Herbert de Perto

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Responda rápido: o que separa um artista de um ícone? Infelizmente, a resposta é: coisas ruins. O sujeito pode morrer cedo, de forma trágica ou ter sobrevivido a provações pelas quais ninguém quer passar, mas o fato é que, para ser um ícone, você não pode ter uma vida dos sonhos. Pelo menos não por muito tempo.

Quer exemplos? Ora, pense em todo o clube dos 27 (músicos de considerável fama e talento que morreram aos 27 anos): Jimi Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin e, claro, o único da turminha sem nome começado com J, Kurt Cobain. Sejam ícones da guitarra, da poesia musical ou da depressão, é inegável que todos são personalidades conhecidas até pela titia Gertrudes e talvez não fosse assim se não tivessem encontrado o capiroto tão cedo. Ainda podemos citar vários outros, como Freddie Mercury ou Ozzy Osbourne (a tragédia desse foi ter casado com a Sharon) e, saindo da música, podemos pensar em Einstein e Van Gogh. Ou vai dizer que a primeira coisa de ambos que você pensa não são a língua para fora e a orelha cortada?

Fechemos nosso naipe de opções e falemos de pessoas públicas brasileiras que se tornaram ícones após uma tragédia. A turminha do Metal deve lembrar do Fates Prophecy, banda que cresceu muito após o bater de botas de seu cantor (se bem que há tempos não ouço falar deles), mas também temos o caso do baterista do Rappa e, provavelmente o mais famoso, Herbert Vianna, vocalista e guitarrista dos Paralamas do Sucesso.

E é inegável: não interessa o quanto goste da banda ou queira conhecer melhor, o ponto deste documentário que você mais quer ver é a parte que fala do acidente do ultraleve, certo? Vamos, admita. Vai ficar só entre você, eu e os outros 100 mil delfonautas.

Pois, previsivelmente, a tragédia da família Vianna é o segundo ponto de virada do longa. Claro que o fantasma do acidente permeia toda a projeção – e já é citado inclusive na primeira cena. De qualquer forma, antes de o assunto ser abordado em profundidade, veremos detalhes da infância do cantor, formação da banda, entrevista com seus conhecidos e, claro, trechos de músicas.

E sabe de uma coisa: eu não sabia como Paralamas era legal. Claro, já conhecia todas elas, mas as que me lembrava eram as da época em que eu assistia MTV, na segunda metade dos anos 90, quando a programação da emissora era mais ou menos assim: clipe novo dos Paralamas, clipe novo do Bon Jovi, palhaçadas do Cazé, programa de clássicos com clipes antigos do Paralamas e do Bon Jovi, e três clipes seguidos dos Raimundos. E tanta superexposição não faz bem para ninguém.

Assim, as músicas antigas – e mais legais – tipo Óculos, eu provavelmente não ouvia desde que era uma criança bochechuda que nem sabia como um paralama podia ser do sucesso. E foi legal ouvi-las novamente hoje, que sou um adulto bochechudo, mas ainda não tenho ideia de como um paralama se torna bem sucedido.

Aliás, todo mundo sempre falava de como João Barone era um dos melhores bateristas do Rock Brasileiro, mas eu só reparei mesmo quão bom o cara é nesse filme. E Nossa Senhora de Santiago de Compostela, o cara está no nível de um Cozy Powell. E olha que o Cozy usa aquelas baterias que se chover o cara nem se molha de tão grande, enquanto Barone faz tudo isso com umas duas panelinhas e uns hashis. O cara é bão mesmo. Já ouviu falar em exagerar para efeitos cômicos?

Infelizmente, o filme peca pela velha fórmula Faustão. Sabe aquele esquema: pegue uma celebridade, mostre vídeos de pessoas que ela gosta falando dela e insista nisso até ela chorar? Pois praticamente todas as cenas gravadas especificamente para o documentário fazem exatamente isso com Herbert. Resultado? Ele fica o tempo todo com dificuldade de falar e claramente segurando o choro. Assim, eu pergunto: não seria mais interessante deixar o cara falar sobre a banda ao invés de colocá-lo para assistir imagens do passado e dando closes nos marejados olhos dele à espera de lágrimas? Santo sadismo, Roberto Berliner e Pedro Bronz.

Pior que a culpa nem é tanto dos caras. Afinal, eles só estão usando uma fórmula comprovada e de grande sucesso na TV brasileira já há algumas décadas. É incrível inclusive que ainda existam celebridades que não choraram no Faustão. Aparentemente, o povo do nosso país gosta tando de lágrimas de famosos quanto a gente de explosões. Mas ainda assim, a meu ver, se render a essa fórmula é se render ao lugar comum e condenar seu próprio filme a ser mais um nada do ano.

Portanto, se você é fã dos Paralamas, do Herbert ou de filmes sobre música em geral, provavelmente vai encontrar alguma coisa de interessante aqui. Mas saiba que, até chegar nelas (e durante, e depois), terá que agüentar litros e litros de lágrimas. Da tela e dos seus companheiros de sala.

Curiosidades:

– Antes da sessão, passou o trailer de A Caixa. Muito me surpreendeu eles terem usado o mesmo tema de Jogos Mortais. Nunca vi dois filmes sem nada a ver um com o outro usarem a mesma música tema. Por que será que fizeram isso?

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