I Am Bread

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Alguns jogos já conquistam a gente logo de cara. I Am Bread é um desses jogos. Com a proposta de permitir ao jogador ajudar um pãozinho a realizar seu sonho de se tornar uma torrada, é difícil de imaginar algo mais nonsense, e ao mesmo tempo mais simpático.

A realidade é dura, no entanto. Eu peguei I Am Bread para resenhar na maior boa vontade, achando que seria um joguinho bastante simpático e divertido. E ele até é simpático, mas como jogo é uma bagunça.

Sabe aquelas pessoas que gostam de usar a palavra preconceito como pré-conceito? Pois eu tinha um pré-conceito positivo de I Am Bread, já que gostava muito de sua proposta. Após passar o que pareceu ser uma eternidade de horas com ele, no entanto, meu pós-conceito diz que eu jamais deveria ter chegado perto dele.

Sua proposta é simples. Ao longo de sete fases e um epílogo, você controla uma fatia de pão que deve ser conduzida até uma fonte de calor, seja uma torradeira, um fogão ou qualquer outra coisa quente.

Parece simples, não? Só parece. Este é daqueles jogos extremamente difíceis, não por design, como um Dark Souls, mas por incapacidade dos criadores. Acontece que você passa todo seu tempo no jogo brigando com o controle e com a câmera.

Funciona assim: cada um dos quatro botões de ombro do controle fazem uma das pontas do pão segurar na superfície. Para andar para frente, por exemplo, você deve segurar o R2 e o L2 e colocar para frente. O pão vai dar uma cambalhota. Então você segura o R1 e o L1 e coloca para frente para uma nova cambalhota. Se quiser fazer curvas, deve segurar apenas um dos botões e torcer para ser o certo.

Veja bem, a lógica diria que o L2 sempre controlaria a ponta do pão da esquerda superior, o L1 o da esquerda inferior e assim por diante. O problema é que não é assim. Cada um dos botões é designado a uma ponta específica e não muda. Se andar para frente é relativamente simples, ainda que confuso, coisas mais complexas como escalar, derrubar itens para fazer pontes e coisas do tipo são praticamente impossíveis, pois não dá para saber com certeza qual botão opera cada ponta do pão.

Sim, cada ponta tem o nome do botão escrito, mas é tão pequeno que não dá para ler na maior parte do tempo, especialmente quando você está lutando para não cair no chão.

Para completar, a câmera está constantemente jogando contra você, ficando presa em objetos ou simplesmente obstruída por coisas do cenário. E controlar a câmera com a alavanca direita enquanto você já está operando os quatro botões de ombro faz um ser humano parecer com um polvo depois de tocar bateria. Se algum jogo já precisou de câmera fixa, é este aqui.

E é uma pena, pois se a parte jogo do negócio fosse mais caprichada (ou seja, se ele funcionasse direito), ele até tem potencial. Não dá para negar que é um jogo simpático e tanto o visual quanto as poucas músicas esbanjam charme e alegria.

Em geral você precisa chegar na fonte de calor sem andar por lugares sujos, como o chão, que deixam o pão menos apetitoso e podem torná-lo incomível. Para isso, você precisa fazer algumas coisas interessantes. Por exemplo, na primeira missão, você começa em uma mesa e deve sair dela, atravessar a geladeira e a pia para chegar à torradeira. Para sair da mesa, você deve derrubar a cadeira para que ela forme uma plataforma, o que é um puzzle interessante, mas muito difícil de fazer. Outra coisa interessante é que você pode passar seu pãozinho em manteiga, queijo e coisas do tipo para deixá-lo mais gostoso e ganhar mais pontos quando virar torrada.

Porém, os controles são tão ruins que até entrar na torradeira depois que você chegou nela é um suplício. Depois de um bom tempo na primeira fase, consegui chegar na torradeira, mas morri mais de 10 vezes até dar um jeito de entrar nela.

Tem outros modos de jogo além do “história”, com objetivos levemente diferentes. Tem um modo de gravidade zero no qual seu pãozinho usa jetpacks (nonsense FTW!), outro que você deve capturar os queijos e até uma corrida de checkpoints na qual você controla uma rosquinha.

Basicamente, cada uma das formas de jogo é um minigame com algumas poucas fases. E todas elas sofrem do mesmo problema de câmera e de controles.

É uma pena, pois eu realmente esperava que este fosse um joguinho divertido. Apesar de esbanjar charme, fica muito difícil recomendá-lo para qualquer pessoa que curta um bom jogo. Chegou muito perto de ganhar zero, mas acabou faturando um Alfredo pelo carisma. E acho que fui até generoso.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
i-am-breadAno: 2015<br> Gênero: Pesadelo do Corrales<br> Plataforma: PS4 e PC<br> Fabricante: Bossa Studios<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Bossa Studios<br>