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A mistura de comédia com ação é uma das mais prolíficas do cinema. Ninguém precisa pensar muito para lembrar de pelo menos dois ou três filmes fenomenais que seguem esse gênero (particularmente, meus dois preferidos são O Exterminador do Futuro 2 e O Último Grande Herói). Essa é exatamente a proposta da franquia Hora do Rush, que une o tremendão Jackie Chan ao pentelhão Chris Tucker (fala sério, até a voz desse cara irrita – e algum “gênio” ainda teve a idéia de fazê-lo cantar várias vezes no filme).
Nesta terceira parte, tudo começa com uma tentativa de assassinato. Seguindo pistas, nossos amigos acabam indo para Paris para tentar pegar o vilão. O problema é que nenhum dos dois fala francês.
A partir daí, o filme nos brinda com cenas de ação cabulosas (95% delas protagonizadas por Chan) e algumas piadas bem divertidas (95% das engraçadas são protagonizadas por Chan também, enquanto 95% das que dependem de Chris Tucker poderiam ser facilmente excluídas do filme).
É tudo bem pipocão e a franquia Hora do Rush nunca tentou ser mais do que uma diversão para sábado à tarde. Nesse ponto, se sai muito bem, mas tem uma trilogia de problemas bem graves. O primeiro deles, é claro, é Chris Tucker – ele não conseguiria ser maior estereótipo do negro estadunidense nem se tentasse. O cara consegue ser pior nesse aspecto até do que Eddie Murphy. Mas isso não tinha jeito, pois a essa altura do campeonato realmente não rola trocar um dos protagonistas.
O segundo, e o mais facilmente evitável, é a maledeta lição de amizade. Cacilda, o que está acontecendo com o cinemão estadunidense? Virou regra agora fazer os amiguinhos se separarem para que depois percebam que dependem um do outro? Isso já me incomodava deveras nos desenhos, mas agora que está contaminando até os filmes fora do nicho infantil, está realmente passando dos limites. Tanto que uma nova decisão editorial passará a fazer parte do DELFOS a partir de hoje: toda e qualquer obra cinematográfica que tiver um trecho triste no meio para passar a lição de amizade perderá meio Alfredo da sua nota final. Pronto! Vamos ver se isso muda alguma coisa (disse ele, esperançoso)! 😛
Por fim, o último dos problemas principais é que Hora do Rush 3 segue completamente à risca todos os clichês de roteiro hollywoodiano. Tanto que parece ter sido escrito por um moleque inseguro que acabou de fazer um curso de roteiro por correspondência e que nunca fez mais nada na vida. No próximo parágrafo, vou dar alguns exemplos dessas convenções. Não é nenhum spoiler lá muito grave e você já viu todas essas cenas em um zilhão de filmes antes, mas se não quiser saber de nada, é só pular o dito-cujo, beleza?
Ainda aqui? Você foi avisado. Agora vejamos algumas das cenas padrão das quais Hora do Rush 3 se apropria: herói bonzinho tem algum laço afetivo no passado com o vilão – check. Herói bonzinho tenta salvar a vida do vilão e é traído por ele logo em seguida – check. Vilão que se redime no final e se sacrifica para salvar a vida do herói bonzinho – check. Outro vilão é subitamente morto por um tiro nas costas vindo de um salvador misterioso (normalmente alguém que até o momento era um simples coadjuvante cômico) bem na hora que ele tem os heróis bonzinhos na palma da mão – check. A cena que acaba de ser descrita deve ser editada de forma que pareça que o vilão realmente atirou, não que tenha recebido um tiro – check. Eu poderia continuar, mas daí estaria praticamente reescrevendo o roteiro do filme (ou pior, do Hora do Rush 4), mas acredito que você sacou meu ponto.
Esses problemas, contudo, não estragam Hora do Rush 3. É um filme realmente divertido, mas poderia e deveria ser melhor, mesmo sendo uma diversão despretensiosa. E Hollywood já nos brindou muitas vezes com comédias de ação despretensiosas que acabaram se tornando grandes filmes, Arnold Schwarzenegger que o diga. Infelizmente, Hora do Rush 3 está muito aquém de um Último Grande Herói. É divertido e vale o ingresso, mas você dificilmente vai lembrar dele no dia seguinte ou vai querer assisti-lo repetidas vezes quando o DVD sair.