Kona

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No Canadá faz frio. Eu sei, delfonauta, você provavelmente está estupefato com esta informação, mas é verdade. É por isso que o Wolverine é baixinho e peludo. Para se manter quente. Carl, o protagonista de Kona, não tem a mesma sorte. Para se manter quente, ele precisa fazer fogueiras, ou morrerá congelado. Mas estamos colocando o trenó na frente dos São Bernardos.

Nosso amigo Carl é um detetive contratado por um ricaço para investigar um caso de vandalismo. Não é nada muito glamoroso, mas dinheiro é dinheiro, né? Ele sabe que o milionário em questão, Hamilton, é dono de toda uma região do norte do Canadá, e isso fez com que os habitantes dos remotos arredores ressentissem o sujeito.

A coisa fica mais cabeluda quando ele chega na lojinha onde combinou de se encontrar com o cliente. Lá ele encontra Hamilton assassinado, e tanto a lojinha quanto a cidade parecem estar abandonadas. Não demora para outros presuntos aparecerem, tornando este um trabalho para Carl, detetive particular.

WALKING SIM ENCONTRA SURVIVAL HORROR

Pelo que eu li de Kona antes de jogá-lo, estava esperando que ele fosse um walking simulator. Não é bem o caso. O que temos aqui parece uma mistura de Everybody’s Gone to the Rapture com, veja só, Resident Evil. O bagulho tem até combate, meu.

Não, o combate nunca assume o primeiro plano. Há armas de fogo com munição bem limitada e corpo a corpo. Eu passei o jogo inteiro usando um machado que adquiri logo no começo e ele me serviu bem. Há uma conquista de 100 pontos para terminar sem dar nenhum tiro e digo com orgulho gamer que ela agora é minha.

O foco, na realidade, é na exploração, e o jogo é bem aberto, daí a comparação com Everybody’s Gone to the Rapture. Você pode explorar a parte sul do mapa a seu bel prazer e, quando cumprir um requisito mínimo de tarefas, poderá ir à parte norte. Na minha campanha, eu sequer sabia deste requisito mínimo, pois explorei o sul tranquilamente, e quando resolvi me aventurar pelo norte, descobri que já tinha cumprido tudo que precisava para prosseguir.

O seu mapa tem vários locais de interesse, quase todos são as casas dos moradores da região. Como um detetive particular, você tem a obrigação moral de entrar na casa de todos eles, abrir coisas trancadas e pegar qualquer coisa que lhe chame a atenção. Ou na vida real os detetives não fazem isso?

Por ser um jogo bem aberto, admito que durante a maior parte da minha campanha, eu me senti perdido, sem saber se estava de fato fazendo progresso. Claro, eu estava. Basta explorar que você avança, mesmo que não exauste todas as possibilidades de cada um dos cenários.

PROBLEMAS TÉCNICOS

Kona tem alguns problemas técnicos. Um que me incomodou bastante é que a câmera precisa estar apontada direitinho para as coisas a serem exploradas, ou o botão de interagir não faz nada. Para facilitar, resolvi ativar a mira no menu de opções, mas mesmo assim não apareceu mira nenhuma, então era comum eu ficar mexendo levemente a câmera em todas as direções tentando fazer o prompt aparecer.

Outra coisa técnica que incomoda é que o jogo faz pausas frequentes no gameplay. Você está andando em uma direção, e daí a imagem congela e uma bolinha aparece no centro para indicar que ele está carregando. Não são pausas curtas, chegam a durar 30 segundos ou mais, então incomoda bastante ter a exploração bruscamente interrompida com tanta frequência e por tanto tempo.

O jogo é bastante bonito, com gráficos bem detalhados. Particularmente, me agrada muito explorar um lugar ermo e hostil como o que temos aqui. É também bem difícil de enxergar o que não estiver bem na sua frente, no início por causa da nevasca forte, e depois porque anoitece e o jogo fica bastante escuro.

MANTENHA-SE VIVO

O survival horror não entra só na conservação de munição. Você precisa se manter quente, calmo e com saúde. Sempre que você não estiver ao lado de uma fogueira, seu medidor de temperatura cai. Quando você encara perigos ou bate no cenário com o carro, seu estresse aumenta. Por fim, a saúde é o tradicional: quando você é atacado, seu life diminui.

Você tem itens que acalmam e curam, mas para se esquentar precisa usar três itens em lugares específicos do mapa nos quais pode fazer uma fogueira. Isso também salva o jogo. Meu amigo delfonauta sabe que eu sou ideologicamente contra usar recursos para salvar, e aqui se você se perder explorando pode perder muito tempo de jogo por algo bobo como morrer de frio.

Felizmente, os itens que criam fogueiras são abundantes e você pode acender uma em praticamente todas as casas e locais fechados que vai entrar, então a questão é apenas se manter vivo quando estiver indo de um lugar para o outro. Planeje bem suas rotas e você dificilmente vai congelar.

Enquanto você está dentro de um ambiente com fogueira, Kona autosalva com bastante frequência, e como estes são os lugares em que você vai passar mais tempo procurando itens e pistas, realmente a ausência de checkpoints não foi um problema recorrente. Até porque é mais perigoso morrer de frio do que em combate, já que o combate é um tanto raro.

Minha campanha durou exatas oito horas explorando todo o cenário com calma. No entanto, o final me surpreendeu por ser bastante repentino. Eu já imaginava que estava próximo ao fim porque estava ganhando as conquistas de entrar em todas as casas e coisas do tipo, mas mesmo assim fiquei surpreso porque teve pontos de interesse no mapa – a casa do Hamilton, por exemplo – que eu não tive a chance de chegar porque o jogo terminou no meio do caminho. Imagino que elas não existam mesmo, mas não diria isso com veemência, uma vez que estão no mapa como pontos de interesse. Talvez haja outro caminho que não encontrei para chegar lá?

A história é bacaninha, mas nada muito marcante. Convenhamos, utilizar os Wendigos como tema de seu jogo de videogame é algo bem comum. Já perdi a conta de quantos jogos usaram esta fera mitológica em suas histórias. Isso não significa que o jogo não valha a pena. Vale sim, eu gostei muito das minhas oito horas com ele, e provavelmente em algum momento do futuro, vou jogar de novo para ver se consigo encontrar mais pistas. Se a ideia de um survival horror light lhe apetece, Kona é uma excelente pedida.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
konaAno: 17 de março de 2017<br> Gênero: Survival horror light<br> Plataforma: PC, PS4 e Xbox One<br> Fabricante: Parabole<br> Versao: Xbox One<br> Distribuidor: Deep Silver<br>