Admiradores dos joguinhos de medo e que jogam apenas nos consoles sacrificaram uma quantidade absurda de bodes desde a metade de 2015 para que Layers of Fear fosse lançado para Xbox One e PS4. Pois os deuses do fogo e do aço ouviram pelos nossos clamores, e cá está a resenha delfiana da versão de PS4 de Layers of Fear.
O jogo começa sem grandes explicações. Você simplesmente assume o controle de um personagem sem corpo e sem reflexo e sai explorando o que parece ser uma casa comum. Não é dito a princípio quem ou o quê você é, e sua única dica ou traço de personalidade é o fato de andar mancando.
O gameplay é danado de simples e consiste basicamente em explorar a casa a seu próprio tempo, sendo que um botão faz andar mais rápido, e outro interage com o ambiente. Para abrir uma porta, por exemplo, é necessário segurar o R2 e mover a alavanca direita. Desnecessário, bastaria apertar o botão, mas você logo se acostuma.
Demora um bocadinho para acontecer qualquer coisa digna de nota. A princípio, você explora a casa, pega uma chave, abre a porta trancada… e aí pá! O jogo realmente começa.
A sacada mais legal do jogo são as coisas que acontecem quando você vira as costas. É comum as portas se trancarem assim que você passa por elas, mas o realmente assustador é quando você imediatamente olha para trás e a porta não está mais lá, e em seu lugar está um longo corredor ou apenas uma parede.
Layers of Fear faz isso a todo momento. Tem hora que você entra em uma sala e sai pela mesma porta apenas para encontrar um lugar totalmente diferente daquele pelo qual tinha acabado de passar. Desta forma, é bom explorar bem tudo que estiver na sua frente, pois assim que virar as costas pode não estar mais lá.
Isso causa um sentimento de ansiedade, pois você está constantemente desorientado e nunca consegue sacar o layout da casa. Além disso, rola de passar várias vezes pelos mesmos cômodos da casa em diversos momentos e eles estarem bem diferentes da última vez que você passou por lá.
A história é contada através dos objetos encontrados pela casa, mais ou menos como o famoso Gone Home. Você encontrará cartas, desenhos e itens que aos poucos vão revelando quem é você e o que aconteceu com a família que morava ali.
Claro, nada disso é contado de forma realmente clara. É tudo fragmentado e você provavelmente vai deixar passar muita coisa, fazendo com que a minha interpretação da história possa ser bem diferente da sua.
CADÊ O PERIGO?
O delfonauta dedicado sabe que, embora eu adore jogos de terror, eu morro de medo deles. Eu tenho uma relação de amor e ódio com games tipo Outlast. Quando estou jogando, eu fico torcendo para chegar logo a um checkpoint e poder parar de jogar, mas quando isso acontece, eu nunca quero parar e resolvo sempre estender mais um pouquinho. Isso não aconteceu aqui.
Apesar de toda a atmosfera caprichada e do excelente design de som, Layers of Fear não me deixou com medo, e nem mesmo tenso. Minha teoria para isso é a quase total ausência de perigo. Eu costumo dizer que quando um jogo de terror é difícil demais, e obriga o jogador a repetir várias vezes as mesmas partes até conseguir passar, o medo é eliminado da equação. Pois parece que se não houver dificuldade nenhuma, também não dá muita liga.
Para dizer a verdade, até é possível morrer por aqui, mas eu só fui descobrir isso perto do final do jogo. Acontece que, quando você morre, acorda em outro lugar e continua jogando. Não é um checkpoint, a impressão que dá é que morrer “avança” o jogo – o que talvez faça com que você perca um tanto de exploração, já que nunca dá para voltar. Assim, nas vezes que eu morria eu achava que aquilo que acabou de acontecer era parte do caminho natural do jogo, e não algo que deveria ser evitado.
O que mais vai impedir seu avanço, no entanto, são alguns objetivos escusos. Por exemplo, perto do final do jogo, você fica preso em uma sala com um tabuleiro de damas e tem que procurar as pecinhas no cenário, modificando-o a cada vez que encontra uma.
Além de ser difícil encontrar as minúsculas pecinhas, eu passei uma boa parte do tempo tentando solucionar algo que não era para ser solucionado. Quando eu pegava uma pecinha de uma balança, algumas portas se abriam e fechavam e eu entendi que eu precisava fazer todas ficarem abertas ou fechadas. Só depois de insistir muito nisso é que eu descobri que o que precisava fazer era encontrar outro item e colocá-lo na balança.
Apesar de ser inevitável ficar empacado em algum momento, a exploração é bastante linear. Em alguns momentos, você pode escolher entre dois caminhos diferentes, mas como ao escolher um a porta se tranca atrás de você, imagino que no final das contas deve acabar dando na mesma.
UMA MANHÃ NEM TÃO ASSUSTADORA
Além disso, Layers of Fear é um jogo bastante curto. Eu o terminei em uma tacada só. Comecei a jogar numa manhã de domingo bem cedinho e os créditos rolaram na hora do almoço. Eu não diria que foi uma manhã assustadora, mas ao mesmo tempo eu não me arrependi de tê-lo jogado.
Temos aqui um jogo muito bem planejado, no qual cada passo e cada virada da câmera tem um efeito direto no que você vai ver e ouvir. É um jogo feito com capricho e esmero, mas falha no fato de ser um jogo de terror que não dá medo. Ao mesmo tempo, eu o recomendaria para qualquer pessoa que goste de games com atmosferas cuidadosamente trabalhadas, pois isso Layers of Fear faz muito bem.