Judas Priest – Angel of Retribution – Edição Especial CD + DVD

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Finalmente, após 15 anos de espera, temos um novo álbum do Judas Priest com sua formação (quase) original. Desde que a volta de Rob Halford foi anunciada há 1 ano e meio, todos se questionaram sobre como seria o novo álbum. Uma volta ao passado sombrio dos anos 70? Um Judas alegre dos anos 80? Uma temível queda pelo Nu Metal como no último álbum, o Demolition?

Em entrevistas com os integrantes durante o ano passado, o que se percebeu foi um certo clima de nostalgia no ar. O Judas não queria se repetir, mas assumia que o novo trabalho traria grandes influências de todas as suas fases.

A banda entrou em estúdio na metade do ano passado e a produção ficou a cargo do veterano produtor e guitarrista, Roy Z, que já trabalhou também com o Bruce Dickinson em sua carreira solo (nos álbums Accident of Birth e Chemical Wedding, onde também tocava guitarra) e com o Helloween (no filhote de cruz credo The Dark Ride), o que deixou os fãs mais tranqüilos e bem curiosos do que viria pela frente. Aos poucos mais detalhes sobre o álbum apareciam e a banda realmente não estava brincando quando disse que traria inspirações do passado.

A primeira coisa que os fãs mais atentos perceberão é exatamente essa volta às raízes do Judas Priest. Ok, as músicas são pesadas (calma, já falarei sobre todas elas) e o direcionamento lembra bem o Painkiller, mas repare que os temas abordados são muito parecidos com os presentes nos álbuns dos anos 70 como o Stained Class e o Hell Bent for Leather. O Judas definitivamente tentou se desligar de sua fase mais comercial nos anos 80, pelo menos no CD, já que nos shows eles continuam tocando as Turbo Lovers da vida.

A embalagem importada é muito bonita, em um formato digipack capa dura, onde o encarte já faz parte da caixinha. O logo da banda também está sensivelmente diferente com o “T” final do Priest na forma da cruz símbolo da banda.

A capa do álbum é um resgate ao passado, particularmente com o famoso desenho do Sad Wings of Destiny que mostrava um anjo no inferno, ilhado em meio à lava. O conceito é muito simples: o anjo mergulhou na lava e ressuscitou como um ser metálico, um messias que, através do Heavy Metal, busca a salvação da humanidade. Essa idéia não é nova e as músicas Painkiller (de 1990 do álbum de mesmo nome) e Exciter (de 1978 do álbum Stained Class), falam sobre o mesmo assunto. A diferença é que agora o mascote ganhou um novo nome: Judas – a metáfora com um dos grandes traidores da história da humanidade que renasce aqui como um salvador.

Judas Rising, a faixa de abertura, conta exatamente a história deste anjo que mergulhou no inferno e agora renasce para uma nova vida, uma grande alegoria com a própria história da banda e suas turbulências. Contextualização à parte, digo sem nenhuma sombra de dúvidas que essa é a melhor música do Judas Priest das últimas duas décadas e olha que eu adoro o álbum Painkiller (Nota do Carlos para matar as saudades: eu não considero essa nem mesmo a melhor do disco). Riff de guitarra matador, vocais potentes de Rob Halford, tudo o que um fã da banda pode querer e com ainda mais “feeling” do que o clássico álbum de 1990. Um ótimo começo.

A segunda faixa, Deal With The Devil, também é bem legal e pesada, lembrando a fase Painkiller da banda e músicas como All Guns Blazing. A letra também é um resumo da história dos 30 anos de carreira e fala um pouco sobre o crescimento e a evolução do Heavy Metal nas mãos do Priest. Uma curiosidade: essa faixa foi escrita em conjunto com o produtor Roy Z, o tal RamireZ do encarte.

Revolution foi a faixa escolhida para ser o primeiro single da banda e pode ser considerada uma das músicas mais estranhas e alternativas da carreira do Judas Priest. Ela é lenta mas não é balada. Sua levada lembra alguma coisa do Hard Rock da banda nos anos 80, porém, sua ambientação não tem nada alegre. Não sei qual critério a banda utilizou para selecionar a faixa para este primeiro single tão esperado, mas Revolution não é uma boa representação desta volta da banda. Ouça e tire suas próprias conclusões.

Em Worth Fighting For temos o significado perfeito da volta do Judas Priest com Rob Halford e todo o clima anos 70 ao qual me referi nos parágrafos acima. Essa é uma “power balada”, como se convencionou chamar, que se encaixa como uma luva no álbum Stained Class, por exemplo, e trata da luta por algo que você ama e acredita. Uma das melhores faixas do novo CD, uma das melhores letras de Heavy Metal e um dos momentos mais marcantes da carreira do Judas Priest sem dúvida nenhuma. Estou louco para ouvir essa música ao vivo, especialmente a cavalgada nas guitarras da metade para frente.

Demonizer nos leva novamente ao Judas Priest pesado de Painkiller em mais uma boa composição, com diversas referências aos antigos clássicos da banda e também às outras bandas de Metal. Leia a letra no encarte e se divirta com as diversas referências aos grandes nomes dos anos 80. Aliás, por falar nisso, todo o álbum traz inúmeras referências aos diversos clássicos do Judas Priest entre eles Ram it Down, Stained Class, Tyrant, Electric Eye, entre outros. Tente achar todas as referências no disco, é uma diversão a mais, mas caso você não consiga encontrá-las, mande um e-mail para o DELFOS que a gente ajuda você. 😉

A faixa Wheels of Fire também segue a linha mais pesada de Demonizer, mas sem o mesmo destaque. É uma daquelas músicas genéricas de meio de CD que provavelmente será esquecida com o tempo e nem deve entrar no setlist dos shows.

Mais um momento soberbo da carreira da banda em mais uma balada, Angel, a faixa 7. Exatamente como em Worth Fighting For, essa seria uma faixa perfeita para o álbum Stained Class e, de certa forma, pode ser considerada a continuação do eterno clássico Beyond The Realms of Death. A composição trata da desilusão com as injustiças da vida e como escapar de um mundo tão corrupto. Mais uma letra maravilhosa e um instrumental muito bem trabalhado, em especial pelas guitarras de Glenn e seu solo maravilhoso. Fazia tempo que eu não ouvia um solo tão legal de uma das duplas de guitarristas mais talentosas da história. Não se preocupe que é só você ouvir uma vez essa faixa que já sairá cantando seus versos. Me pergunto quem é que não se identifica com uma letra dessas?

Hellrider pode ser considerada uma continuação do clássico Hell Patrol do álbum Painkiller. Música pesada, que deve marcar presença nos shows e fala do modo de vida dos bangers com várias metáforas à própria história da banda, mais uma vez.

A faixa Eulogy é a menor do disco com pouco mais de 2 minutos e conta o final (ou recomeço) da história do nosso anjo Judas. Música bem simples, mais uma vez com citações a diversas composições da banda e um instrumental mais calmo, caindo para uma balada (sim, essa já é a terceira, totalizando 30% do álbum em baladas).

Para fechar o álbum normal, temos a épica e “sabbathiana” Lochness que, como você já deve ter imaginado, trata exatamente do monstro do lago Ness na Escócia. A letra é muito legal e mostra uma visão diferente de Nessie (o apelido do bichinho) como uma espécie de vítima da sociedade. Quando mencionei que a música era épica, não foi à toa, pois ela dura mais de 12 minutos, com várias viradas e variações entre momentos pesados e calmos. Boa faixa, mas não consigo deixar de ter a sensação de que a banda enrolou demais no seu instrumental e ela teria 6 minutos tranquilamente. Manja a enrolação no meio de Rime of The Ancient Mariner do Iron Maiden? Pois é, Lochness vai na mesma linha.

Quem comprar a versão importada de Angel of Retribution ganhará (pagando o dobro do preço por isso, é claro) um DVD com bônus bem interessantes. Em primeiro lugar, temos 7 clássicos ao vivo de um show gravado em Barcelona e Valência na Espanha em Junho de 2004. As músicas presentes são: Breaking The Law, Diamonds and Rust, Hellion/Electric Eye, Touch Of Evil, Metal Gods, Hell Bent For Leather e Living After Midnight. Como se pode perceber, são aquelas músicas inesquecíveis de várias fases da banda, tocadas para uma platéia gigantesca e com uma ótima qualidade de som e imagem. O único porém fica para a presença de Rob Halford no palco já que a Rainha do Metal não agita mais como antes (é, Delfonauta, a idade pesa!) e prefere ficar parado no centro do palco enquanto canta. A exceção é Metal Gods onde o careca imita um robô e em Hell Bent For Leather onde entra em sua famosa moto no palco (e canta a música inteirinha sentado nela. Mais frustrante impossível). O show, no entanto, é bem legal e a banda estava afiada. O problema é que as músicas, além de estarem fora de ordem, não foram editadas para formar um só filme. Se você escolher o Play All no menu, vai ter que amargar alguns longos segundos de tela preta entre uma música e outra.

O DVD ainda traz um documentário de 40 min sobre a volta da banda, com entrevistas curiosas e detalhes sobre a gravação do novo CD. Mas não se deixe enganar, amigão. O documentário só totaliza esses 40 minutos porque todas as músicas citadas acima são reprisadas nele. A parte onde a banda mesmo fala, mal deve chegar aos 10 minutos.

Para aqueles que estão querendo importar o CD, o Angel of Retribution europeu e norte-americano vem em dois formatos distintos. Uma vem com um DVD extra e a outra vem em Dual Disc, onde o CD e o DVD se encontram no mesmo disquinho, lembrando mais ou menos como funcionava o discão de vinil antigamente. De um lado temos o CD com as músicas normais e do outro o DVD. Essa versão apresenta alguns “poréms” que devem ser lembrados. A primeira coisa é que o Dual Disc não toca na esmagadora maioria dos aparelhos de CD dos automóveis. Isso porque o disco é um pouco mais grosso que um CD normal e emperra na abertura. Portanto, meu caro leitor, não tente forçar a entrada do seu CD Player para não criar um problemão. Em segundo lugar, o DVD da versão Dual Disc é um pouco diferente também e traz apenas o documentário, sem a possibilidade de assistirmos apenas às musicas.

Comparando os prós e contras, eu acho que vale mais a pena comprar a versão normal com o CD e o DVD separados. É um pouco mais cara (a versão Dual Disc custa, em média, uns 13 dólares, enquanto a outra custa uns 20), mas pelo menos você consegue ouvir no carro e curtir o show sem interrupções.

A versão nacional do Angel of Retribution , para variar, saiu sem nada disso: vem em uma caixinha de CD normal, sem o encarte elaborado e sem o DVD também. Isso sem contar “aquele” preço camarada de mais de R$ 30,00 por um produto totalmente pelado e de qualidade inferior. Se você é fã da banda e tem uma grana disponível, pegue a versão importada. Afinal, a versão Dual Disc com o frete, sai por menos de 50 reais.

Alguns bangers mais fanáticos podem reclamar da presença de 3 baladas em um CD de 10 músicas e eu concordaria se fossem baladas genéricas e bobas, mas este definitivamente não é o caso de Angel of Retribution. Além disso, toda a produção do disco, em especial nos sons das guitarras, está fantástica (marca registrada do nosso amigo Ramirez). Seja na versão importada ou na nacional, não deixe de ouvir as novas músicas do Judas Priest. Esse é uma das melhores voltas do Heavy Metal nos últimos tempos: o novo CD é matador.

Leia mais Judas Priest no DELFOS:

CD British Steel
CD Sad Wings Of Destiny
CD Stained Class
DVD Electric Eye
CD Live Insurrection, do Halford