Jogos Vorazes (Livro)

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Preciso confessar que eu jamais havia ouvido falar de Jogos Vorazes e sua série de livros até a estreia do primeiro filme. Assisti e achei ok, embora um tanto quanto intrigante. Mas nada que rendesse mais atenção. Só depois que assisti ao segundo filme no cinema foi que comecei a me interessar mais pela série. E foi aí que fui atrás dos livros.

Eu sempre tento ler os livros antes de ver o filme – e muitas vezes acabo sequer vendo o longa – porque costumo me decepcionar facilmente com as versões adaptadas ao cinema. Mas, como eu disse, só resolvi ler o livro após assistir dois filmes da série de Jogos Vorazes no cinema. Enfim, o que eu achei do livro?

QUE OS JOGOS VORAZES COMECEM!

O livro é voltado para o público young adult (YA). A história é uma distopia, o que quer dizer que é tudo aquilo que não se imagina como sendo um mundo e uma sociedade ideal. Bom, vamos aos fatos. Jogos Vorazes se passa em um Estados Unidos (ou América do Norte, não fica extremamente claro) destruído após uma série de desastres ambientais que não estão muito longe de ocorrerem para nós. No local onde antes esteve os EUA existe Panem: um país composto por 12 distritos e uma Capital. É na Capital que todo o poder, riqueza e elite estão concentrados, enquanto os distritos são tudo de pior que você possa imaginar.

A Capital também é caracterizada por um governo opressor e totalitarista. E, como todo governo desse tipo, não tolera revoltas e reivindicações. Após uma revolução, Os Jogos Vorazes surgem como uma resposta do governo, lembrando a todos que ela é a detentora do poder e que, portanto, ninguém jamais pode questioná-la.

Mas então, o que são os jogos afinal? Bom, cada distrito deve selecionar por sorteio um menino e uma menina, entre 12 e 18 anos, que deverão participar. Um casal para cada distrito, resultando em um total de 24 participantes. O que eles devem fazer para ganhar? Matar uns aos outros até que só sobre uma pessoa que será, consequentemente, o vencedor. Simples assim.

A protagonista de Jogos Vorazes é Katniss Everdeen, uma menina de seus dezesseis anos moradora do distrito 12. Ela é também a narradora do livro, o que é uma coisa boa e ruim. Boa porque ela, graças ao bom Deus, é uma menina um tanto quanto determinada e fria na medida certa. Estas características fogem da narradora ou protagonista “crepusculesca” meio bobona. Mas Katniss perde sua força como narradora a partir do momento em que ela começa a desenvolver justamente essa característica, lá pelo terço final do livro, que é dividido em três partes:

OS TRIBUTOS

Nesta parte o livro consiste em Katniss explicando a sua situação, assim como a de seu distrito e de Panem em geral. As relações e a intensidade entre os personagem são também apresentados aqui. Mas o ponto alto é a Colheita: evento de seleção dos tributos (nome dado aos participantes dos Jogos) em cada distrito. Depois disso há todo o momento de preparação, entrevistas e aconselhamento que envolvem os Jogos Vorazes, assim como a apresentação dos tributos dos outros distritos entre eles e para o público.

OS JOGOS

Aqui (só a partir da página 147) os jogos finalmente começam. Devo dizer que esperava muito mais ação do que realmente ocorreu. Não quero entrar em muitos detalhes para não estragar a expectativa de quem quiser ler, mas não me leve a mal: toda a situação tem sua tensão sim, afinal, as regras do jogo de ter que matar uns aos outros para sair vitorioso é terrível. Há umas mortes aqui e ali, mas são rápidas e pouco detalhadas. Se você já está acostumado com mortes em filmes, vídeo games e livros, Jogos Vorazes é até bem light.

Uma coisa também que me irritou muito aqui foi que os tributos podem conseguir patrocinadores enquanto estão na arena. E com isso você pode receber suprimentos que vêm em paraquedas e que te ajudam em necessidades específicas que você pode estar tendo. Mas acontece que esse paraquedas vêm umas seis vezes ao longo do jogo inteiro! Eu sei que pode parecer pouco em uma situação de sobrevivência, mas facilita tanto as coisas dando uma sensação de “ah, assim não vale!”. Ainda mais porque, já que a ação não acontece muito, você fica torcendo para os tributos se virarem mais para resolver seus problemas.

Em geral, esta parte consiste em apenas se esconder, dormir em árvores (o que é narrado, sem brincadeira, umas cinco ou seis vezes no livro inteiro), caçar e procurar água. Nada que você já não tenha visto em um programa do Discovery. Enfim, a falta de ação poderia ser mais bem aproveitada, o que me fez tirar um ponto do livro por conta disso.

O VITORIOSO

Pois é, o momento que todos esperamos, o momento que deveria ter uma batalha final extraordinária e que deveria ter muita ação fica só na expectativa mesmo. Esta parte é a pior do livro, porque é a mais Crepúsculo de todas. E só cito Crepúsculo aqui porque muita gente comparou as duas histórias quando se criou todo o hype em volta de Jogos Vorazes e porque há também aqui um maldito triângulo amoroso.

Ok, ok, você pode não achar nada demais nisso e conseguir até ignorar a situação. Mas todas as características que a Katniss tinha no começo do livro ela deixa de lado e passa a ser uma menininha indecisa e mal resolvida. Isso faz com que o livro perca muito de seu valor, e que perca mais um ponto também. A última luta, ou seja, aquela que vai definir o vencedor, deveria ser épica, mas não é. Enfim, desta parte até o fim o foco não é mais a tensão dos Jogos e sim o triângulo amoroso e os sentimentos envolvidos nisto.

EM CHAMAS?

Como eu sou persistente, vou continuar lendo a série por dois motivos apenas. Primeiro porque eu achei o filme de Em Chamas, a continuação de Jogos Vorazes, muito bom e espero que o livro dê uma animada assim como a adaptação para o cinema deu. Segundo porque este é o primeiro livro de distopia que eu leio e devo confessar que o que mais me intrigou em todo o gênero foi mesmo a crítica social.

Jogos Vorazes, além da falta de ação que podia ser muito melhor explorada, é um livro que carrega sim uma crítica social. E isso já me agrada muito porque faz o leitor pensar um pouco. O livro critica um governo autoritário e repressivo em um país que a renda está concentrada nas mãos de poucos – o que, convenhamos, não é uma realidade muito distante do mundo de hoje.

Além disso, outra crítica interessante do livro é sobre os reality shows. Os Jogos são transmitidos ao vivo a todo momento para toda a população de Panem. Isso indica como a Capital, ou os governos de hoje, entenda como quiser, buscam sempre “distrair” a população com conteúdos pensados especificamente para que as pessoas não pensem. Uma vez elas não pensando, maior a chance da Capital não ter que lidar com reivindicações.

Outra questão a se pensar é quanto tempo as pessoas perdem se importando com a vida dos outros, uma vez que a sua própria que, no caso do livro, não é nada boa. Pessoas morrem de fome constantemente nos distritos e a população vive na mais extrema pobreza. E, apesar disso, todos estão preocupados em acompanhar todas as fofocas sobre os tributos.

Enfim, se triângulo amoroso não te incomoda, este é um livro que possui uma critica social até que interessante comparado com outros livros voltados para uma faixa etária mais jovem. Porém, devo dizer que este livro decepciona por não ter tanta violência como se imagina. E o romance também decai muito a qualidade do livro, e justamente por estes motivos tirei dois Alfredos da nota final dele. É um livro que pode ser lido sem compromissos quando você não quer algo totalmente nada, mas que também possui umas características que passarão batido por você.