Headlander

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Você é uma cabeça. Não você, leitor delfonauta. Você tem uma cabeça. No caso de Headlander, você é uma cabeça. Seu poder? Arrancar a cabeça de outros corpos e assumir o controle deles. Não é tão violento quanto parece. Os corpos são robôs, e o jogo faz questão de explicar que as consciências das cabeças são transferidas, então você não está matando ninguém quando decapita os outros personagens.

Este é o mote de Headlander. Como uma pequena e simpática cabeça voadora, você precisa assumir o controle de vários corpos diferentes para vencer os desafios e visitar as muitas áreas disponíveis.

Cada corpo tem habilidades específicas. Os civis dançam. Soldados de cores diversas têm tiros diferentes e podem acessar áreas trancadas. Tem até um robozinho que, ao ser possuído, preenche seu mapa mostrando áreas que você ainda não acessou.

Não é apenas a corpos que você pode acoplar, mas também a máquinas, o que rende apetitosos upgrades e a possibilidade de desativar defesas e campos de força.

UM JOGO CABEÇA

Temos aqui um Metroidvania, mas ao contrário do que se espera do gênero, aqui rola bem menos backtracking. O jogo acaba sendo mais direto e sempre incentivando você a progredir, apenas raramente voltar a áreas previamente visitadas é uma boa ideia. Há também sidemissions. São poucas e em geral simples, mas é basicamente por causa delas que você vai voltar para áreas pelas quais já passou.

A estética é bacana, emulando clássicos da ficção científica dos anos 70, inclusive nas divertidas musiquinhas. O principal problema é mesmo a ação. Se jogos como Guacamelee tornam a arte de vencer inimigos em algo extremamente prazeroso, aqui o foco é mesmo na exploração.

No combate, você usa a alavanca direita para mirar e o gatilho para atirar, controles bastante comuns no gênero, mas há algo errado com a mira, que torna bem mais difícil e menos divertido se envolver em tiroteios. Tem até a possibilidade de se esconder em coberturas, mas é muito mais prático simplesmente correr até o inimigo e apertar triângulo, o que, após um upgrade, faz com que você arranque a cabeça do desafeto e assuma seu corpo.

Em grande parte do jogo, você vai procurar por corpos de cores específicas para conseguir passar pelas portas que bloqueiam seu objetivo. Em outras, as melhores, você vai navegar com sua cabecinha por corredores estreitos e cheios de armadilhas, fazendo bom uso do seu boost e do seu campo de força.

REFERÊNCIAS NERDS

Se tem algo que a Double Fine sempre fez bem em seus jogos é o carisma. Headlander até tenta, mas carece de criatividade. As portas, por exemplo, têm personalidades e falam algo sempre que você se aproxima. Simplesmente impossível não se lembrar de O Guia do Mochileiro das Galáxias.

Mas não é só. Os turrets também têm uma personalidade manhosa que remete diretamente a Portal, e até a música dos créditos finais, cantada em uma voz engraçadinha, é totalmente chupinhada da já clássica Still Alive.

Isso sem falar que a própria proposta, de cada corpo ter uma jogabilidade levemente diferente, faz o jogo parecer bastante com o antigo Kid Chameleon.

Convenhamos, por mais que a gente goste da Double Fine, seus jogos em geral se sustentam mais pelo carisma do que pelo fato de serem grandes jogos. Headlander é apenas simpático, e não é um jogo bom o suficiente para realmente valer a pena.

Ele tem boas ideias e momentos criativos, mas em geral essas partes não se traduzem em partes divertidas. Tem uma hora que você participa de um jogo influenciado por xadrez. A ideia é boa. É criativo. É engraçado que os tiros dos cavalos saiam da arma formando um L. Porém, na parte jogo da coisa mesmo, acaba sendo algo chatinho e estendido demais.

Esta talvez seja a melhor forma de resumir Headlander. Ele tem boas ideias, mas nunca as desenvolve especialmente bem. Assim, embora traga algumas horas de diversão, ele acaba se estendendo muito no final, culminando em uma batalha final longa e sem checkpoints que é o tipo de coisa que faz você exclamar um “até que enfim” após vencê-la, e não um “isso foi sensacional”.

É possível se divertir com Headlander, mas em nenhum momento ele realmente empolga. Trata-se de um perfeito jogo nada, que tem alguns predicados e boas ideias, além do charme costumeiro da Double Fine, mas não consegue transformar essas qualidades em um jogaço.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
headlanderAno: 26 de julho de 2016<br> Gênero: Metroidvania<br> Plataforma: PS4 e PC<br> Fabricante: Double Fine<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Adult Swim<br>