E finalmente, para a tristeza e alegria simultânea de milhões de fãs, a série cinematográfica de Harry Potter chega ao fim. Foram 10 anos, oito filmes de qualidade variável e trilhões de dólares arrecadados, tornando-a a franquia mais lucrativa da história, passando até mesmo a somatória dos 749 filmes do James Bond.
AS RELÍQUIAS DA MORTE 2 – A MISSÃO
A segunda parte de As Relíquias da Morte começa direto de onde o anterior parou, sem sequer um “previously on Harry Potter”. Assim, Haroldo Cerâmica e sua turminha do barulho estão caçando as horcruxes restantes, Snape é diretor de Hogwarts e boa parte da turminha do bem está morta ou desistiu de lutar. É um cenário triste e sem esperanças, mas o poder do mal não é páreo para o poder do amor! Ou dos milhões de dólares!
Eu achei a parte 1 maior legal, mas essa segunda parte começa lenta e demora para engrenar. Daí engrena e fica emocionante para depois se perder novamente. É uma pena, mas este segue a tradição da franquia de “é até legal, mas podia ser tão melhor”. E admito, depois de resenhar cinco dos sete filmes anteriores, está difícil falar coisas inéditas por aqui. Então me permita analisar este filme como uma obra isolada, e finja que não leu estas minhas mesmas opiniões antes, ok?
E o principal problema deste último Haroldo Cerâmica é um que já foi citado outras vezes nas minhas resenhas anteriores. Temos um monte de personagens legais, mas a imensa maioria deles (ou seja, todos com exceção do trio de protagonistas) mal aparece e sequer é desenvolvido.
Imagino que este problema não exista nos livros. Afinal, a quantidade de páginas de cada iteração da série é bem grande, então tem espaço mais do que suficiente para desenvolver todo mundo. Mas os filmes sofrem do mesmo mal de X-Men: O Confronto Final. É muita gente importante pra pouco filme!
Personagens vitais em alguns dos filmes anteriores, como a família Malfoy ou os irmãos Weasley são reduzidos a pontas. O próprio Hagrid aparece como prisioneiro dos malvadões só para dizer que está lá, mas sua presença não faz nenhuma diferença na história e depois some tão repentinamente quanto apareceu.
Talvez fosse o caso de selecionar os personagens, e sequer desenvolver coadjuvantes que não seriam aproveitados mais para frente. A Luna, por exemplo, poderia ter todas suas cenas importantes mescladas às de outro personagem, e a série ganharia com isso. Ou alguém discorda de mim quando eu digo que o Nick Quase-Sem-Cabeça foi um desperdício de um membro do Monty Python e daria na mesma se sequer tivesse aparecido na série?
GRANDE COMOÇÃO
O desapego aos personagens é tão grande que eles morrem aos litros durante este filme. Até aí tudo bem, é a batalha final, e baixas importantes são esperadas. Mas vários deles, inclusive alguns que foram importantes três ou quatro longas atrás, sequer morrem na tela. Seus presuntos são mostrados de relance ao lado de dezenas de outros após a cena de batalha. Assim, todo o drama e tristeza que essas mortes trariam são completamente desperdiçados. Ou pelo menos assim eu pensava.
Isso porque essa cena foi acompanhada de grande comoção entre as garotas presentes. Eu não vejo tanta mulher chorando desde que uma onda arrancou meu calção na praia. E elas estavam chorando alto, com soluços e tudo. Tão alto que tinha até gente soltando uns “SHHH”.
Mas aí é que está: essas garotas que estavam chorando provavelmente cresceram lendo os livros e sabiam exatamente quem era cada um dos mortos. Porém, para alguém que só acompanhou os filmes, chegava a ser ridículo vê-las chorando por personagens tão sem importância. Um deles, por exemplo, não deve ter tido mais de cinco minutos de tela desde Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban e o longa sequer mostra como ele morreu. Outros tantos – a maioria na verdade – não apareciam há anos.
E não é só a turminha do bem que morre de forma decepcionante. Até mesmo a luta final contra o Voldemort, o momento pelo qual esperávamos há dez anos e oito filmes, é rápida e pouco desenvolvida. Pense na luta contra o Kraken em Fúria de Titãs e terá uma boa ideia do que esperar. E o mesmo vale para os outros vilões importantes, como a Bellatrix Lestrange.
Aliás, alguém me explica por que diabos o Voldemort virou um monstro sem nariz? A série dá a entender que ele era um ser humano normal, Tom Riddle, um aluno de Hogwarts, mas em nenhum momento explica sua forma monstruosa. Ou, se explica, eu já esqueci. =)
Tem vários momentos em que o longa é engraçado, mas também tem umas horas de humor não intencional e vergonha alheia. Por exemplo, tem uma cena que acontece 19 anos depois da história do filme, mas para mostrar os personagens adultos, simplesmente pegaram os atores adolescentes que conhecemos e tacaram uns ternos e vestidos sociais neles. Fala sério, né?
É muita cara de pau pegar um garoto de 17 anos, colocar um terno nele e dizer que agora ele tem 40. E isso 26 anos depois de De Volta Para o Futuro ter mostrado que, com um pouco de maquiagem, em 1985 já era possível envelhecer um ator de forma perfeita – imagina hoje, que temos muito mais tecnologia. Como diabos um blockbuster com tanto cuidado no visual foi deixar uma falha desse tamanho passar?
Apesar dos problemas, no entanto, não temos aqui um filme realmente ruim ou chato. É uma boa diversão, mas dói pensar em quanto mais essa história e esses personagens poderiam render. Talvez fosse o caso de transformar os sete livros em 28 filmes para poder contar a história com o cuidado e desenvolvimento que ela merece. Ou então simplesmente contratar um roteirista que fosse melhor em fazer adaptações e não tivesse dó de fazer cortes necessários.
É comum as pessoas falarem que o livro é melhor que o filme e, no caso da série Harry Potter, eu responderia que não tenho a menor dúvida disso. Afinal, a série em geral dá mostras de quão legal poderia ser, embora nunca realize esse potencial, com a possível exceção dos dois primeiros longas. Acredito que nos livros isso não deve ser um problema, mas os filmes, agora que podemos analisá-los como um todo, deixam bastante a dever.
Agora eu quero assistir a todos os filmes da série um atrás do outro para ver se mudo de opinião tendo a história mais fresca na cabeça. Talvez eu sinta mais a morte de um personagem se não fizer sete anos desde a última vez que vi a cara dele. =D
CURIOSIDADES:
– Como sempre, para utilização das imagens, a Warner traz condições. Assim como no filme anterior, dessa vez elas são aceitáveis, então aí vai. Sinto decepcionar aqueles que acharam que eu era o fotógrafo e o photoshopador da imagem do pôster aí do lado, mas ela foi feita pela Warner. Assim, os avisos abaixo se referem apenas à imagem do pôster. O texto que você acabou de ler é copyright meu, mesmo. ^^
Créditos das imagens:
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QUER MAIS HARRY POTTER? ENTÃO APROVEITA!
– Confira abaixo as resenhas de quase todos os filmes e vários outros textos relacionados. Aproveite para encontrar contradições e repetições nas minhas resenhas. =D
– Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban: o terceiro filme.
– Harry Potter and the Prisoner of Azkaban: o jogo do terceiro filme.
– Harry Potter e o Cálice de Fogo: o quarto filme.
– Harry Potter e o Cálice de Fogo: o quarto livro.
– Harry Potter e o Cálice de Fogo: livro X filme: Fight!
– Harry Potter e a Ordem da Fênix: o quinto filme.
– Harry Potter e o Enigma do Príncipe: o sexto filme.
– Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1: o sétimo filme.
– Harry Potter e as Relíquias da Morte: o sétimo e último livro.