Para muitos, Max Payne pode ser a melhor adaptação cinematográfica de games já feita – e até é mesmo. Um desavisado, inclusive, pode nem perceber que está assistindo a um jogo. Definitivamente não é um filme ruim, como tantos perpetrados pelo meliante de nome Uwe Boll. Porém, se você conhece e gosta do jogo no qual ele foi baseado, provavelmente esperava por mais. Eu, pelo menos, esperava.

Curiosidade:

– Novamente temos aqui Olga Kurylenko, a moçoila de Hitman e Quantum of Solace, que parece estar se especializando em filmes com tiroteios. A boa notícia é que é possível ver as costas dela e aquela cicatriz terrível vista no filme do Jaime Grude sumiu. Ragnarok seja louvado!

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
max-paynePaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Policial<br> Roteiro: Beau Thorne<br> Elenco: Marky Mark, Mila Kunis, Beau Bridges, Olga Kurylenko e Chris O’Donnel.<br> Diretor: John Moore<br> Distribuidor: Fox<br>