Muito considerei antes de decidir se deveria assistir e, consequentemente, resenhar este filme. Pela sinopse, ele parecia interessante, mas também estava com uma sensação de que ele poderia ser um novo Otto. E você sabe, assistir a um pornô gay sem querer é mais do que o suficiente para a vida de qualquer homem heterossexual. Mas vamos lá, tudo pela diversão do delfonauta.
A verdade é que Kaboom está em um meio termo. Tem momentos excelentes, mas também tem momentos em que se aproxima perigosamente de um filme pornô.
Aqui conhecemos Smith, um adolescente que não acredita em rótulos sexuais. Na verdade, ele se diz um gay enrustido, mas pega homens e mulheres. Sua melhor amiga é Stellaaaaaaa (desculpe, não resisti) que, além de ser linda de doer, é lésbica. Em uma festa, Stella pega uma bruxa, e Smith come um docinho batizado, pouco antes de conhecer uma garota e levá-la para cama. O docinho lhe dá alucinações e, enquanto volta para casa, ele vê uma ruiva sendo assassinada por um grupo de caboclos com máscaras de animais. Será que foi fruto de sua imaginação ou ele realmente presenciou um crime?
A partir daí, Stella fica tentando se livrar da bruxa, e Smith tenta desvendar o mistério enquanto faz sexo com literalmente todos os atores do filme. Rola até um ménage do capeta aqui!
O desenvolvimento dos personagens é realmente muito bom, valorizado ainda mais pelas excelentes atuações, especialmente do protagonista Thomas Dekker. Digo isso pois os gays na cultura pop costumam estar sempre em extremos. Peguemos Will & Grace, por exemplo. O Will é totalmente masculino e não tem nenhum trejeito que alguém diria ser homossexual. Já o Jack vai totalmente pelo lado desmunhecado e estabanado.
Embora saiba que existam homossexuais que ajam das duas formas, os gays que eu conheci na vida real estão em um meio termo. Têm um jeito de agir diferente dos homens heterossexuais, mas não saem por aí cantando músicas da Broadway e dando pulinhos. E achei legal pela primeira vez ver em um filme um gay parecido com os que você e eu convivemos no dia a dia.
Infelizmente, o filme foca demais no sexo. Tem uns dois ou três personagens que aparecem apenas para transar com nosso protagonista e depois só retornam no final. Parecia que Kaboom queria se diferenciar da mesmice apelando para o erotismo, mas isso mais detrai da obra do que acrescenta a ela.
No final, no entanto, o negócio é destruído de vez. Todos os personagens que apareceram apenas para uma cena de sexo revelam ter alguma importância para a história. Parece que o roteirista e diretor Gregg Araki não consegue introduzir novos personagens a não ser em uma cena de sexo. Além de isso demonstrar alguma inabilidade do cara na condução de uma história, fica ainda pior.
A partir desse retorno de todo o elenco, o filme se torna uma negócio meio Cara, Cadê Meu Carro?. E embora isso possa até funcionar caso o filme siga por esse caminho desde o início, aqui dá uma quebra geral com a narrativa conforme ela estava sendo construída até então.
De repente o que era um filme que parecia ser até bastante pessoal vira uma salada, envolvendo sociedades secretas, incesto e com todo mundo fazendo parte da conspiração ou sendo uma agente secreto. O problema é que é tudo muito gratuito. É como se de repente um dos personagens do American Pie 4 no final descobrisse ser o messias, criasse asas e saísse voando. Simplesmente não corrobora com o que o filme construiu até então.
Se você percebe quão absurdo isso seria para o filme do cara que faz amor com uma torta, conseguirá ter uma ideia de quão bizarro é o final disso aqui. Só que aqui é muito mais repentino, gratuito e absurdo do que o exemplo do parágrafo anterior.
A melhor forma de descrever Kaboom seria comparando-o a um Donnie Darko, mas trocando o apelo nerd por um apelo GLS. Tem muitas qualidades, muitos defeitos, e é um dos filmes mais bizarros que já assisti. Se a descrição lhe apetece, dê uma chance a ele.