E temos aqui a grande surpresa dos games em 2016. Manual Samuel chegou aqui na redação como quem não quer nada, e admito que pela descrição que veio junto com o código, eu esperava um desastre. Tipo alguma coisa na linha I Am Bread. Estava tão receoso que admito que passei outros games na frente, com medo da bomba que me aguardava. Mal sabia eu que Manual Samuel não é uma bomba. É, muito pelo contrário, uma pérola.
Aqui acompanhamos um dia na vida de Sam. Após brigar com a sua namorada, ele é atropelado por um caminhão e vai parar no inferno. Lá, ele encontra a Morte (que é homem) e faz um acordo. Sam poderá voltar a viver se conseguir sobreviver um dia com uma deficiência escolhida pelo caveirão. Ele topa, e a deficiência em questão é que absolutamente tudo no corpo de Sam será feito manualmente. Ou seja, essa é sua função.
E quando eu digo tudo, realmente quero dizer tudo. Você precisa respirar, piscar, manter a coluna ereta (hehe, ereta…) e lembrar de alternar as pernas para cada passo que for dar. Foi por causa dessa descrição que pensei no I Am Bread, que tornou a simples arte de andar um suplício. Aqui, felizmente, não é o caso. Você anda alternando entre o L2 e o R2, o que não é difícil. Além disso, você não morre em nenhum momento, tornando tudo basicamente um desenho animado interativo.
Boa parte do humor, aliás, vem das suas falhas. Você já pensou quão complexo é colocar uma jaqueta? Pois Manual Samuel vai fazer você pensar nisso. E é impossível não rir quando no meio de uma atividade importante o Sam desmaia simplesmente porque você esqueceu de respirar.
Tudo isso é permeado por um narrador onipresente que além de comentar cada uma das suas ações (ele comenta até mesmo se você andar para o lado errado), até interfere no mundo do jogo. Por exemplo, logo no início você vai vestir calças e a jaqueta, mas se tentar colocar a jaqueta primeiro, o narrador vai fazer o armário pegar fogo até você colocar as calças.
E vou dizer, acho que não ria tanto em um jogo desde Portal 2. Manual Samuel literalmente me fez gargalhar muitas vezes, graças a um roteiro muito bem escrito e muitas vezes por causa do absurdo da situação causada pelos meus erros.
O visual é muito legal, com a maior cara de desenho animado. Os personagens são todos simpáticos e animados com muita personalidade, especialmente o Sam, que consegue passar toda a dificuldade ao fazer os atos do dia a dia que todos fazemos sem pensar.
Além do narrador, o personagem Morte também fala bastante e tem uma personalidade de skatista malandrão, não tão diferente do Chorão, que rende ótimas piadas. Proibida pra mim, no way!
O jogo é curtinho, tem basicamente a duração de um filme, um pouquinho mais de duas horas, o que combina com seu visual e seu humor, que não perde a pegada em nenhum momento.
No entanto, na sua última fase, apesar de na parte da história e piadas ainda ser legal, o gameplay se torna um tanto chato e repetitivo, obrigando você a lutar contra uma série de inimigos e um chefe que, apesar do visual bacana, simplesmente demora muito para ser vencido. É uma pena, pois até jogar esta última fase, estava considerando dar ao jogo cinco Alfredos. É apenas uma das oito fases, no entanto, e em todas as outras eu me diverti muito e não parava de rir.
Há também um modo coop, mas ele apenas divide os comandos entre os dois jogadores, sendo assim muito menos interessante do que poderia ser.
Você pode até nunca ter ouvido falar de Manual Samuel, mas se você gosta de um humor bem bobo – e provavelmente se você está no DELFOS deve gostar, não poderia recomendar com mais força esta aquisição. Manual Samuel é o jogo perfeito para comprar, jogar e zerar em uma tarde de sábado.