Deve ser uma das primeiras lembranças da minha vida. Um filme cheio de bichos assustadores estréia no cinema. Eu, uma criança na tenra idade de quatro anos, morro de medo de um monstro imenso, feito de pedra, ao vê-lo na propaganda de TV. Meu pai, ao meu lado, tenta me ensinar para não julgar pela aparência e que aquele monstrengo horrível era, na verdade, bonzinho. Dizendo que já tinha assistido ao filme (até hoje não sei se ele realmente havia assistido), insistia para que eu fosse com ele ao cinema e garantia que eu ia gostar. Depois de muita resistência, concordei e, meio relutante, fomos ao cinema assistir ao filme dos monstros.
Logo no início, percebi que o Homem de Pedra era realmente bonzinho mas, infelizmente, ele e as outras criaturas do mundo chamado Fantasia estavam em perigo, pois uma força chamada Nada estava devorando tudo. Paralelamente, a Imperatriz Criança estava doente e, se ela viesse a falecer, Fantasia não teria mais chances de sobreviver. Havia apenas uma esperança: um jovem guerreiro chamado Atreyu (Noah Hathaway) tem que encontrar uma cura para a imperatriz, conseqüentemente salvando o mundo da fantasia.
Atreyu não está sozinho em sua jornada. Além de seu cavalo, também tem uma companhia muito especial. Um menino chamado Bastian (Barret Oliver), que está lendo as aventuras de Atreyu no porão de sua escola, vai acompanhá-lo até o fim e terá um importante papel no destino de Fantasia.
No caminho, o herói vai conhecer muitas criaturas fantásticas que vão ajudá-lo e atrapalhá-lo. A mais fascinante delas é, sem dúvida, o dragão da sorte Falkor (veja foto abaixo). Durante toda minha infância, eu me imaginava voando com Falkor pelas terras de Fantasia, encontrando todas as criaturas mágicas do filme, exatamente como Bastian, quando tem a chance de fazer um pedido.
E não é só na história que se concentram as qualidades de História Sem Fim: os efeitos especiais também são fantásticos. Falkor e o Homem de Pedra se movimentam de forma tão real que dão um banho em muitos personagens feitos em computação gráfica hoje, mais de 20 anos depois de seu lançamento. Tudo isso ainda é embalado por uma trilha sonora fantástica. A música tema do Falkor, em especial, é lindíssima.
Baseado em um livro de Michael Ende, a influência de História Sem Fim é imensa e pode ser percebida ainda hoje, sobretudo em discos de Heavy Metal. O Stratovarius, por exemplo, fez uma música baseada no filme (Fantasia, do álbum Elements Pt. 1), onde é possível até ouvirmos a voz da Imperatriz Criança dizendo “Fantasia can rise in you”. E a influência não pára aí, outras bandas também foram claramente influenciadas pela “história que nunca termina”, como o Rhapsody e o Avantasia, apenas para citar os dois mais óbvios.
Apesar de ser um filme para crianças, História Sem Fim é tão bonito e emocionante, que merece ser assistido por qualquer pessoa que não teve o prazer de assistí-lo em sua infância. E eu só tenho a agradecer ao meu pai, por ter insistido em me levar a um filme que eu não queria assistir e que marcaria, positivamente, a minha vida.