Não sou um apreciador de longas de animação. Nunca achei muita graça e odeio o “estilo Disney”, com aqueles números musicais chatos e intermináveis. Ultimamente, fiquei mais tolerante por causa de filmes bons como Shrek e Os Incríveis, mas mesmo assim, eles somem da minha cabeça meia hora depois de assistí-los.
Isso ficou ainda pior quando fiquei sabendo que assistiria a uma cópia dublada: toda a minha boa vontade (que já não era muita) caiu por terra. Porém, com cinco minutos de filme, já estava rindo à beça. Quem diria que com todas essas adversidades Madagascar conseguiria me deixar de bom humor!
Num zoológico em pleno Central Park (Manhattan), o leão Alex (a voz do Ciclope do desenho X-Men – Evolution na versão tupiniquim) é a grande atração, vivendo como tal e sem querer uma vida melhor que essa, assim como seus companheiros Melman, uma girafa, e Glória, hipopótama com a voz da global Heloísa Périssé na versão dublada. Quem não está nada contente é o melhor amigo de Alex, Marty, uma zebra de 10 anos que passa a sofrer uma crise de meia idade animal. Ele quer mais do que a vida na selva de concreto. Ele quer conhecer a natureza.
Inspirado por um bando de pingüins insanos (de longe, os melhores personagens do filme), ele parte sozinho num passeio pela cidade, o início de uma jornada que acabará por levar ele e seus amigos para Madagascar. E é quando eles chegam à paradisíaca ilha que a história ganha contornos interessantes. Alex, totalmente domesticado, odeia a natureza de imediato. Afinal, ela não oferece as regalias que ele tinha no zoológico. Enquanto Melman e Glória ficam em cima do muro, Marty adora o lugar e tenta convencer os amigos a ficarem.
É um paralelo bacana entre a vida na cidade e a vida no campo (nesse caso, uma floresta) e sobre como é difícil nos desapegarmos de um determinado modo de vida tão familiar a nós, mesmo que a outra opção seja até melhor.
Forçando a barra, pode-se até dizer que se trata também do tema de como o meio em que estamos pode mudar as características de alguém. O mimado Alex, numa ilha sem humanos, fica sem seu prato principal, bifes, até que a fome o leva a regredir à sua natureza predatória. Aliás, o sonho dele com bifes, sacaneando a cena das pétalas de rosa de Beleza Americana é um dos pontos altos do filme, daquelas piadas feitas especialmente para os adultos, assim como a homenagem à cena final de O Planeta dos Macacos (o original, não a refilmagem de Tim Burton).
O traço mais estiloso da animação, cheia de ângulos retos, também dá um visual mais diferenciado, mais caricato, que com certeza, junto com seu colorido, vai agradar os infantes .
E os pingüins! Esses carinhas mereciam um filme só para eles. Para se ter uma idéia, toda vez que eles apareciam (infelizmente, são poucas) o cinema vinha abaixo em um terremoto de risadas. Organizados como uma milícia guerrilheira e com feições de super-vilões a la Pinky e Cérebro, seu grande sonho é ir para a Antártida, nem que para isso precisem roubar um navio! Ei, eu disse que eles eram insanos. Sem contar que um deles se chama Kowalsky, um dos nomes mais tradicionais em filmes de guerra e futuro nome do meu primogênito.
Há ainda dois macacos intelectuais e um bando de lêmures festeiros. Um deles até lembra o Gato de Botas de Shrek 2 pelos olhões e a carinha de coitado.
Sim, me diverti bastante com o filme dublado, mas acho que assistí-lo com o som original poderia ser ainda mais legal. Olha só quem originalmente dá voz aos personagens: Ben Stiller (Alex), Chris Rock (Marty, que obviamente, não perde a chance de fazer piadas raciais), David Schwimmer, o Ross de Friends (Melman) e Jada Pinkett Smith (mulher do MIB Will) como Glória. Eu gostaria de conferir em especial o trabalho de Schwimmer, que realmente tem voz (e cara) de neurótico. Deve ser assaz engraçado.
Realmente a dublagem até que é muito boa, porém, algumas gírias ganharam aquele tradicional sotaque “carioquês”, cortesia de Heloísa Périssé, aquela mesmo que aparece depois do Fantástico. Ou seja, não faltam “tipo assim”, “tu vai lá” e aquela impressão de que todos os bichos, até o Melman, são manos. Parte da campanha de divulgação do filme em cópias dubladas é dizer que foi feito um trabalho inédito: é a primeira vez que um dublador (no caso, Heloísa) adapta as falas do filme para um melhor entendimento por parte do público tupiniquim.
Adaptar as falas de um filme não é novidade nenhuma. Todos os filmes passam por esse processo (geralmente por causa de gírias inexistentes em nossa língua ou por referências que não conhecemos). De fato, é a primeira vez que a pessoa que dubla faz a adaptação, (embora Heloísa também seja roteirista), o que torna o fato menos relevante e menos grave. Já imaginou se a moda pega? Daqui a pouco até Reynaldo Gianecchinni vai estar nessa. O horror, o horror…
Para concluir a resenha, digo que Madagascar é tão legal quanto os últimos exemplares do gênero, porém daqui a meia hora não vou lembrar nem de ter escrito este texto.