Klaus

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O amigo delfonauta é um retrogamer? Esteve vivo na época dos 8 ou 16 bit e se divertiu pra caramba com a cacetada de jogos de plataforma que inundavam os consoles da época? Mega Man, Super Mario, Sonic… bons tempos. Sente saudade deles? Pois regozije-se, caro colega. Klaus foi feito para você.

Aqui temos exatamente isso. Um jogo bastante simples, tanto em seu gameplay quanto em seu audiovisual. Sua estética minimalista é um tanto monocromática, com cada capítulo sendo predominantemente de uma única cor. Admito, sua estética não me agrada muito. Mesmo jogos antigos, como Sonic, conseguem ser mais bonitos. Porém, acredito que por ser bem estilizado, o visual pode agradar a muita gente.

A música é totalmente chiptune. Não chega a ser animada ou empolgante como as de um Mega Man. O que temos aqui é mais atmosférico, com uma pegada mais cerebral, mas ainda assim totalmente retrô. Porém, o jogo realmente se destaca naquilo que pode ser considerado o mais importante em um game…

GAMEPLAY

Nas faculdades de comunicação que eu cursei, era comum estudarmos filmes para analisar aspectos específicos deles. Pois eu não cursei faculdade de games, mas acredito que o gameplay de Klaus é tão bom, tão milimetricamente planejado, que ele deveria ser estudado como exemplo de gamedesign.

Ele é extremamente simples. Tem um botão de pulo, um de corrida e um de ação. Há dois personagens. Klaus é pequeno e capaz de dar pulos duplos e hackear computadores. K1 é grandão e consegue planar, além de quebrar paredes com seus socos. Você pode alternar entre os personagens apertando triângulo, ou controlar ambos ao mesmo tempo segurando R1.

Obviamente, as habilidades de ambos serão necessárias para navegar pelos perigosos cenários que, curiosamente, são quase totalmente desprovidos de inimigos. O único capítulo que tem algo que pode ser chamado disso é o do escritório, e mesmo assim eles são mais obstáculos do que inimigos propriamente ditos.

Para chegar à saída de cada cenário, você vai ter que pular muito (tem um troféu para pular 10 mil vezes e eu faturei ele antes de terminar a campanha, sem nem tentar). Pular, planar, saltar de uma parede para outra e por plataformas que se movem. Tudo no maior jeitão old-school.

Ele também usa o touch do controle do PS4, mas não é nada muito marcante. Tem algumas plataformas que você mesmo tem que mover, com a alavanca direita, e antes de fazer isso, é necessário usar o touch como um mouse para selecioná-las.

Os dois personagens se separam com frequência, às vezes por fases inteiras, às vezes apenas por um pedaço, no qual um deve abrir o caminho para o outro. Quando eles estão separados, a diversão do jogo é absurdamente alta. É daqueles jogos que você pode passar horas jogando e nem perceber o tempo que passou.

Quando você tem que controlar os dois ao mesmo tempo, no entanto, a coisa fica um pouco mais monótona. É difícil passar pelos obstáculos com os dois ao mesmo tempo, uma vez que o pulo deles é bem diferente, o que acaba obrigando o jogador a fazer as coisas duas vezes, uma com cada personagem. Felizmente, depois da primeira vez que eles se encontram – e andam juntos por algumas telas – o jogo acaba focando em um deles de cada vez.

FILOSOFIA

E como se tudo isso não fosse o suficiente para recomendar a compra, os personagens ficam o tempo todo falando com você através de seus pensamentos, que aparecem escritos no cenário. Eles têm personalidades bem diferentes, e tratam você, o jogador, de forma bem diferente.

Klaus, em especial, passa boa parte do jogo questionando sua existência e quanto a vida dele realmente significa algo se ele só faz o que você manda. Isso inclusive gera algumas mudanças no gameplay de algumas fases, como quando ele decide fazer o oposto do que você quiser ou quando ele simplesmente se recusa a ser controlado e sai andando pelo cenário, exigindo que você mova os obstáculos para que ele não morra, no melhor estilo Lemmings.

O teor filosófico é mais leve do que o que vemos em jogos pesadões, como Soma. Mas ele está lá e é de se levar em conta o cuidado que os criadores tiveram em escrever pensamentos dos personagens praticamente todo o tempo do jogo.

K1, KLAUS E O JOGADOR

O que temos aqui é um jogo ao mesmo tempo leve e difícil. Os checkpoints constantes e a quase total ausência de loadings impedem que ele se torne frustrante, mas não me surpreenderia ao descobrir que morri algumas centenas de vezes antes de chegar ao final.

O que não dá para negar é o quanto me diverti ao longo dessa jornada. Ok, considerando quão simples e retrô o jogo é, talvez ele pareça um tanto salgado sendo vendido a 20 dólares. Ainda assim, é diversão de primeira para qualquer um que sente saudade da era dourada dos games, lá nos longínquos anos 90. É um jogo puro, sem flertar com filmes nem nada do tipo. É apenas gamedesign. E faz isso muito bem!

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
klausAno: 2016<br> Gênero: Plataforma 2D<br> Plataforma: PS4<br> Fabricante: La Cosa Entertainment<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: La Cosa Entertainment<br>