Quando eu era mais nova, costumava descobrir muitas bandas legais pela MTV. Se via um clipe legal, já tratava de anotar o nome e procurar saber mais, e dessa forma eu encontrei bandas que adoro até hoje. Ultimamente, estava mais improvável, já que a programação deles anda bem longe do meu gosto. Mas uns meses atrás, acabou acontecendo de novo, quando eu me deparei com o clipe de Falling, de uma banda chamada Haim.
A música poderia ter vindo dos anos 80, se não fosse pela aparência inegavelmente hipster das três moças de cabelo comprido que dançam por florestas e montanhas no clipe. À primeira vista, pareceu mais uma daquelas bandas indie pretensiosas que parecem se importar mais com a estética do que com a música. Mas as batidas fortes e sintetizadas, os vocais harmonizados e o clima otimista da música conseguiram me cativar. Acabei vendo o clipe até o fim e tive de admitir que curti.
Dada a minha predileção por bandas formadas por meninas, eu decidi dar uma chance a elas.
As três moças são as irmãs Este, Alana e Danielle Haim que, reza a lenda, tocam desde que têm coordenação motora o suficiente para tal. Filhas de músicos, duas delas já fizeram parte de uma banda teen que teve até uma faixa na trilha sonora do filme Quatro Amigas e um Jeans Viajante. Danielle foi das bandas de apoio de Julian Casablancas e Cee Lo Green. Mais recentemente, elas resolveram criar o Haim e voltar ao clima de family business.
Em 2012, elas gravaram o EP Forever, que rapidamente ganhou atenção, e rendeu aparições em programas de TV, premiações e grandes festivais de verão dos EUA, como o Glastonbury. Elas mostravam tanto potencial que em todo lugar que iam, eram interrogadas sobre o lançamento de um álbum propriamente dito. Este aguardado primeiro álbum é justamente o Days Are Gone.
A impressão que dá é que as moças realmente cresceram tocando. Elas mostram muita maturidade e experiência musical, mas com uma naturalidade e descontração que imprime um clima totalmente jovial e “ensolarado” ao disco. E com este mesmo equilíbrio elas conseguem basear a sonoridade em influências de Rock e SynthPop oitentistas, e ainda fazê-la soar totalmente contemporânea. É basicamente o que daria se você misturasse Fleetwood Mac com a Lorde. Parece que não, mas dá certo.
A parte mais eletrônica não ofusca o instrumental, que é simples e eficiente, com destaque para o baixo, que provê o ritmo funkeado que cai muito bem e deixa o álbum todo mais dançante e “assobiável”. Os produtores Ariel Rechtshaid, que já trabalhou com Vampire Weekend, e James Ford, que tem Arctic Monkeys no currículo, também mixaram tudo impecavelmente.
As letras não têm nada de muito especial, mas funcionam muito bem nas melodias, especialmente graças ao estilo R&B da vocalista Danielle, que se contém e se solta na hora certa. Elas também não economizam em harmonias e arranjos vocais fofos, e isso dá ainda mais charme para as músicas. A baladinha Go Slow é o ponto que mais ilustra isso.
Outros destaques foram as grudentinhas Forever e The Wire (duvido você não estale os dedos ao ouvir a última); aquela guitarrinha meio Surf Rock de Honey & I, o clima anos 80 da faixa título, e o refrão contagiante de Don’t Save Me. My Song 5 é mais experimental e pega emprestado até do Hip-Hop, mas surpreendentemente, também dá certo, graças ao solo de guitarra que ajuda a balancear. Ela e Let Me Go (que tocou no remake de Carrie) são as que têm um som mais enérgico que elas deviam explorar com mais frequência. Algumas faixas são realmente esquecíveis, mas as mais legais compensam e o saldo final é positivo.
Além de muito divertido e cheio de personalidade, o Days Are Gone mostra que o Indie Rock pode pender para o Pop sem necessariamente soar básico e descartável. O Haim tem tudo para ser uma das bandas mais interessantes que saíram do lado hipster da força desde que o MGMT abriu caminho. Já estou no aguardo pelos próximos trabalhos.